Continuamos a publicar o roteiro e o texto que serviram de
base aos estudos que fazemos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar (Londrina,
PR), relativamente ao livro Ação e Reação,
de André Luiz, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.
A seguir, o texto desta semana:
Questões
para debate
A. Quem foi Adelino no passado recente?
B. O amor do pai era correspondido por Martim, seu filho bastardo?
C. Que atitude tomou Gaspar logo que se viu no plano espiritual?
Texto para leitura
105. Crime
no século passado – Junto à porta da casa, três crianças ocupavam três
leitos: Marisa, uma loura menina entre nove e dez anos, filha de Adelino, de
quem a mãezinha se afastara havia seis anos, e dois petizes de tez escura -
Mário e Raul -, dois enjeitados que ele adotara por filhos do coração. Para
possibilitar entendamos melhor o caso Adelino, Silas relatou: "Em meados
do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem muito rico que o
recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à luz. Martim
Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de coração enrijecido,
muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria do lar em que
nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas ocasiões,
vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para lhes não ouvir os choros e
petitórios. Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte
do velho pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos,
sabia usar o tronco e o chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela
maioria dos servos e bajulado de quantos lhe obtinham os favores, a troco de
lisonja servil. Entretanto, para o filho Martim – o mesmo Adelino de agora – a
sua ternura e dedicação não mostravam limites. Inexplicavelmente para ele
mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a ponto de providenciar-lhe
educação esmerada na própria fazenda". Silas disse então que pai e filho
tornaram-se companheiros inseparáveis nos jogos, nos estudos, no serviço e na
caça e Gaspar tornou-o partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho
contavam, respectivamente, 43 e 21 anos de idade, quando Gaspar resolveu
casar-se com uma jovem de grande metrópole - Maria Emília -, na época com 20
anos, que desenvolveu sobre o enteado estranha fascinação. Martim, amado pelo
pai e atraído pela jovem madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos
sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a
detestá-lo, não lhe tolerando a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se
por ela ardentemente querido. Maria Emília e ele entregaram-se à paixão desvairada
e foi assim que Martim, auxiliado por dois capatazes de sua confiança - Antônio
e Lucídio -, e com aprovação da madrasta, administrou uma poção entorpecente
no pai, que estava acamado naquele dia, provocando em seguida um incêndio no
qual o mísero Gaspar, em horríveis padecimentos, veio a falecer. (Ação e Reação, cap. 16, pp. 217 e 218.)
106. Remorso
e sofrimento além-túmulo – Morto o pai, Martim apoderou-se-lhe dos haveres
e tentou a felicidade junto com Maria Emília, mas o genitor desencarnado, a
inflamar-se em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os
quais o infeliz não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira,
Martim procurou anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a
fazenda aos cuidados de seus dois cúmplices e demandou a Europa, em busca de repouso
e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim de cinco anos de resistência,
tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito do pai que o cercava,
incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em chaga, como se
chamas ocultas o requeimassem. Circunscrito ao leito de dor e constantemente
empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do pai, em urros de
martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando a esmo o
arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de louco
pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta
alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado
a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio
círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Gaspar aguardou-o
no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou a exercer
pavorosa vingança... O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis
humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos consecutivos, em
cárceres de treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, ingressou na
Mansão, em lamentável situação. Tendo entrado em sintonia com o pai, sequioso
de vindita, através das brechas mentais do remorso e do arrependimento tardio,
fora hipnotizado por gênios perversos que o fizeram sentir-se dominado de
chamas torturantes. Fixada a imagem dele em semelhante quadro de angústia, o
próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em que se
torturava sem consumir-se, até que foi aliviado e socorrido pelos benfeitores
através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso desequilíbrio. (Obra citada, cap. 16, pp. 219 e
220.)
