terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Haverá os meios para as realizações


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Dezembro se iniciara, mas Onofre, pai de duas meninas, gêmeas, sabia que mais um ano teria dificuldades para comprar os presentes, mesmo simples, das filhas. Elas já contavam com oito anos e entendiam um pouco sobre as privações existentes para a família.
Eles moravam num bairro afastado do centro da cidade; o local era composto de casas de muita modéstia e pobreza, ou seja, casebres. E a vida daquelas outras famílias não era muito diferente quanto à ordem financeira, o que se distinguia era a convivência em cada casa.
De família religiosa, Onofre passou para a esposa, Leocádia, e as filhas, a seriedade, a fé e o amor tão necessários referentes ao sagrado, a Deus, criador de tudo; também lhes passou a importância da oração. E era muito natural vê-los em prece pela manhã e ao se deitarem, no entanto, sabiam que o intercâmbio entre a Terra e o Céu é em tempo integral.
Era encantador observar as meninas em seu recolhimento, tanta fé e pureza. Havia também Niña, uma cachorrinha vira-lata que aparecera, pequenina, e por lá ficou. O animalzinho era muito amado e respeitado e retribuía com grande carinho tudo o que recebia.
Enquanto as irmãs faziam a prece matutina, a cachorrinha, graciosamente, parecia entender e também se colocava com a cabecinha baixa e em profunda concentração. Era docemente querida.
Onofre e a esposa trabalhavam fora. Como mãe e companheira, atenciosa, depois que chegava do trabalho exaustivo como doméstica, ela preparava a comida e tudo o que precisassem. E o casal se preocupava com o presente das filhas, embora soubesse que não era o mais importante, no entanto, principalmente, criança, em todo lugar e situação, sempre aguarda algo, pelo menos nesta data.
Os pais não comentaram sobre a possibilidade de presenteá-las para, assim, não criarem esperanças, pois as condições eram ainda mais favoráveis a nenhum presente.
Consequentemente, as filhas também não cogitavam sobre o assunto, não queriam ver os pais, tristes e impossibilitados, diante dessa situação corriqueira de fim de ano.
E com o andamento dos dias, a certeza se efetivou: os pais não teriam o presente para as filhas. Frente a um reparo necessário e imprevisto na casa simples, o pouco dinheiro que tentavam separar para o grande objetivo de presentearem as filhas havia sido, forçosamente, redirecionado à necessidade primária.
O olhar do pai e da mãe estava sem brilho, pois viram a tristeza tentando, a todo custo, se disfarçar nos olhinhos das meninas. Até mesmo Niña parecia perceber e, para compensar um pouquinho, pelo menos, fazia gracinhas novas para divertir as pequeninas irmãs.
Mais um dia e uma noite se passaram com a sensação de algo a se concretizar, entretanto, sem possibilidade para isso. Até que o pai, sensibilizado e mais triste ainda que as filhas, chamou-as e conversou com elas sobre a realidade por qual passavam; embora crianças, as meninas muito compreendiam. E o carinho foi a maior ternura recebida junto com as explicativas palavras.
– Compreendemos, papai. Tudo bem – uma das gêmeas falou representando ambas.
Logo, as três meninas saíram para brincar no quintal de terra batida. Quanto às três, Niña também foi incluída.
E envolvidas pela energia tão maravilhosa de criança brincando, elas não perceberam a aproximação de uma jovem mulher de pele clara e cabelos longos e ondulados dourados.
Após alguns segundos, uma das irmãs notou a presença e, surpresa, falou:
– Oi, moça, não te vi chegar.
– Vim devagar – a jovem respondeu.
– E não te conheço. De onde você é? – a menina tornou a perguntar.
Enquanto isso a outra irmã e Niña também, surpresas, observavam-na.
– Sou de um lugar próximo e vim para lhes deixar uma encomenda, antecipada, para o Natal – simplesmente respondeu.
– Quem mandou? – a outra menina, curiosa, perguntou se aproximando.
– Apenas entrego.
– Para quem você trabalha?
E as perguntas eram infindáveis; crianças possuem o gene natural da curiosidade.
Sorrindo, por achar graça das meninas e do pequeno animalzinho também tão curioso, a jovem, com dois pacotes nas mãos, deu um para cada criança.
As meninas não compreendiam, mas encantadas estavam. E receberam-nos, embora curiosas, com muita delicadeza e felicidade. Começaram a desembrulhar. E nesse tempo do ocorrido, nenhuma pessoa passou por perto, nem mesmo os pais; estavam apenas as quatro criaturas compartilhando do momento.
Alegria. Foi o que dois semblantes pueris demonstraram tão sinceramente.
– A boneca que eu tanto queria – uma das meninas falou extasiada.
– Nossa! A boneca que tanto sonhava em ter – a outra também se surpreendeu.
E com toda aquela leveza maravilhosa e felicidade, as “três” meninas, entretidas com os presentes, não repararam a ausência da jovem mulher de pele clara e cabelos longos dourados. Da mesma forma que apareceu, com a luz das grandes realizações, assim, também, a jovem partiu.
Nem sempre há respostas e nítidas explicações no plano material; porém, no espiritual, para tudo há a clareza de por que ser. A vida, pelo ângulo sutil, é observada como se fora uma casa sem teto, ou seja, inteiramente vista de cima.
Presentes sempre chegarão à vida por meio do esforço e merecimento. Para que uma ação se concretize, incontáveis outras já terão ocorrido. Por isso, tudo é chegado no tempo exato, nem antes nem depois, com a avaliação do curso natural.
Se luzes chegam para suavizar a caminhada, logo, agradeça-as, e quando houver oportunidade de ser luz na vida do outro, que a mão esquerda não saiba o que a direita doou.
E as gêmeas, sentadinhas num banco no quintal de terra batida, nos fundos da casa, estavam radiosas por tamanha alegria recebida, e sem compreenderem como se dera todo aquele evento, ainda assim, em seu íntimo, agradeceram a tão maravilhosa luz de felicidade.
Então, as três meninas se sentiam com a melhor sensação até agora vivida: a do recebimento de algo muito desejado, assim, como para o espírito, o desejo pelo progresso.
Até Niña parecia sorrir como as irmãs.


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