JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor e bela leitora, houve um tempo em
que recomendei aos jovens não serem tão açodados na elaboração de seus textos.
Lembrei-me agora de ter lido uma frase do Senhor Allan Kardec sobre a formação
intelecto-moral de um sábio. Dizia ele que, para se produzir um médico
medíocre, são necessários alguns anos de estudos compenetrados, mas para se
formar um sábio é preciso dedicar três quartas partes da existência. E isso não
somente no aprendizado teórico, como também no aspecto prático (O Livro dos Espíritos, introd., item
XIII).
Logicamente, o mestre lionês não se referia a
uma curta existência e, sim, a alguém que tenha alcançado ao menos meio século
de vida na matéria. Fazendo-se as contas, o sábio necessitaria de 37,5 anos de
estudos aplicados se só vivesse 50 anos.
Alhures, afirmou José de Alencar que "A
mocidade é uma sublime impaciência. Diante dela, a vida se dilata, e parece-lhe
que não tem para vivê-la mais que um instante. Põe os lábios na taça da vida,
cheia a transbordar de amor, de poesia, de glória, e quisera estancá-la de um
sorvo". Porém, em seguida,
acrescentou Alencar que "A sobriedade vem com os anos; é virtude do talento
viril. Mais entrado na vida, o homem aprende a poupar sua alma".
Quero relembrar-lhes, leitores, minhas
considerações sobre a pureza da linguagem. Está na crônica intitulada A língua. O problema é muito sério, em
especial para os críticos e revisores textuais.
Suponhamos que uma obra para revisão e avaliação
crítica tivesse duzentas páginas, e cada página tivesse 30 linhas, e cada
linha, setenta toques e doze palavras em média. Calculei , a
grosso modo, 420.000 toques por obra. Isso mesmo, quatrocentos e vinte mil
toques, além de 72.000 palavras. Toots,
toots and words, words...
Por aí se vê a dureza do trabalho do crítico,
como também deve ser a do revisor. Além das ideias, ele igualmente precisa
estar atento à forma. E ai do revisor que, nesses mais de quatrocentos e vinte
mil toques, deixar passar erros em mais de 0,001% deles... O crítico tem de ir
além disso; precisa ver, naquelas 72.000 palavras, se elas não se repetem
muito, em cada frase, se a sua morfossintaxe está correta e, sobretudo, se expressam,
com objetividade e singeleza, um pensamento criativo, uma alma sensível, um
senso de humor elevado, uma originalidade...
Há algum tempo, meu secretário estava revisando
uma obra tão mal digitada que se deparou, logo de início, com o seguinte verso de
um poema: "Triste vi meti pai morrendo na bigorna". Sem entender
nada, conferiu com o texto da obra original, cujo verso correto era o seguinte:
"Triste, vendo meu pai morrendo na bigorna". Era o relato de um filho
sobre a contemplação de sua mãe diante da morte do esposo em acidente de
trabalho em sua oficina mecânica.
Se até para copiar os outros, nossos jovens têm
dificuldade, quanto mais grave é o que eles mesmos escrevem, de modo
precipitado, como se estivessem disputando uma corrida a cujo vencedor fossem
concedidas as láureas de campeão, embora o percurso percorrido por este fosse
bem mais curto do que o dos seus demais concorrentes. No domínio linguístico,
isso é improvável e mesmo impossível. Não basta a inteligência, é preciso o
esforço persistente, para se obter sucesso nas lides literárias, como em tudo
na vida.
O Espírito Thomas Édson acaba de me pedir para
lembrar-lhe, amiga leitora, sua frase memorável: "O gênio se faz com 99%
de transpiração e 1% de inspiração".
A não ser na psicografia...
De tout
mon coeur.
Acesse, quando puder, o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário