sábado, 11 de fevereiro de 2017

Contos e crônicas


A volta da Febre amarela

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

— Joteli, qual é o animal mais perigoso para o ser humano?
— Com certeza, são dois: em terra, é o cão raivoso; na água, é o tubarão. Nas praias de Recife, por exemplo, quase todo o ano há dois ou três casos de morte por esse peixe...
— Pois eu lhe digo, meu caro Joteli, que mesmo se somássemos as mortes mundiais provocadas pelos animais de grande porte, seja da água ou da terra, constataríamos que a soma de todas as suas vítimas, num ano, é menor do que a causada, num só dia, por um simples mosquito, milhares de vezes menor que nós. Veja, por exemplo, o caso do Aedes aegypti, cuja fêmea nos transmite três doenças que podem deformar o cérebro do recém-nascido ou nos matar: Zika vírus, Dengue hemorrágica e Chikungunya.
— Pois agora a ameaça é a volta da Febre amarela, que tem matado, neste ano, quase cem pessoas, além de milhares de macacos, nossos irmãos primatas... Atualmente, a contagem de humanos mortos por mosquitos, apenas citando os óbitos na terra mineira, está parecendo com o cômputo do aumento de arrecadação do imposto de renda no Brasil.
— Como assim?...
— Há um painel, no Setor Comercial Sul de Brasília, que muda sem parar, sempre para maior, o montante da arrecadação de impostos que pagamos ao governo. Então, imaginei um painel parecido, com o aumento de óbitos por Febre amarela. Seria assim: 60, 61, 62, 63, 64...
Isso somente na Terra do Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos, segundo pesquisas feitas por canais de TV.
— Sim, é verdade, Jo; e ainda lhe digo mais, se o pernilongo fêmea transmissor dessa doença infectar o Aedes, adeus população brasileira. Vai morrer mais gente do que na Segunda Guerra Mundial.
— Isso demonstra que, na Natureza, o verdadeiro sexo forte, entre nós, é a fêmea. Insetos femininos sempre foram o terror dos primatas...
— Para você ver como são as coisas; quando o homem pensava ter erradicado a Febre amarela do Brasil, há quase cem anos, eis que ela ressurge com seu causador, tão voraz quanto antes...
— É por isso, Machado, que tenho minhas dúvidas em relação à teoria da geração espontânea. Já pensou se, “de repente, não mais que de repente”, como dizia Vinícius de Moraes, os dinossauros voltassem?
— Pois eu lhe garanto, Joteli, que mil deles causariam menos estragos do que os que estão para ocorrer, se houver uma proliferação do mosquito Haemagogus, o transmissor da Febre amarela, do meio rural para as cidades de todo o Brasil, quando a transmissão também passa a ser feita pela fêmea do Aedes aegypti.
— É por isso que eu acredito na geração espontânea, Bruxo. Esse inseto é um demagogo...
— Demagogo ou não, se você não se cuidar, logo estaremos nos cumprimentando do lado de cá, meu caro secretário.
— Pois então vou parodiá-lo, meu caro Bruxo, com meu poema intitulado Inseto:

Um inseto, um miserável mosquito
Tem trazido pânico a tanta gente
Setenta anos após ter sido extinto,
E quem esteve são, agora jaz doente...

Mísera, quisera não ser eu homem,
Que dorme aqui na praça sem ter lume,
Enquanto os pernilongos me consomem.
Por que não nasci eu um vaga-lume?

— Vá treinando, Joteli, também fui mau poeta... adeus!







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