Existe, como sabemos, uma diferença de conteúdo essencial
entre os vocábulos reencarnação e ressurreição.
A ideia de que os mortos podiam volver à vida terrestre
fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Somente os
saduceus, partidários de uma seita fundada por Sadoc por volta do ano 248 a .C., cuja crença era a
de que tudo acabava com a morte, não acreditavam nisso.
As anotações do evangelista Marcos não deixam margem a dúvidas,
como está muito claro no texto adiante transcrito:
E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de
Cesareia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem
dizem os homens que eu sou? E eles responderam: João o Batista; e outros:
Elias; mas outros: Um dos profetas. (Marcos
8:27-28.)
Os judeus admitiam que um homem que vivera podia voltar ou reviver, sem saberem precisamente de que maneira o fato se dava. É assim que,
conforme vimos no texto do evangelista Marcos, muitas pessoas acreditavam que
Jesus fosse algum dos profetas que voltara. Designava-se, pois, com o nome de
ressurreição o que o Espiritismo chama de reencarnação.
A ressurreição propriamente dita, que implica o retorno à
vida de um corpo que se acha com seus elementos dispersos ou absorvidos, é
cientificamente impossível. Se aplicada às pessoas que tiveram uma morte
aparente, como Lázaro ou a filha de Jairo, fica evidente a impropriedade da palavra,
porque, não existindo morte, não há que falar de ressurreição, mas sim de
ressuscitação, nome que se dá, em Medicina, ao conjunto de atos pelos quais,
mediante o uso de manobras manuais e de aparelhos adequados, se restaura a vida
ou a consciência de um indivíduo aparentemente morto.
Reencarnação significa coisa diferente, pois é a volta do
Espírito à existência corpórea, mas em outro corpo, formado especialmente para
ele e que nada tem de comum com o antigo.
Foi exatamente isso o que se deu com Elias, conforme
palavras ditas pelo próprio Cristo, anotadas pelos evangelistas Mateus e Marcos:
E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem
então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo,
disse-lhes: Em verdade
Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; Mas
digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que
quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem. Então entenderam os
discípulos que lhes falara de João o Batista. (Mateus 17:10-13.)
E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas que é
necessário que Elias venha primeiro? E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá
primeiro, e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do homem,
que ele deva padecer muito e ser aviltado. Digo-vos, porém, que Elias já veio,
e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito. (Marcos 9:11-13.)
A ideia de reencarnação está bem definida na questão 166 d´O Livro dos Espíritos:
– Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a
vida corpórea, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a) Como realiza essa nova existência? Será pela sua
transformação como Espírito? “Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta
uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
b) A alma passa então por muitas existências corporais?
“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem
manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse, o desejo
deles.”
c) Parece resultar desse princípio que a alma, depois de
haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É
assim que se deve entender? “Evidentemente.”
Vê-se que o propósito da reencarnação é permitir que os
Espíritos alcancem a meta para a qual fomos criados: a perfeição. O conceito de
reencarnação está, portanto, intimamente ligado ao conceito de encarnação, isto
é, à passagem do Espírito pela existência carnal ou corporal, assunto tratado
na questão 132 da mesma obra:
– Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? “Deus lhes
impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é
expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que
sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a
expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições
de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em
cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial
desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É
assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”
À vista destes ensinos, não é difícil compreender as
seguintes palavras que Jesus dirigiu a Nicodemos: “Em verdade, em verdade,
digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo”. (João, 3:1 a
12.)
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