Estudamos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar, de
Londrina (PR), o clássico “No Invisível”, de autoria de Léon Denis, uma obra
que muitos consideram uma espécie de continuação d´O Livro dos Médiuns, de Allan
Kardec. Reproduzimos, em seguida, o texto do módulo concluído nesta semana,
cuja publicação tem por finalidade proporcionar a quem se interessar a
oportunidade de acompanhar o mencionado estudo.
Questões para
debate
A. Quem é
o autor da frase “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”?
Léon Denis é
o autor dessa frase, que faz parte da Introdução da obra “No Invisível”, ora em estudo. Diz ele que ao
contacto da Humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e
obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme
o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo. Por isso, era com
desgosto que ele observava a tendência de certos adeptos no sentido de
menosprezar a feição elevada do Espiritismo, a fonte dos puros ensinamentos e
das altas inspirações, para se restringirem ao campo da experimentação
terra-a-terra, à investigação exclusiva do fenômeno físico. (No Invisível,
Introdução.)
B. Que lei
é determinante nas relações com o mundo invisível?
É a lei das
afinidades e atrações. Nesse domínio, quem procura baixos objetivos os encontra
e com eles se rebaixa: aquele que aspira às remontadas culminâncias, cedo ou
tarde as atinge e delas faz pedestal para novas ascensões. Se desejamos
manifestações de ordem elevada, devemos fazer esforços por elevar-nos a nós
mesmos. O bom êxito da experimentação, no que ela tem de belo e grandioso – a
comunhão com o mundo superior –, não o obtém o mais sábio, mas o mais digno, o
melhor, aquele que tem mais paciência e consciência e mais moralidade. (Obra
citada, Introdução.)
C. No
tocante aos círculos acadêmicos, como o Espiritismo era visto na França?
A situação do
Espiritismo na França, no início do século XX, não era idêntica à alcançada em
certos países estrangeiros. Enquanto na Inglaterra e na Itália conquistou ele,
nos círculos acadêmicos, adesões de singular notoriedade, a maioria dos sábios
franceses adotou a seu respeito uma atitude desdenhosa e, mesmo, de aversão, no
que revelaram eles bem escassa clarividência; porque, se a ideia espírita
apresenta, às vezes, exageros, repousa, entretanto, em fatos incontestáveis e
corresponde às imperiosas necessidades contemporâneas.(Obra citada, Prefácio
da edição de 1911.)
Texto para leitura
1. Introdução
- Desde cinquenta anos se tem estabelecido uma íntima e frequente comunicação
entre o nosso mundo e o dos Espíritos. Soergueram-se os véus da morte e, em
lugar de uma face lúgubre, o que nos apareceu foi um risonho e benévolo
semblante. Falaram as almas; sua palavra consolou muitas tristezas, acalmou
bastantes dores, fortaleceu muita coragem vacilante. O destino foi revelado,
não já cruel, implacável como o pretendiam antigas crenças, mas atraente,
equitativo, para todos esclarecido pelas fulgurações da misericórdia divina.
2. O
Espiritismo propagou-se, invadiu o mundo. Desprezado, repelido ao começo,
acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos quantos se não
imobilizavam na esfera do preconceito e da rotina e o abordaram
desassombradamente foram por ele conquistados. Agora penetra por toda parte,
instala-se em todas as mesas, tem ingresso em todos os lares.
3. Que traz
ele consigo? Será sempre, e por toda parte a verdade, a luz e a esperança? Ao
lado das consolações que caem na alma como o orvalho sobre a flor, de par com o
jorro de luz que dissipa as angústias do investigador e ilumina a rota, não
haverá também uma parte de erros e decepções?
4. O
Espiritismo será o que dele fizerem os homens. Similia similibus! Ao contacto
da Humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Podem
constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai,
continua sendo pérola ou se transforma em lodo.
5. É com
desgosto que observamos a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar
a feição elevada do Espiritismo, a fonte dos puros ensinamentos e das altas
inspirações, para se restringirem ao campo da experimentação terra-a-terra, à
investigação exclusiva do fenômeno físico.
6.
