JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Havia sessenta anos
que eu estivera no Campo São João Batista, no Rio de Janeiro, para ali beijar
minha meiga Carola e abraçar os amigos e parentes queridos. Mas se também
fosses ao local, amigo leitor, só encontrarias farelos de ossos, pois, no
local, apenas trocáramos a veste física pela do espírito, bem mais formosa e
higiênica...
A quilômetros dali,
do seu lar, pouco abaixo da bucólica igreja da Penha, um adolescente, dia a
dia, ouvia tocar, no rádio, um cantor excepcional. Naquela ocasião, já havia TV
em preto e branco, mas esse era um luxo desfrutado por poucas pessoas.
Estávamos, portanto, em 1968, e Joteli completara dezesseis verões (homem não
faz primavera, e, sim, verão; pois é do verão que surge o varão).
Aquele, porém, seria
um dia especial, pois o grande comunicador Sílvio Santos apresentaria, na TV
Record, um programa sobre o artista citado. E Joteli descera o morro para
assisti-lo, da janela da casa de rua abaixo.
Com a complacência da
família burguesa, o filho de proletários viu e ouviu, na TV, o então jovem e já
excelente apresentador, por longo tempo, defender o cantor das acusações
levianas a este atribuídas. Entre outras coisas, dizia Sílvio que aquele rapaz,
presente e calado, estava sendo injustamente acusado de ser perversor da
juventude, pois usava colares, roupas coloridas e era cabeludo.
E ainda mais:
acusavam-no de, por suas atitudes antissociais e afeminadas, ser mau exemplo
para a família e nefasta liderança para a juventude... Mas, segundo o
expositor, isso não era verdade.
O acusado não passava
de um jovem sem jeito para ser líder; triste no olhar, com seu modo tímido e
simples, apenas queria cantar suaves músicas românticas e estar na moda. Não
estava ali, portanto, para reivindicar nada; desejava apenas cantar e cativar a
todos, com sua bela voz.
Além disso, sonhava
casar-se e constituir uma família exemplar.
Diziam que plagiava
João Gilberto — continuou —, mas quem não imitava o João ou qualquer outro
grande cantor? O próprio Paulo Sérgio, que começara a cantar com voz semelhante
à do acusado, já assumira um estilo próprio, como ocorrera com o inocente moço.
O apresentador se
retira, ao final de sua eloquente defesa, ante um cabisbaixo e mudo cabeludo,
apoiado por todos os presentes — jurados e plateia —, que o inocentaram
unanimemente.
No dia seguinte, a
imprensa repercutiria favoravelmente o programa. Pouco tempo depois, o título
de rei da música popular brasileira foi dado, definitivamente, a Roberto
Carlos.
É isso mesmo, caro
leitor, no Brasil já houve tempo em que usar cabelo comprido era considerado
coisa de efeminado. Essa moda, porém, viera da Inglaterra, com os Beatles e
hippies. Roberto apenas usava uma estratégia de marketing para ganhar
popularidade.
O tempo e os hippies
passaram. Outras modas surgiram, como a do brinco numa das orelhas do jovem,
depois nas duas, a tatuagem e outras atitudes como a do ficar.
Na minha época,
quando um homem olhava para outro, insistentemente, na rua, era briga certa.
Casal namorando em praça pública, nem pensar. Atualmente, tornou-se comum ver,
beijando-se na boca, em qualquer lugar, dois jovens... do mesmo sexo.
No meu tempo, era
excitante ler, nos romances, alusões a certas partes do corpo feminino, como
“uns braços”. Hoje, belas moças desfilam de minissaia sem que alguns rapazes
lhes deem a mínima...
A jovem de
antigamente corava de vergonha ao lhe ser pedido um beijo. Casamento, só com o
consentimento paterno. Com o advento da TV, as novelas atingiam seu clímax
quando o casal (homem e mulher), finalmente, se beijava.
Atualmente, enquanto
o drama se desenrola em relação à paternidade de uma criança, por exemplo, os
personagens principais e secundários já foram para a cama inúmeras vezes. E,
após o relacionamento sexual, é comum iniciar-se um bate-boca com xingamentos e
até mesmo agressões.
Acabou o romantismo.
Já não se sabe quem vai se dar bem, no fim da história, se é o vilão ou o “bom
moço”, a megera ou a mocinha que a persegue com seu ódio implacável e desejo de
vingança.
Por enquanto, ainda
não há novela em que, no final, o “casal” viva feliz para sempre: ela com ela,
ele com ele. Por enquanto...
Num programa
televisivo sobre sexo, ontem, a proposta era de um casal ir chupando, cada um,
a ponta de um macarrão, até que, ao final, suas bocas se encontrassem, num
ardente beijo. De repente, sob olhares curiosos da apresentadora, convidados e
plateia, apresentaram-se para a chupeta dois jovens... do sexo masculino.
Virei de costas e
retirei-me.
Estou agora com o
firme propósito de continuar a escrever romances destinados, exclusivamente, à
vida no plano espiritual.
Pelo menos aqui, cada
um assume o que é... Mas no corpo certo...
Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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