sábado, 9 de novembro de 2013

O macaco é quem está certo

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amigo leitor, estive fazendo uma ligeira pesquisa antes de publicar esta crônica e descobri algo interessante a respeito da inteligência dos animais, insetos inclusive. Por exemplo, a barata ignora que é uma barata, pois é tonta que nem um robozinho programado.
Há insetos, porém, que parece nem mesmo estarem programados pelo instinto de sobrevivência, por vezes, como é o caso da lagarta. Se você tenta matá-la, nem se mexe do lugar onde está. Experimenta... Só não toque nela, senão pode se queimar.
Já a barata, não. Tente matá-la, para ver o que acontece. Ela é capaz de voar e pousar no seu nariz.
Mas ela não sabe que é barata, só cuida de comer o que puder, fazer sexo, excrementos e fugir das chineladas humanas ou dos ataques dos galináceos, que, antes de serem comidos por nós, adoram engolir esses gosmentos insetos...
Avançando um pouco mais, no quesito inteligência, estão os animais vertebrados e mamíferos em especial. O cavalo acha que é cavalo, o gato sabe que é gato, o papagaio pensa que é... ser humano. O cachorro tem certeza disso.
Atualmente, sabe-se que os animais sentem, como nós, a raiva, a tristeza, a alegria, o dó...
Outro dia, um cão conversava com um gato sob uma macieira plantada no pomar de sua casa. Tornaram-se amigos, após longa convivência doméstica, que acabou com a milenar rixa existente entre eles.
Dizia o descendente lupino ao felino:         
– O gênero humano é uma besta. Há pouco tempo, acreditava ser um tipo à parte, na criação divina. Só agora começou a perceber que nossa diferença é apenas de grau das faculdades mentais e não de tipo.
Ao que acrescentou o gato:
– Podemos até usar as próprias máquinas dos humanos para uma comparação entre nós e eles, como, por exemplo, o carrinho de bebê, o velocípede, a bicicleta, o fusquinha, o porche e o carro de fórmula um...
– Como assim, meu felino amigo?
– O carro de bebê, o velocípede e a bicicleta somos nós: papagaios, gatos, cachorros... As demais máquinas são eles... No fim, tudo é máquina...
– Ah, mas aí é que você se engana, gato. Qual humano é mais potente que o falcão, a águia ou mesmo o corvo? Qual deles é mais poderoso que o elefante ou o leão? Que homem possui a liberdade de um simples pardalzinho? Qual deles suplanta, mesmo, em beleza e graça, um mero cuitelinho?
– É verdade, lupino poeta. E ainda acrescento: qual raça humana é capaz de se camuflar como um camaleão, de sentir o cheiro das substâncias mais sutis, como vocês, os cães, de perceber a presa a quilômetros de distância, como os tubarões, de ver um minúsculo peixe, na superfície de um lago, do alto de dois mil metros, como o albatroz?
Passava pelo local uma criança de nove anos, poliglota, que falava o animalês, e contestou gato e cão com o seguinte argumento:
– Ora, meus caros, tudo isso não passa de instinto natural...
Um chimpanzé, até então escondido entre os galhos da macieira, após expulsar dali uma víbora, mostrou a cara e contestou o guri:
– Meu garoto, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar a vossa vã filosofia... Ensinai-me as coisas práticas que aprendestes, desde o vosso nascimento, e provar-vos-ei que sou capaz de saber tanto quanto vós... Só não me venhais com lero-lero...
– Você está é com inveja de nós – respondeu-lhe o piá.
O macaco escondeu seu rosto entre as mãos, mas não se deu por vencido:
– Sim, pode ser... Mas isso prova apenas que também somos humanos. Nosso grau de consciência permite-nos ter inveja e vergonha quando praticamos algo errado. Além disso, está provado, cientificamente, que é mínima a diferença entre o nosso e o vosso cérebro...
Foi quando pousou no ombro do menino o seu papagaio, e, já discordando do primata, arremeteu:
– Pois saiba, ó camarada macaco, que sou capaz de aprender a falar a voz humana, cantar suas músicas e participar de suas conversas, em especial das piadas. Tudo isso, com um cérebro cem vezes menor que o de uma criança.
– Muito bem, disse-lhe o símio, mas ainda não entendi por que os seres humanos brigam tanto para domesticar-vos, junto com cães e gatos, mas não tentam fazer o mesmo conosco, seus parentes mais próximos.
– Deixa de ser burro, homem – disse a mulher do macaco, que estivera, até então, escondida atrás da árvore. Então não vês que se formos domesticados pelos homens acabaremos nos tornando seus serviçais?
– Desta vez estais certa, concordou o marido, se formos amansados, eles nos obrigarão a cuidar de seus filhos, cozinhar para eles e até mesmo educar suas crias. E concluiu filosoficamente:
– Abaixo a escravidão e viva a liberdade!
Ouvindo isso, o gato, o cachorro, o papagaio e até uma besta que passava por ali deram um só berro, dando vazão a um sentimento há 13 mil anos reprimido. Foi uma choradeira só...
Apenas o menino sorriu... e tratou de voar de lá...

(Sobre a inteligência dos animais, clique em: http://super.abril.com.br/ciencia/estudos-mostram-passa-pela-cabeca-animais-623040.shtml  / Acesso em 2 nov. 2013.)    

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