Comunicações mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 10
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Diz Bozzano que nos casos arrolados neste livro há os
que sugerem, de um lado, a presença real de uma entidade comunicante, de outro
a tese oposta de uma comunicação puramente telepática. Como entender isso?
B. Quem foi William Stead?
C. Quem sugeriu a William Stead estabelecer intercâmbio
mediúnico com pessoas vivas?
Texto para leitura
Caso 10
136. Este depoimento foi colhido no livro de William H.
Harrison, intitulado Spirit before our eyes (pág. 173). Escreveu ele que
este caso lhe foi enviado de Vervey, Suíça, em 3 de março de 1875, pelo
príncipe Emílio de Sayn-Wittgeinstein, que foi ajudante-de-campo do Imperador
da Rússia durante a guerra turco-russa de 1878. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
137. Eis o relato do príncipe:
“Há cerca de um ano, tentei convencer uma jovem senhora de
que o seu espírito, em condições especiais, poderia afastar-se do corpo para
agir independentemente. Depois de insistentes pedidos meus, concordou em
confiar-me uma de suas luvas, por meio da qual eu esperava chegar a pôr-me em
relação magnética com ela, embora nunca a houvesse magnetizado.
Separamo-nos no mesmo dia e, apenas as circunstâncias mo
permitiram, tentei a primeira experiência, em hora avançada da noite, para que
a dama em questão se achasse em profundo sono. Fiquei com a luva na mão
esquerda e o lápis na direita, pousando-o sobre uma folha de papel, e
concentrei o pensamento nela. Não tive de esperar muito tempo, pois logo me
senti influenciado, e o lápis começou a responder a várias perguntas mentais
que fui fazendo. Nesta experiência estávamos separados por meio dia de viagem.
Continuei as mesmas práticas por várias semanas, durante as
quais a luva foi perdendo gradualmente a influência que a tornava ativa, de
modo que também as manifestações se foram enfraquecendo até cessarem de todo. Vim
a saber que, durante as minhas experiências, a referida senhora tivera muitas
vezes sonhos comigo, de clareza extraordinária e que, num desses sonhos, ela me
havia visto com tamanha nitidez, que pôde descrever a roupa com a qual me
achava vestido e o quarto que ocupava, tudo correspondendo à verdade. Além
disso, ela me confirmou a exatidão dos numerosos incidentes que chegaram ao meu
conhecimento ditados mediunicamente por ela, durante o sono.
Toda vez que o seu espírito respondia ao meu chamado eu
sentia um agradável calafrio correr-me pelas costas, enquanto uma espécie de
disco, do tamanho de um prato, do qual emanava uma luz amarelada, aparecia no
ar e se deslocava sempre de um lado para outro. Tal disco luminoso aparecia
logo que o lápis começava a escrever e desaparecia no momento em que a escrita
parava. Algumas vezes o lápis sofria um abalo violento quando acontecia a
interrupção da mensagem, mas esta logo depois recomeçava, como se nada houvesse
sucedido. Perguntei qual o motivo dessas bruscas interrupções e foi-me
respondido serem elas consequência dos rumores imprevistos que, naquele mesmo
instante, haviam perturbado o sono da senhora que se achava em comunicação
mediúnica comigo.
O incidente mais estranho, porém, está por ser contado, e
me declaro incapaz de interpretá-lo, razão pela qual ficarei muito grato a quem
puder fazê-lo. Certa noite em que estava recebendo a influência dela, escrevi
longa mensagem que se referia a um baile no qual pretendia ter tomado parte na
noite precedente. Descreveu-me, com juvenil entusiasmo, o lindo vestido que
usara, as pessoas com as quais havia dançado, fazendo sobre algumas delas
observações maliciosas e, finalmente, confiava-me que, num dado momento, se
tomara de forte mau humor, sentando-se a um canto afastado da sala e
respondendo com despeito a quem dela se aproximava, bem como se recusara a
continuar tomando parte nas danças. Vários meses após encontrei-me com a irmã
dela pela qual soube que naquela noite, a minha “correspondente espiritual”
achava-se ausente, numa excursão que durara uma semana, e que fora ela, a irmã,
quem estivera no referido baile, vestida com a roupa por mim descrita e que,
efetivamente, se havia portado de modo despeitoso e impertinente para quem dela
se acercava. Em suma, confirmou, em todos os pormenores, a narração por mim
obtida mediunicamente.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
138. Essa é a interessante narrativa do príncipe de
Wittgeinstein. O incidente final de substituição da personalidade mediúnica,
que ao príncipe pareceu muito enigmático, na realidade não o é. De fato,
podemos explicá-lo facilmente, observando que a circunstância da “relação
psíquica” existente naquele momento entre o sensitivo-agente e o ambiente
longínquo em que morava a dama procurada, é suficiente para dar a razão do
acontecido. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
139. Tal circunstância nos autoriza a inferir que, não se
achando em casa a senhora em questão, mas sim a sua irmã, naquele momento
imersa no sono, pela “lei de afinidade” existente no ambiente em que estava
dormindo, foi ela quem entrou em relação psíquica com o agente afastado, no
lugar da irmã ausente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
140. Como o príncipe estivesse firmemente persuadido de
achar-se em relação com a senhora habitual, essa convicção provocou, por
autossugestão, um fenômeno de interferência subconsciente, que levou a mão do