Pretender-se-ia acomodar o Espiritismo no acanhado leito da ciência oficial;
mas esta, inteiramente impregnada das teorias materialistas, é refratária a
essa aliança. O estudo da alma, já de si difícil e profundo, lhe tem
permanecido impenetrável. Os seus métodos, por indigentes, não se prestam
absolutamente ao estudo, muito mais vasto, do mundo dos Espíritos. A ciência do
invisível há de sempre ultrapassar os métodos humanos. Há no Espiritismo uma
zona – e não a menor – que escapa à análise, à verificação: é a ação do
Espírito livre no Espaço; é a natureza das forças de que ele dispõe.
7. Com os
estudos espíritas uma nova ciência se vai formando lentamente, mas é preciso
aliar ao espírito de investigação científica a elevação de pensamento, o
sentimento, os impulsos do coração, sem o que a comunhão com os seres
superiores se torna irrealizável e nenhum auxílio de sua parte, nenhuma
proteção eficaz se obterá. Ora, isso é tudo na experimentação. Não há
possibilidade de êxito nem garantia de resultado sem a assistência e proteção
do Alto, que se não obtém senão mediante a disciplina mental e uma vida pura e
digna.
8. Deve todo
adepto saber que a regra, por excelência, das relações com o invisível é a lei
das afinidades e atrações. Nesse domínio, quem procura baixos objetivos os
encontra e com eles se rebaixa: aquele que aspira às remontadas culminâncias,
cedo ou tarde as atinge e delas faz pedestal para novas ascensões. Se desejais
manifestações de ordem elevada, fazei esforços por elevar-vos a vós mesmos. O
bom êxito da experimentação, no que ela tem de belo e grandioso – a comunhão
com o mundo superior –, não o obtém o mais sábio, mas o mais digno, o melhor,
aquele que tem mais paciência e consciência e mais moralidade.
9. Com o
cercearem o Espiritismo, imprimindo-lhe caráter exclusivamente experimental,
pensam alguns agradar ao espírito positivo do século, atrair os sábios ao que
se denomina de Psiquismo. Desse modo, o que sobretudo se consegue é pôr-se em
relação com os elementos inferiores do Além, com essa multidão de Espíritos
atrasados, cuja nociva influência envolve, oprime os médiuns, os impele à
fraude e espalha sobre os experimentadores eflúvios maléficos e, com eles,
muitas vezes, o erro e a mistificação.
10. Numa
ânsia de proselitismo, sem dúvida louvável quanto ao sentimento que a inspira,
mas excessiva e perigosa em suas consequências, desejam-se os fatos a todo
custo. Na agitação nervosa com que se busca o fenômeno, chega-se a proclamar
verdadeiros os fatos duvidosos ou fictícios. Pela disposição de espírito
mantida nas experiências, atraem-se os Espíritos levianos, que em torno de nós
pululam. Multiplicam-se as manifestações de mau gosto e as obsessões das
energias que supõem dominar. Muitíssimos espíritas e médiuns, em consequência
da falta de método e de elevação moral, se tornam instrumentos das forças
inconscientes ou dos maus Espíritos.
11. São
numerosos os abusos, e neles acham os adversários do Espiritismo os elementos
de uma crítica pérfida e de uma fácil difamação.
12. O
interesse e a dignidade da causa impõem o dever de reagir contra essa experimentação
banal, contra essa onda avassaladora de fenômenos vulgares que ameaçam
submergir as culminâncias da ideia.
13. O
Espiritismo representa uma fase nova da evolução humana. A lei que, através dos
séculos, tem conduzido as diferentes frações da Humanidade, longo tempo
separadas, a gradualmente aproximar-se, começa a fazer sentir no Além os seus
efeitos. Os modos de correspondência que entretêm na Terra os homens vão-se
estendendo pouco a pouco aos habitantes do mundo invisível, enquanto não atingem,
mediante novos processos, as famílias humanas que povoam os mundos do espaço.
14. Contudo,
nas sucessivas ampliações do seu campo de ação, a Humanidade tropeça em
inúmeras dificuldades. As relações, multiplicando-se, nem sempre trazem
favoráveis resultados; também oferecem perigos, sobretudo no que se refere ao
mundo oculto, mais difícil que o nosso de penetrar e analisar. Lá, como aqui, o
saber e a ignorância, a verdade e o erro, a virtude e o vício existem, com esta
agravante: ao passo que fazem sentir sua influência, permanecem encobertos aos
nossos olhos; donde a necessidade de abordar o terreno da experimentação com
extrema prudência, de longos e pacientes estudos preliminares.
