sábado, 30 de novembro de 2013

Pérolas literárias (64)


Boneca

Narcisa Amália de Campos


Boneca!... Era uma vez a bonequinha humana,
Borboleta a voejar, sob véus de neblina,
Primavera de sonho e graça matutina,
Transfundidas na carne em rósea filigrana...

Bela e ardente, dançou, qual brejeira cigana,
Nos laços da ilusão que se adensa e esborcina.(1)
Mulher, envelheceu disfarçada em menina,
Alegre bibelô na ribalta mundana.

Nem renúncia no amor, nem lar de que se importe.
Mas, bailando febril, encontra, um dia, a morte,
Na dor que lhe crepeia(2) o coração e a estrada...

A libélula cai sobre o charco profundo
E, no visco de lama, ouve apenas do mundo:
– “Boneca!... Era uma vez a boneca doirada!”


(1) Esborcina: relativo ao verbo esborcinar, que significa escalavrar, danificar, arruinar, deteriorar; quebrar os lavores altos, os bordos ou beiras; cortar pelas bordas.

(2) Crepeia: forma verbal derivada certamente da palavra crepe: fita ou tecido negro que se usa em sinal de luto.



Poetisa, cronista e tradutora, Narcisa Amália de Campos nasceu em S. João da Barra (RJ) em 3 de abril de 1852 e desencarnou no Rio de Janeiro (RJ) em 24 de junho de 1924. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.


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