terça-feira, 21 de junho de 2016

Contos e crônicas



A essência não é deste mundo

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

A ansiedade moderna dispara o coração e acelera o corpo, o tempo, a mente e com essa ânsia de obter algo que nem se denomina e de chegar a um lugar sem direção exata, pois, perdido, desnorteado no turbilhão ilusório da esfera material, o espírito, que não é matéria, mas eternidade, tenta continuar. Ah! Entretanto, ele precisa compreender sua essência, precisa relembrar que é espírito, centelha divina, energia, luz, universo, vida e, só assim, começará a sentir-se com mais harmonia e menos desolação.
E os dias seguem; os laços afetivos se afrouxam; os olhos nem se lembram de observar a lua; as flores nascem e caem; as estações se repetem; os amigos desaparecem; a família passa a ser um grupo de pessoas que simplesmente mora no mesmo lugar, mas não se conhece e nem se quer conhecer, pois, de fato, não é um lar. E por quê? E para quê? A vida não é isso. A vida é a nobreza para o desenvolvimento de tudo o que foi criado pelo seu Criador.
Há tantas maravilhas, temos tanto a nosso alcance. O que precisamos é aprender a usufruir cada delicado presente. Deus já nos presenteou com o ar, a água, os raios solares e lunares, os campos coloridos de flores, os animais, as plantações douradas de trigo, os peixes nos rios e nos mares, as cores do arco-íris, a brisa fresca, o sorriso das crianças, as montanhas, os prados e campinas, as estrelas feito diamantes no azul escuro céu, o abraço de um amigo, a esperança do amanhecer, reconfortantes palavras, a ternura do amado olhar, a liberdade de pensamento, a oportunidade de recomeço, a certeza de que para sempre estaremos vivos. Temos tanto. A partir de agora, o tempo possível, deveremos cuidar mais do que é real e não valorizar tanto o que é efêmero. O que passou já possui outro tempo e espaço, mas o hoje e, consequentemente, o futuro podem ser vividos com bem mais sabedoria e amor. E com essa observação conferida, as tardes, as noites e os amanheceres poderão ser mais harmoniosos e felizes.
A gratidão renascerá e saudará cada célula, órgão, pequenina parte do corpo; cada pássaro colorido animando o céu; cada refeição; cada copo d'água; cada dia de trabalho; cada dia vivido; cada abraço doado... recebido; cada momento especial; cada difícil momento, pois valerá como aprendizado; cada assimilação por meio de leitura, conversa, seminário; cada vez que sentir o vento no rosto; cada segundo pelo qual o pensamento poderá nos levar aonde mais desejarmos... liberdade, pura, liberdade; a gratidão saudará a vida que pulsa no espírito.
Então, que tal vivermos o agora com calma e valor? Temos tanto e não há motivo para incessantemente buscarmos o que não nos completa. A fuga dos dias presentes está assolando parte enorme da humanidade, ou seja, de espíritos que só por enquanto estão encarnados, pois a verdade desses espíritos, já se sabe, é a eternidade.
E quando a calma se expande até podemos nos apresentar à centelha que existe em nós, e podemos conhecê-la melhor e sabermos realmente o que a fará feliz e do que ela necessita. Quando nos acalmarmos poderemos viver conosco e em paz, apreciar a infinidade de formas, cores, imagens, sentimentos e teremos condições de agradecer imensamente ao Senhor e não apenas pedir e pedir sem noção do que realmente precisar.
E os beija-flores continuam a visitar as flores, e a água cristalina desce pela cachoeira, os dias chegam para as noites descansarem e a vida continua para, como agora, nos apresentar um novo tempo com plenas condições de compreensão, amor, paz e valorização do que é de fato a nossa verdade, com menos preocupação material e mais nobreza de sentimento.
Somos eternidade e aprenderemos que somos também amor.

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