sábado, 11 de maio de 2013

Pérolas literárias (35)


A ti que me ouves

Alceu de Freitas Wamosy


Como o dia ao findar, o decesso(1) não trunca
O poder do ideal e a corrente da vida...
Nem ancinho a morder, nem mão em garra adunca...
A morte? Apenas sonho embalando a partida...

Se o caminho em que vais é trilha que se junca
De farpas, lama e fel, sem clareira ou saída,
Sê compaixão somente e não sentirás nunca
A sombra da tristeza ou a esperança perdida.

Se a agonia envenena o pranto de teus olhos,
Qual rocio letal no lodo que te banha,
Não te fira a visão de tremedais(2) e abrolhos(3).

O amor é como o sol ante o charco profundo...
Amando, entenderás que a dor mais rude e estranha
É sempre a Lei de Deus que se move no mundo...


(1) Decesso: morte, óbito, passamento.
(2) Tremedais: plural de tremedal - pântano; (fig.) degradação moral; torpeza.
(3) Abrolhos: (fig) dificuldades, penas, desgostos, mágoas, mortificações.


Alceu de Freitas Wamosy nasceu em Uruguaiana-RS em 14/2/1895, e desencarnou em Livramento, no mesmo Estado, em 13/9/1923. Poeta e jornalista, trabalhou ativamente na imprensa, principalmente depois que fixou residência em Livramento, tendo sido diretor de O Republicano. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.


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