domingo, 19 de junho de 2016

Reflexões à luz do Espiritismo



Recebemos da vida o que nós damos a ela

As pessoas que se encolerizam facilmente não sabem, certamente, o mal que causam ao próximo e a si mesmas. Com efeito, segundo aprendemos no Espiritismo, o indivíduo colérico é, sem nenhuma dúvida, a primeira vítima da cólera que não consegue reprimir, mas não a única, conforme podemos verificar nos textos adiante reproduzidos.
No livro Entre a Terra e o Céu, de André Luiz, a benfeitora espiritual Clara refere-se ao tema, confirmando a impropriedade da cólera:
"Sim, indiscutivelmente, a cólera não aproveita a ninguém, não passa de perigoso curto-circuito de nossas forças mentais, por defeito na instalação de nosso mundo emotivo, arremessando raios destruidores, ao redor de nossos passos... Em tais ocasiões, se não encontramos, junto de nós, alguém com o material isolante da oração ou da paciência, o súbito desequilíbrio de nossas energias estabelece os mais altos prejuízos à nossa vida, porque os pensamentos desvairados, em se interiorizando, provocam a temporária cegueira de nossa mente, arrojando-a em sensações de remoto pretérito, nas quais como que descemos quase sem perceber a infelizes experiências da animalidade inferior."
E Clara aduziu, de forma peremptória:
"A cólera, segundo reconhecemos, não pode e nem deve comparecer em nossas observações, relativas à voz. A criatura enfurecida é um dínamo em descontrole, cujo contacto pode gerar as mais estranhas perturbações." (Entre a Terra e o Céu, de André Luiz, obra psicografada por Chico Xavier; cap. XXII, págs. 137 e 138.)
À época de Allan Kardec um protetor espiritual já se havia referido ao tema, como podemos ver no cap. IX d´O Evangelho segundo o Espiritismo:
"Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar. Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de piedade. Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo: a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar por toda a sua vida! Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se por dominá-la. O espírita, ademais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs." (O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec; capítulo IX, item 9.)
No livro Missionários da Luz, de André Luiz, o benfeitor Alexandre ressalta outros aspectos relativos à cólera:
"Nas moléstias da alma, como nas enfermidades do corpo físico, antes da afecção existe o ambiente. Ações produzem efeitos, sentimentos geram criações, pensamentos dão origem a formas e consequências de infinitas expressões. Cada um de nós é responsável pela emissão das forças lançadas em circulação nas correntes da vida. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma. E, qual acontece no terreno das doenças do corpo, o contágio nas enfermidades da alma é fato consumado, desde que a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleçam ambiente propício. Os homens, sobretudo os pais terrestres, com raríssimas exceções, são os primeiros a agir em prejuízo da saúde espiritual da coletividade. Entre abusos do sexo e da alimentação, desde os anos mais tenros, nada mais fazíamos que desenvolver as tendências inferiores, cristalizando hábitos malignos. Não é, pois, de admirar tantas moléstias do corpo e degenerescências psíquicas." (Missionários da Luz, de André Luiz, obra psicografada por Chico Xavier; cap. 4, págs. 38 e 39.)
Evidentemente, conforme acabamos de ver, os males que, devido à cólera, acometem outras pessoas enquadram-se no rol dos atos infelizes que deveremos reparar e certamente expiar, em face da lei de causa e efeito que rege os destinos humanos.
Quando isso se dará?
Em alguns casos, pode ocorrer já na presente existência, porque, como ninguém certamente ignora, todos nós recebemos da vida o que damos a ela.


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