15. E
necessário aliar os conhecimentos teóricos ao espírito de investigação e à
elevação moral, para estar verdadeiramente apto a discernir no Espiritismo o
bem do mal, o verdadeiro do falso, a realidade da ilusão. É preciso
compenetrar-se do verdadeiro caráter da mediunidade, das responsabilidades que
acarreta, dos fins para os quais nos é concedida.
16. O
Espiritismo não é somente a demonstração, pelos fatos, da sobrevivência; é
também o veículo pelo qual descem sobre a Humanidade as inspirações do mundo
superior. A esse título é mais que uma ciência, é o ensino que o Céu transmite
à Terra, reconstituição engrandecida e vulgarizada das tradições secretas do
passado, o renascimento dessa escola profética que foi a mais célebre escola de
médiuns do Oriente. Com o Espiritismo, as faculdades, que foram outrora o
privilégio de alguns, se difundem por um grande número. A mediunidade se
propaga; mas de par com as vantagens que proporciona, é necessário estar
advertido a respeito de seus escolhos e perigos.
17. Há, na
realidade, dois tipos de Espiritismo. Um nos põe em comunicação com os
Espíritos superiores e também com as almas queridas que na Terra conhecemos e
que foram a alegria da nossa existência. É por ele que se efetua a revelação
permanente, a iniciação do homem nas leis supremas. É a fonte pujante da
inspiração, a descida do Espírito ao envoltório humano, ao organismo do médium
que, sob a sagrada influência, pode fazer ouvir palavras de luz e de vida,
sobre cuja natureza é impossível o equívoco, porque penetram e reanimam a alma
e esclarecem os obscuros problemas do destino.
19. Há,
contudo, um outro gênero de experimentação, frívolo, mundano, que nos põe em
contacto com os elementos inferiores do mundo invisível e tende a amesquinhar o
respeito devido ao Além. É uma espécie de profanação da religião da morte, da
solene manifestação dos que deixaram o invólucro da carne. Mas, é preciso
reconhecer que ainda esse Espiritismo de baixa esfera tem sua utilidade. Ele
nos familiariza com um dos aspectos do mundo oculto.
20. Os
fenômenos vulgares e as manifestações triviais fornecem às vezes magníficas
provas de identidade; sinais característicos se evidenciam e forçam a convicção
dos investigadores. Não nos devemos, porém, deter na observação de tais
fenômenos senão na medida em que o seu estudo nos seja proveitoso e possamos
exercer eficiente ação sobre os Espíritos atrasados que os produzem.
21. Sua
influência é molesta e deprimente para os médiuns. É preciso elevar mais alto
as aspirações, subir pelo pensamento a regiões mais puras, aos superiores
domicílios do Espírito. Somente aí encontra o homem as verdadeiras consolações,
os socorros, as forças espirituais.
22. Nunca
será demasiado repeti-lo: nesse domínio jamais obteremos efeitos que não sejam
proporcionais às nossas condições. Toda pessoa que, por seus desejos, por suas
invocações, entra em relação com o mundo invisível, atrai fatalmente seres em
afinidade com seu próprio estado moral e mental. O vasto império das almas está
povoado de entidades benfazejas e maléficas; elas se desdobram por todos os
graus da infinita escala, desde as mais baixas e grosseiras, vizinhas da
animalidade, até os nobres e puros Espíritos, mensageiros de luz, que a todos
os confins do tempo e do espaço vão levar as irradiações do pensamento divino.
23. Se não
sabemos ou não queremos orientar nossas aspirações, nossas vibrações fluídicas,
na direção dos seres superiores, e captar sua assistência, ficamos à mercê das
influências más que nos rodeiam, as quais, em muitos casos, têm conduzido o
experimentador imprudente às mais cruéis decepções.
24. Se, ao
contrário, pelo poder da vontade, libertando-nos das sugestões inferiores,
subtraindo-nos das preocupações pueris, materiais e egoísticas, procuramos no
Espiritismo um meio de elevação e aperfeiçoamento moral, poderemos em tal caso
entrar em comunhão com as grandes almas, portadoras de verdades; fluidos
vivificantes e regeneradores nos penetrarão; alentos poderosos nos elevarão às
regiões serenas donde o espírito contempla o espetáculo da vida universal,
majestosa harmonia das leis e das esferas planetárias.
25. Prefácio
da edição de 1911 - Nos dez anos que transcorreram do aparecimento desta
obra até à presente edição, o Espiritismo prosseguiu a sua marcha ascensional e
se opulentou com experiências e testemunhos de elevado valor, entre os quais
particularmente os de Lodge, Myers, Lombroso lhe vieram realçar o prestígio e
assegurar, com a autoridade científica que lhe faltava, uma espécie de
consagração definitiva.
