CINCO-MARIAS
Pais muito exigentes,
filhos inseguros e infelizes
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Ajude-me a crescer, mas deixe-me ser eu mesmo. Maria Montessori
No geral, os pais querem o melhor para seus filhos.
Eles se dedicam e se sacrificam, sem receio, pois sabem que o desenvolvimento
saudável dos filhos deles depende também.
Sim, há o cuidado, a atenção, o estímulo. Contudo,
de outro lado, muitos pais também passam dos limites, exigindo demais dos
filhos, e desde a infância. E o excesso nunca é saudável…
Crianças têm suas individualidades, seus
temperamentos, seus limites. E, tal como qualquer adulto, elas também precisam
ser respeitadas em seus direitos e necessidades.
Pais rigorosos devem ficar atentos para não
exagerarem na dose. Infelizmente, muitas vezes o adulto não percebe que uma
cobrança inadequada à idade ou um comentário crítico, rude, traz prejuízo à
criança.
Há pais que dizem de forma reiterada e que sempre
ressoa tão injusta: “Tirou 8, mas poderia ser 10”. O que esses pais não
percebem é que essa frase transmite a ideia de que a criança só vai ter
reconhecimento se for “mais”. E isso gera pessoas ansiosas, insatisfeitas,
perfeccionistas. De outro lado, palavras positivas, que valorizam o esforço,
levam as crianças, naturalmente, a melhores notas e a uma convivência mais
tranquila com o erro (e que é essencial para o aprendizado, para a vida).
Toda criança precisa de incentivo, mas a maneira de
o adulto se expressar ou propor metas contará muito para a formação da
autoestima da criança. Por isso, é importante dar à criança desafios
compatíveis com a idade. Há pais que pouco reconhecem o valor e as conquistas
dos filhos. O escritor Franz Kafka relatou seu sofrimento nas mãos de um pai
excessivamente exigente, mestre em despertar o medo e empenhado em desmerecê-lo
e puni-lo. Esse tratamento não impediu que seu talento como escritor se
manifestasse, contudo o transformou em um adulto infeliz.
Na verdade, educar (ou orientar) é distinto de
cobrar… E, embora a sociedade esteja cada vez mais dominada pelo
desempenho, a criança, sobretudo na primeira infância, não pode ser pressionada
com uma série de demandas cotidianas. Sua principal tarefa está associada ao
brincar. Até porque o brinquedo põe a criança à prova. É um desafio e testa
suas habilidades. E isso basta para quem está no começo da vida...
Não podemos esquecer: os pais são figuras de
autoridade e de acolhimento. Se o pai tem atitude austera e só cobra, não
reforça positivamente a criança. E quanto maior a pressão, maior o risco de a
criança ficar estressada, ansiosa, infeliz e ter depressão…
Quer educar bem o seu filho? No dia a dia, você
pode oferecer ajuda com as tarefas, perguntar se seus filhos fizeram os deveres
e até pedir compromisso com os prazos. Mas exigir de modo excessivo não é a
conduta eficaz para garantir organização, crescimento saudável e alegria.
Notinha
A pressão dos pais (mesmo não intencional) pode manifestar-se
de diferentes formas: cobrança por tirar as melhores notas da sala; comparação
com irmãos de outras idades, primos, vizinhos ou outros conhecidos; imposição
da escolha profissional; exigência de que as crianças passem tardes estudando e
sem lhes dar tempo para brincar/descansar.
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da
consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de
São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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