A recepção de Kardec a Machado e a confirmação de que Chico não é
Kardec reencarnado
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amiga
leitora, hoje narrar-lhe-ei minha recepção no mundo espiritual. Tão logo
desencarnei, fui recebido por amigos e pessoas que, só após algum tempo,
reconheci num hospital maravilhoso. Ao abrir os olhos, percebi a presença de
equipe de médicos e enfermeiros cuidadosos ao lado de minha cama. Em seguida,
ouvi uma voz, que logo identifiquei ser de Allan Kardec, me dizer:
—
Levantai-vos, Machado, e abraçai vossos amigos e amigas que aqui estão. Eles
representam uma multidão postada lá fora. Comigo estão Maria Inês, Victor Hugo,
Shakespeare, Almeida Garret, Francisco Gonçalves Braga, Paula Brito, Manoel
Antônio de Almeida, Gonçalves Dias, Castro Alves, José de Alencar, Francisca
Júlia e esposo...
— Todos
são-me caríssimos ao coração, mas...
Lendo-me o
pensamento, ele respondeu-me:
—
Carolina prepara-vos a recepção em vosso
lar, bela reprodução da casa do Cosme Velho, de tão felizes recordações para
ambos, mas breve virá vos abraçar.
— Vê-la,
abraçá-la e beijá-la é tudo o que eu mais desejo... Mas e meus pais, minha
irmãzinha, falecida aos 4 aninhos, minha madrinha, onde estão?
—
Reencarnaram... A vida continua, meu caro, em várias dimensões...
Após
abraçar, um a um, todos os amigos e amigas, com destacada efusão de gratidão e
reconhecimento a Maria Inês, bem como a Braga, Paula Brito e Manoel Antônio de
Almeida, fui carregado no colo por todos aqueles amigos e amigas para fora do
hospital. No pátio, uma orquestra tocava as belas músicas entoadas por grande
número de cantoras líricas que tanto apreciei nos teatros cariocas.
Quando me
aproximei, as músicas e cantos silenciaram para ouvirmos uma ovação e aplauso
frenético da multidão que nos aguardava. Nesse momento, fui colocado no chão, e
Kardec chamou-me, com um sorriso benevolente e compassivo:
— Vinde,
Machado, subi neste palco para receberdes as justas homenagens à vossa obra
imortal.
—
Envergonhado, por ter escarnecido do Espiritismo e de tão elevada alma,
cambaleei e quase caí. Mas ele amparou-me e disse bondoso:
— Não
fiqueis encabulado, por nos ter chamado de “loucos”, “idiotas” e quejandos, em
vossas crônicas. Tudo tem seu tempo e finalidade na Criação de Deus.
Brevemente, o mundo receberá centenas de obras provindas daqui, por intermédio
de extraordinários Espíritos e médiuns. E, por incrível que pareça, embora não
tenhais chegado a conhecê-la, uma mineira de Juiz de Fora já se encontra pronta
para começar o trabalho.
— Zilda
Gama?
— Ela mesma
— arrematou Victor Hugo entrando no nosso diálogo, para minha grata surpresa.
Como precursora da grandiosa obra psicográfica que o Brasil e o mundo
conhecerão, ditar-lhe-ei cinco belos romances... (1)
—
Exatamente! — falou Kardec. E também estão programados, no Ministério das
Comunicações desta cidade espiritual, a partir de 1912, uma série de
comunicados meus por intermédio dessa mulher, antecessora, no Brasil, de um dos
mais elevados médiuns de todos os tempos, que renascerá em Uberaba, Minas
Gerais, em 1910... Quando eu começar a ditar minhas mensagens à Zildinha, ele
já estará com dois aninhos. E prosseguirei, por vários anos, a ditar à Zilda
orientações ao Movimento Espírita... Quando Chico estiver com 17 anos, cessarei
meus comunicados à médium precursora desse missionário. (2)
— Como
estamos em 1908, faltam apenas dois anos para o início do nascimento desse
grande Espírito, ó Kardec. Diga-me algo mais sobre ele, mestre. Roguei-lhe,
humilde.
— Trata-se
de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, que futuramente será eleito “o
maior brasileiro de todos os tempos”. Chico já está no Ministério da
Reencarnação e será o continuador da obra do Consolador, guiado por Emmanuel,
que se prepara para essa missão em esfera de alta elevação.
— Alguém
mais o auxiliará nessa grandiosa tarefa cristã?
— Muitos
médiuns anônimos e estudiosos da Doutrina Espírita estão sendo encaminhados à
Terra para completarem meu trabalho; mas, no Brasil, ainda teremos as obras de
dois gigantes da psicografia, Yvonne Pereira e Divaldo Franco. Este ainda
continuará, por longos anos, a tarefa de divulgação espírita-cristã, pelo dom
da oratória, que Léon Denis está começando...
Antes de
iniciar seu pronunciamento, lembrei a Allan Kardec sobre o anúncio, em seus
escritos póstumos, de previsão da sua reencarnação no início desse século XX,
em que eu deixava a Terra. Gentilmente, ele me respondeu:
— Então não
sabeis que imutável somente Deus o é? Esquecestes-vos de que me foi dito,
também, que se eu não me incumbisse bem de minha tarefa outro me substituiria?
Meu caro, ninguém, na Terra, é insubstituível...
— Quanta
humildade... Pensava eu, quando Victor Hugo me tomou a palavra e disse:
— Pois é...
Kardec foi tão bem em sua tarefa, que o Conselho Superior, representado por
Santo Agostinho, São Luís, e o próprio Paulo de Tarso, entre outros elevados
membros da equipe do Senhor, deu sua missão por concluída com louvor, sem que
haja necessidade de seu retorno à carne. Isso porém não significa que a
Doutrina Espírita esteja acabada e novas revelações sejam desnecessárias. A
base é Jesus e Kardec, mas o edifício apenas começou a ser levantado...
— Isso mesmo,
concluiu Allan Kardec, centenas de obras psicografadas pelos médiuns escolhidos
pelo Senhor e outros mais, de grande elevação espiritual, concluirão minha
obra. E você, Victor, dentro de um século, reencarnará, junto com grande número
de enviados do Senhor para prosseguir com os trabalhos de regeneração do mundo.
— Nada mais
ouvi, pois avistei Carolina se aproximar, sorrindo de alegria, e corri para
seus braços...
No palco, um
jovem trajado à moda romana, irradiando intensa luz, aproximou-se de Kardec e entregou-lhe
pergaminho onde se lia o seguinte título: NO FUTURO(3).
Era
Emmanuel... No horizonte, como se projetado por grande tela, Jesus nos
contemplava, sorrindo, abraçado a Maria.
________________________________________
(1) Na sombra
e na luz; Do calvário ao infinito; Redenção; Dor suprema e Almas crucificadas.
Todas essas obras seriam psicografadas por Zilda Gama, a partir de 1916,
publicadas e reeditadas pela Federação Espírita Brasileira até a época atual.
(2) Ver LOUREIRO, Carlos Bernardo. As
mulheres médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996, p. 435 a 440. Obra esgotada e
a ser reeditada pela FEB.
(3) XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Rio de Janeiro: FEB, cap. 41.
Nota: embora baseada em fatos reais, esta crônica é fruto de pesquisa
e dos devaneios literários de jlo.
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