26. Por outro
lado, os abusos e as fraudes, que precedentemente assinalamos, se multiplicam.
Haverá nisso porventura uma lei histórica, em virtude da qual o que uma ideia
ganha em extensão deverá perder em qualidade, em força, em intensidade?
27. No que
respeita aos testemunhos coligidos e aos progressos realizados, a situação do
Espiritismo na França não é idêntica à alcançada em certos países estrangeiros.
Enquanto na Inglaterra e na Itália conquistou ele, nos círculos acadêmicos,
adesões de singular notoriedade, a maioria dos sábios franceses adotou a seu
respeito uma atitude desdenhosa e, mesmo, de aversão, no que revelaram
eles bem escassa clarividência; porque, se a ideia espírita apresenta, às
vezes, exageros, repousa, entretanto, em fatos incontestáveis e corresponde às
imperiosas necessidades contemporâneas.
28. Há de
todo espírito imparcial reconhecer que nem a ciência oficial nem a Religião
satisfazem às necessidades e às aspirações da maior parte da Humanidade. Não é
de admirar, portanto, que tantos homens tenham procurado em domínios pouco
explorados, posto que abundantíssimos em subsídios psicológicos, soluções e
esclarecimentos que as velhas instituições não são capazes de lhes fornecer.
29. Pode esse
gênero de estudos desagradar a uns tantos timoratos e provocar, de sua parte,
condenações e críticas. Arrazoados vãos que o vento leva. Apesar das
exigências, das objurgações e anátemas, as inteligências não cessarão de
encaminhar-se ao que mais justo, melhor e mais claro lhes parece. As repulsas
de uns e as desaprovações de outros nada conseguirão. Fazei mais e melhor – é a
objeção que se oporá. Padres e sábios, que vos podeis consagrar aos lazeres do
espírito, em lugar de escarnecer ou fulminar no vácuo, mostrai-vos capazes de
consolar, de amparar os que vergam sob um trabalho material esmagador, de lhes
explicar o motivo de seus sofrimentos e lhes fornecer as provas de compensações
futuras. Será o único meio de conservardes a vossa supremacia.
30. Pode-se,
além disso, perguntar qual será mais apto a julgar os fatos e discernir a
verdade: se um cérebro atravancado de prevenções e de teorias preconcebidas ou
se um espírito livre, emancipado de toda rotina científica e religiosa.
31. Por nós
responde a História! É indubitável que os representantes da ciência oficial têm
prestado valiosos serviços ao pensamento e muitos extravios lhe evitaram.
Quantos obstáculos, porém, não opuseram eles, em numerosos casos, à ampliação
do conhecimento, verdadeiro e integral! O professor Charles Richet, que é
autoridade na matéria, pôs vigorosamente em relevo, em “Annales des Sciences
Psychiques”, de janeiro de 1905, os erros e as debilidades da ciência oficial.
34. Em
matéria de psiquismo parece haver carência do vulgar bom-senso à maioria dos
cientistas. O professor Flournoy o confessa: “Para a Humanidade das remotas
eras, como atualmente ainda para a grande massa que a compõe, a hipótese espírita
é a única verdadeiramente conforme ao mais elementar bom-senso; quanto a nós,
cientistas, saturados de mecanismo materialista desde os bancos escolares, essa
mesma hipótese nos revolta até às maiores profundezas do bom-senso, igualmente
mais elementar”.
35. Em apoio
de suas asserções, cita ele os dois seguintes exemplos, relativos a um fato
universalmente reconhecido verdadeiro: “O grande Helhholtz – relata o Senhor
Barrett – certa vez disse que nem o testemunho de todos os membros da Sociedade
Real, nem a evidência de seus próprios sentidos, o poderiam convencer sequer da
transmissão de pensamento, impossível que era esse fenômeno”.
36. “Um ilustre biologista – refere também o Senhor W.
James – teve ocasião de me dizer que, mesmo que fossem verdadeiras as provas da
telepatia, os sábios se deveriam coligar para as suprimir ou conservar ocultas,
pois que tais fatos destruiriam a uniformidade da Natureza e toda espécie de
outras coisas de que eles, sábios, não podem abrir mão, para continuar suas
pesquisas.”
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