107. Os
cúmplices reúnem-se no mesmo lar – Devotado, na Mansão, aos serviços mais
duros, Martim conquistou com o tempo apreciáveis lauréis que lhe permitiram
voltar à esfera humana, para iniciar o pagamento da larga dívida em que se
onerou. Atirado a imensas dificuldades materiais, desde cedo cresceu órfão de
pai... Custodiado por benfeitores da Mansão, foi conduzido a uma casa
espírita, ainda muito jovem, onde a leitura dos princípios espíritas
constituiu para ele recordações naturais dos ensinamentos assimilados na
Mansão. Disciplinou-se e, apesar dos entraves orgânicos, dedicou-se ao
serviço de representação comercial, de cujos labores retirava os recursos, que
sabia repartir com numerosos necessitados, reservando para si tão somente o
indispensável. Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante,
modificou as impressões de muitos companheiros de outro tempo, que nas baixas
camadas da sombra se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos.
Ajudando aos outros, Martim - agora Adelino - desbastava, dia a dia, o
montante dos seus débitos, uma vez que a Misericórdia do Pai permite que os
nossos credores atenuem o rigor da cobrança sempre que nos vejam oferecendo ao
próximo necessitado aquilo que lhes devemos... Desse modo, ele resgatava o
pretérito, ganhava tempo e adquiria novas bênçãos, porquanto atraíra para
junto de si, como filha, a antiga madrasta, reencarnada para reeducar-se ao calor
de seus exemplos nobres, e os dois antigos cúmplices - Antônio e Lucídio -,
recolhidos por ele como filhos adotivos. "Como é fácil de reconhecer –
acentuou Silas –, nosso irmão, através da responsabilidade espírita-cristã,
corretamente sentida e vivida, conquistou a felicidade de reencontrar os laços
do pretérito criminoso para o necessário reajuste, ao passo que, se houvesse
desertado da luta pela irreflexão da companheira
ou se tivesse cerrado a porta do coração a dois meninos infelizes, teria adiado
para futuros séculos o nobre trabalho que está fazendo agora..." (Obra citada, cap. 16, pp. 220 a 222.)
Respostas às questões propostas
A. Quem
foi Adelino no passado recente?
Quando ainda
vigorava a escravidão no Brasil, Adelino nasceu como filho bastardo de um jovem
muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao
trazê-lo à luz. Gaspar, o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem
de coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face
da incúria do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante
e, em muitas ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém-natos para não
ouvir seus choros e petitórios. Entretanto, para o filho Martim – o mesmo
Adelino de agora – sua ternura e dedicação não mostravam limites.
Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a ponto
de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. (Ação e Reação,
cap. 16, pp. 217 e 218.)
B. O amor
do pai era correspondido por Martim, seu filho bastardo?
Sim. Pai e
filho tornaram-se companheiros inseparáveis nos jogos, nos estudos, no serviço
e na caça, e Gaspar tornou-o partícipe de seu nome e de sua herança. Tudo
correu bem entre eles até que, aos 43 anos de idade, Gaspar resolveu casar-se
com uma jovem de grande metrópole, de nome Maria Emília, 20 anos de idade na
época. Atraído pela jovem madrasta, Martim, que contava então 21 anos, passou a
experimentar torturantes conflitos sentimentais. Ele, que se julgava o melhor
amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo, não lhe tolerando a posse sobre a mulher
que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido. Maria Emília e ele
entregaram-se, então, à paixão desvairada e foi assim que, auxiliado por dois
capatazes de sua confiança - Antônio e Lucídio -, administrou uma poção
entorpecente no pai, que estava acamado naquele dia, provocando em seguida um
incêndio no qual Gaspar veio a falecer. (Obra citada, cap. 16, pp. 217 e
218.)
C. Que
atitude tomou Gaspar logo que se viu no plano espiritual?
Gaspar, a
inflamar-se em cólera, envolveu o filho em nuvens de fluidos inflamados,
contra os quais o infeliz não possuía defesa. Apegando-se ao afeto da mulher,
Martim procurou anestesiar a consciência e esquecer tudo... Confiou a fazenda
aos cuidados de seus dois cúmplices e demandou a Europa, em busca de repouso e
distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim de cinco anos de resistência, tombou
integralmente vencido, sob o jugo do Espírito do pai que o cercava,
incessantemente, apesar de invisível. Gaspar aguardou-o no túmulo, arrastando-o
para as sombras infernais, onde passou a exercer pavorosa vingança... (Obra
citada, cap. 16, pp. 219 e 220.)
N.R. - Para acessar e ler o texto da semana passada, clique
em http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2014/12/o-aborto-nao-e-apenas-uma-falta-grave.html
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