Os desencarnados dispõem, sim, de inúmeras opções de lazer
Um amigo perguntou-nos como é o clima nas cidades
espirituais e se é possível desfrutarmos nelas as benesses de um banho de sol.
Antes de qualquer coisa, é importante dizer que o
assunto não é tratado nas obras fundamentais da doutrina espírita, mas somente,
e de forma indireta, em alguns textos e livros de natureza mediúnica, como
podemos encontrar, por exemplo, no livro O
mundo em que eu vivo, do Espírito de Silveira Sampaio, psicografado por
Zíbia M. Gasparetto, e no conhecidíssimo Nosso
Lar, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Em ambos há referência ao chamado repouso e às
opções de lazer que existem nas chamadas cidades espirituais mais próximas da
crosta terrestre. Quanto às localidades em que vivem entidades desencarnadas
mais evoluídas, nada ou muito pouco, pelo que sabemos, existe na literatura
espírita.
Excursões ao Bosque das Águas, as harmonias do
Campo da Música, as palestras ao ar livre, a notícia pertinente aos Campos de
Repouso – eis referências que as pessoas que leram Nosso Lar conhecem perfeitamente.
Eis, na sequência, algumas informações extraídas
da obra de André Luiz que nos parecem suficientes para responder ao nosso
amigo:
Clarêncio, que se apoiava num cajado de substância
luminosa, deteve-se à frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos
de trepadeiras floridas e graciosas. Tateando um ponto da muralha, fez-se longa
abertura, através da qual penetramos, silenciosos. Branda claridade inundava
ali todas as coisas. Ao longe, gracioso foco de luz dava a ideia de um pôr do
sol em tardes primaveris. À medida que avançávamos, conseguia identificar
preciosas construções, situadas em extensos jardins. (Nosso Lar, cap. 3.)
Envolvendo os dois enfermeiros na vibração do meu
reconhecimento, esforcei-me por lhes dirigir a palavra, conseguindo dizer por
fim:
– Amigos, por quem sois, explicai-me em que novo
mundo me encontro... De que estrela me vem, agora, esta luz confortadora e
brilhante?
Um deles afagou-me a fronte, como se fora
conhecido pessoal de longo tempo e acentuou:
– Estamos nas esferas espirituais vizinhas da
Terra, e o Sol que nos ilumina, neste momento, é o mesmo que nos vivificava o corpo
físico. Aqui, entretanto, nossa percepção visual é muito mais rica. A estrela
que o Senhor acendeu para os nossos trabalhos terrestres é mais preciosa e bela
do que a supomos quando no círculo carnal. Nosso Sol é a divina matriz da vida,
e a claridade que irradia provém do Autor da Criação. (Nosso Lar, cap. 3.)
No dia imediato, após reparador e profundo
repouso, experimentei a bênção radiosa do Sol amigo, qual suave mensagem ao
coração. Claridade reconfortante atravessava ampla janela, inundando o recinto
de cariciosa luz. Sentia-me outro. Energias novas tocavam-me o íntimo. Tinha a
impressão de sorver a alegria da vida, a longos haustos. Na alma, apenas um
ponto sombrio – a saudade do lar, o apego à família que ficara distante.
Numerosas interrogações pairavam-me na mente, mas tão grande era a sensação de
alívio que eu sossegava o espírito, longe de qualquer interpelação. (Nosso Lar, cap. 4.)
Aqui, em verdade, a lei do descanso é
rigorosamente observada, para que determinados servidores não fiquem mais
sobrecarregados que outros; mas a lei do trabalho é também rigorosamente
cumprida. No que concerne ao repouso, a única exceção é o próprio Governador,
que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno. (Nosso Lar, cap. 11.)
Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes. O
bosque, em floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante
perfume. Tudo em prodígio de cores e luzes cariciosas. Entre margens bordadas
de grama viçosa, toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de
grandes proporções. A corrente rolava tranquila, mas tão cristalina que parecia
tonalizada em matiz celeste, em vista dos reflexos do firmamento. Estradas
largas cortavam a verdura da paisagem. Plantadas a espaços regulares, árvores
frondosas ofereciam sombra amiga, à maneira de pousos deliciosos, na claridade
do Sol confortador. Bancos de caprichosos formatos convidavam ao descanso. Notando
o meu deslumbramento, Lísias explicou:
– Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui uma das
mais belas regiões de "Nosso Lar". Trata-se de um dos locais
prediletos para as excursões dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas
promessas de amor e fidelidade, para as experiências da Terra. (Nosso Lar, cap. 10.)
Nos círculos religiosos do planeta, ensinam que o
Senhor criou as águas. Ora, é lógico que todo serviço criado precisa de
energias e braços para ser convenientemente mantido. Nesta cidade espiritual,
aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus divinos colaboradores semelhante
dádiva. Conhecendo-a mais intimamente, sabemos que a água é veículo dos mais
poderosos para os fluidos de qualquer natureza. Aqui, ela é empregada sobretudo
como alimento e remédio. Há repartições no Ministério do Auxílio absolutamente
consagradas à manipulação de água pura, com certos princípios suscetíveis de
serem captados na luz do Sol e no magnetismo espiritual. Na maioria das regiões
da extensa colônia, o sistema de alimentação tem aí suas bases. (Nosso Lar, cap. 10 – explicações dadas
por Lísias.)
Sorriu a senhora Laura, parecendo mais encorajada,
e asseverou:
– Tenho solicitado o socorro espiritual de todos
os companheiros, a fim de manter-me vigilante nas lições aqui recebidas. Bem
sei que a Terra está cheia da grandeza divina. Basta recordar que o nosso Sol é
o mesmo que alimenta os homens; no entanto, meu caro Ministro, tenho receio
daquele olvido temporário em que nos precipitamos. Sinto-me qual enferma que se
curou de numerosas feridas... Em verdade, as úlceras não mais me apoquentam,
mas conservo as cicatrizes. Bastaria um leve arranhão, para voltar a
enfermidade. (Nosso Lar, cap. 47.)
Em face de tantas e tão expressivas informações,
cremos que nosso amigo e o leitor têm em mãos a resposta à pergunta que nos foi
apresentada.
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