terça-feira, 14 de outubro de 2014

Os doces frutos de uma sábia macieira


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

A macieira estava carregada de frutos, uns já maduros, bem vermelhinhos; outros ainda aguardando o amadurecimento natural. Os galhos se arquearam pelo peso das saborosas e nutritivas maçãs que alimentariam crianças, adultos e idosos do local tão humilde.
Era uma pequena comunidade somando cinco famílias, mas de gerações muito antigas, e a árvore frutífera era imagem registrada de todo o tempo da existência daquele grupo social. A muda da árvore fora trazida pelo primeiro homem a pisar o chão daquele lugar. O ancião já falecido se chamava Enzo Galante que deixara o sobrenome para a família.
E não havia um ano sequer em que a macieira não produzira frutos tão viçosos e doces. As famílias se reuniam para conversar sempre próximo da árvore de folhas miúdas e verdinhas.
Um certo dia, mais precisamente um domingo pela tarde, a pequena comunidade estava reunida como de costume. As crianças engatinhavam entre os galhos baixos; alguns adultos, com cuidado, colhiam uma fruta para comer e, de fato, eram momentos preciosos.
No entanto, quando alguns olhos mais experientes observaram a árvore puderam perceber que os galhos mais no interior do pé estavam ressequidos, sem vida. Então, muito surpresos, adultos e crianças se puseram a desvendar o enigma da ordem da macieira, que tão querida e respeitada era por todos.
Nos olhos infantis pairavam a triste ocasião e nos dos mais velhos, a surpresa desencantadora era a tônica.
“O que aconteceu com a árvore da maçã?” Essa era a pergunta intrigante repetida.
Os mais experientes examinaram o interior dos galhos; as mulheres, com olhar inconsolável, tentavam compreender o ocorrido; as crianças, tão rápido, buscaram água fresca do poço para animar a planta; no entanto, em vão. Não havia secura da terra, pois era sempre aguado, o pé de maçãs.
Logo veio a noitinha e junto o brilho das estrelas ao alto e, ao mesmo tempo, tão próximo; as estrelas acompanham todos os seres do Planeta e também o desencadeamento das situações da vida sob a grandeza do infinito.
E durante a noite, mais desalento recaiu sobre a tão antiga macieira que pela manhã já estava sem vida. Alguns frutos insistiam em permanecer, presos, aos galhos, porém, antes do meio-dia, tudo estava no chão, toda a árvore estava em repouso sobre a terra que tanto a sustentou.
A pequena comunidade rodeou a árvore desmantelada; os olhares eram de inexplicáveis perguntas sem respostas, não podiam acreditar. Lágrimas escorriam dos mais velhos e dos bem jovens. Como seriam os dias sem a macieira frondosa, companheira e mãe de tantos frutos ao longo de todo o tempo.
Depois de muito analisar, por meio de uma inspiração benfazeja, foi esclarecido a Marino Galante, filho mais velho de Enzo, e agora, orientador da singela comunidade, que para tudo há um tempo a ser cumprido.
Por isso tão encantadora é a alma que valoriza o momento presente e atua com alegria e agradecimento nas existências da vida, participando das histórias e amparando os companheiros de jornada, pois viver, no melhor sentido semântico, é tudo de maior para o espírito, essência da alma, energia eterna.
O valor das pessoas amadas; das simples e essenciais palavras e ações; de um dia primaveril; de mais uma vez estar com quem se ama; de abraçar quem tanto necessita; de sorrir por ver um sorriso de criança; de interpretar no céu o convite da eternidade; de passear pelos campos de tulipas e sentir o mar de flores acalmar o ser e trazer beleza aos olhos que, assim, os observa e aos corações que tanto amparo necessitam.
Com inspiração de luz amorosa, Marino pronunciou as seguintes palavras:
“Da mesma forma que o dia é necessário, também a noite o é, ambos possuem a duração essencial para a bela produtividade dos vegetais, dos animais, da cadeia vital como um todo. Tudo possui a duração exata, o tempo indispensável para o trabalho ser realizado; uns aproveitam mais que os outros. E a nossa macieira valeu-se com tanta sabedoria; produziu bons frutos por gerações; acalentou almas, pois quantos vieram desabafar suas dores às folhas, frutos e galhos da sua boa árvore; cativou crianças, adultos e idosos. Será lembrada com tanto carinho e gratidão. Obrigado, querida macieira, pela companhia e ternura de tantos anos. Descanse e volte para o universo, com sua energia tão benéfica e indispensável. Estaremos aqui, pois tudo a seu tempo. Sábios são os que aproveitam os dias com amor, trabalho e bondade. Obrigado, macieira.”
E após as palavras gratas e carinhosas, Marino iniciou a saudação de tocar os galhos e com alegria agradecer tanta dedicação da pequenina irmã. E a reduzida comunidade imitou a ação respeitosa e após isso cada um seguiu para seus afazeres e atividades.
A querida macieira reincorporaria ao extrato natural; todo corpo integra o corpo maior do universo, tudo volta ao que pertence, ao todo.
O mais importante será sempre o bom desempenho diante da programação para cada existência. E todo júbilo será sustentado pelo conjunto das boas escolhas, amor, entendimento e pela sabedoria de que tudo faz parte de um todo e toda ação repercute na vida.
A uns três metros do pé de maçã, que agora descansava, foi observada uma pequenina plantinha com as características de uma recém-nascida macieira feliz.
E muitos novos sorrisos surgiram naquele momento e continuariam em todo o tempo de vida da pequena plantinha de frutos tão doces e aconchegantes.
A vida é contínua... incomparável... grandiosa.

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