terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tão puro quanto o algodão branco


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Era esta a explicação: há uma proteção em volta tão linda e maravilhosa, com a textura do puro algodão branco.
Assim era descrita a sensação e, certas vezes, a imagem que Amanda vivenciara em alguns episódios de sua vida.
Ela ainda completaria doze anos, no entanto, presenciara tantas cenas distintas, com pessoas estranhas do seu convívio familiar e da amizade do círculo comum de pessoas.
Desde bem pequenina, Amanda fizera amizade com o jovem Leandro, rapazinho muito educado, calmo e atencioso. Quantas coisas boas foi capaz de ensinar à menina. Quase todos os dias se viam, conversavam e tanto se divertiam juntos. Ele, por ser mais velho, cuidava feito um irmão a protegê-la; ela, tão feliz, se sentia e demonstrava, pela ocasião de um irmão maior, e o recompensava, com muito carinho, por tanta dedicação a ela direcionada.
No entanto, Amanda, à vontade, ficava na presença desses que a conheciam e eles também se sentiam tão familiarizados com a pequena menina.
Certo dia, no jardim de sua casa, a criança olhava, curiosa, uma flor branquinha que havia aberto e bem em cima, na cor alva da linda flor, uma delicada joaninha parecia reconhecer aquela textura suave.
– Oh, que lindas: flor e joaninha. Veja, Leandro! Como são lindas! Adoro esta flor – e tocou-a delicadamente.
As flores branquinhas eram lírios grandes e vistosos, perfeitos como tudo o que compõe a natureza, a vida.
– Amanda, essa flor nos passa bem-estar e tranquilidade – Leandro falou e apontou para a flor.
– Por ser tão branquinha feito o algodão e fofinha também ela ainda nos transmite conforto e ternura.
E os dois trocaram palavras e a conversa sempre fluía com a naturalidade de grandes amigos.
Quanto conversavam e riam e os semblantes eram tão singelos e serenos, sinal de coração amoroso e em paz... consciência tranquila.
Outros também se achegaram ao jardim e passaram a participar da ocasião, com palavras benfazejas e agradáveis ou, simplesmente, observando e vivenciando o momento feliz.
Quando um deles queria compartilhar alguma ideia, os outros tão respeitosamente se silenciavam e ouviam. Como Amanda era a mais nova do grupo, recebia sempre mais carinho e atenção. Conversavam sobre assuntos atuais, do passado e também sobre as suposições de um futuro quase certo.
Ao mesmo tempo que conversavam, podiam sentir a calma dos dias; contemplar o refazedor calor do brilho do sol ao corpo... à natureza; o vento suave afagando o rosto; a liberdade viva do espírito em paz pelos atos, no bem, praticados. A ternura entre eles e os pequeninos seres da natureza tornava-se evidente, pois os mais frágeis seres se sentem atraídos para a energia benéfica e protetora.
E, por isso, joaninhas buscaram as flores brancas àquela hora para estarem perto do grupo reunido; pássaros de várias espécies revoavam sobre o jardim da casa de Amanda; beija-flores, multicoloridos, aproximavam-se das flores e dos semblantes sinceros que ali brindavam mais um momento feliz da vida; as formigas e os caramujinhos se aconchegavam aos pés da menina, e as formigas até subiam os pés por mais próximas quererem estar.
E aquela manhã de outono estava com a sua energia dourada e com o amor fazendo o seu melhor: trazendo o bem-estar, em todos os graus, aos corações.
A mãe de Amanda, pela janela da sala, observou a filha sorrindo e conversando com tanta alegria. Naquele segundo nem uma amiguinha estava com ela; a mãe somente foi capaz de ver a filha querida e não percebeu mais nada a não ser a menina e o jardim. Para ela, a filha conversava sozinha e criava tantas situações ilusórias aparentes; no entanto, Amanda, simplesmente, convivia com os dois planos, o visível e o invisível; mundos que se fundem.
E essa alma tão simples e amorosa se encontrava num corpo pueril, e a companhia que a cercava era branca e bondosa como a suavidade do lírio do jardim e pura como a fofura do algodão nos campos claros do amor.
Haverá sempre o reflexo da ação.
Haverá ainda a oportunidade de cada amanhecer.
Haverá o amor eterno.
Haverá o amparo dos bons amigos.
Haverá a luz iluminando o caminho.
Haverá o progresso na evolução.
Haverá o Pai a proteger e cuidar.
Haverá sempre o livre-arbítrio, e esse ditará a estrada a seguir e o tipo de companheiros a nos acompanhar.
Amanda não se incomodava com o que as outras pessoas pudessem imaginar a respeito de seu comportamento, desejava estar com seus amigos do campo sutil e abraçar os companheiros da mesma hora na jornada atual. Sua consciência era tranquila, pois apenas não havia ainda a compreensão alheia desses acontecimentos, na verdade, tão comuns e reais.
E em todo lugar há a presença do etéreo e do físico, da brancura do algodão e do sopro suave que adentra vidas em comunhão com a eternidade.

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