sensitivo a firmar, erroneamente, a mensagem com o nome daquela que ele supunha
presente. De tais espécies de interferências estão cheios os anais da
casuística mediúnica. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
141. Além disso observa-se no caso exposto o incidente do
disco luminoso que aparecia quando a mão do médium traçava automaticamente as
primeiras palavras e desaparecia quando a escrita cessava. O incidente tenderia
a demonstrar a presença real da entidade espiritual comunicante no local. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
142. Nos casos telepáticos, como nestes aqui considerados,
alternam-se constantemente episódios que tendem a demonstrar ora a presença
real de uma entidade comunicante, ora a tese oposta de uma comunicação
puramente telepática ou telepático-mediúnica, isto é, de uma pura transmissão
do pensamento a distância. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
143. Tais perplexidades teóricas, produzidas por
alternativas episódicas de significação oposta, não se resolvem senão admitindo
a possibilidade de se realizarem ambas as modalidades de manifestação
fenomênica segundo as circunstâncias. Tudo concorre para provar que a solução
do problema seja a mais digna de consideração. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
144. Bozzano adverte, por fim, que não era hora de se
iniciarem discussões teóricas a propósito deste primeiro exemplo de
comunicações mediúnicas entre vivos, em que o agente colhe segredos pessoais de
sensitivos distantes, mergulhados no sono, devendo esperar para o fazermos
quando houver melhores elementos de discussão, sejam a favor ou contra. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
145. Ele observa, no entanto, que a objeção formulada pelos
opositores à hipótese espírita consiste em observar que, se o médium é capaz de
extrair informações reservadas na subconsciência de determinadas pessoas
distantes, imersas no sono, tal fato infirma as provas de identificação
espírita fundadas em informes pessoais ignorados dos médiuns e dos presentes,
que fornecem os supostos mortos comunicantes, levando-se em conta que se poderia
sustentar sempre, a tal propósito, que o médium retire todos os informes das
subconsciências das pessoas vivas que tenham conhecido os mortos. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
146. Viu-se, porém, na introdução ao presente subgrupo, que
a objeção não resiste a outras importantes circunstâncias de fato e, acima de
tudo, viu-se também que ela não fica de pé diante da necessidade da “relação
psíquica”, que serve para condicionar e, portanto, para limitar os poderes da
subconsciência. Dentro em pouco ver-se-á como tal hipótese se esboroa diante da
análise comparada dos fatos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância. Subgrupo C)
Caso 11
147. Também a célebre escritora inglesa Florence Marryat,
que era dotada de notabilíssimas faculdades mediúnicas, especialmente de
psicografia e tiptologia, fez numerosas experiências com pessoas distantes. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
148. Eis uma dessas experiências, que se encontra em seu
livro There is no death (pág. 41):
“Tais comunicações mediúnicas com espíritos de vivos são,
indubitavelmente, das mais curiosas que já obtive. Em várias circunstâncias
quando, sobre um dado acontecimento, eu não chegava a conhecer a verdade
diretamente das pessoas interessadas em ocultá-la, eu me sentava diante da
‘mesinha mediúnica’, em hora que sabia acharem-se adormecidas as pessoas, e
concentrava o pensamento sobre elas, convidando-as a me virem revelar,
sinceramente, a verdade, pela tiptologia, o que quase nunca deixava de se
realizar. De modo que, quando tais pessoas viam que eu estava plenamente
informada do que elas me haviam escondido, ficavam pasmadas e por certo não
imaginavam qual tivesse sido a minha fonte de informações.
Observo que o poder de se comunicar com os espíritos dos
vivos não é comum a todos os médiuns, mas eu sempre o possuí, e posso
consegui-lo, tanto com pessoas adormecidas como em estado de vigília, conquanto
neste último caso a experiência seja mais difícil. Um senhor do meu
conhecimento certa vez me desafiou a tentar com ele. Oculto-lhe o nome, porque
a tentativa o tornou risível.
Esperei que ele fosse convidado para um jantar de gala e
então, cerca de nove horas da noite, sentei-me à mesinha e, pensando intensamente
nele, chamei-o resolutamente. Ele hesitou um pouco em vir e, quando chegou,
estava de muito mau humor. Apanhei papel e lápis e, ditados por ele, escrevi os
nomes de todos os convidados presentes no banquete, de todos os pratos servidos
e depois, comovida pelas suas ardentes súplicas, deixei que se fosse.” (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
149. Na sequência do seu relato, a escritora Florence
Marryat acrescentou o seguinte trecho, que se inicia com um diálogo com o amigo
evocado:
– A senhora está me levando ao ridículo. Todos se riem de
mim!
– Por quê? O que o senhor está fazendo?
– Estou caído em profundo sono em cima da toalha da mesa.
No dia seguinte, confuso e humilhado, foi ele procurar-me e
perguntou:
– Foi a senhora que ontem à noite atuou sobre mim? Eu me
achava num jantar em casa do Sr. Watts Philips e, terminada a refeição, caí
inesperadamente em profundo sono, com a cabeça entre as mãos. Os convidados
tentaram acordar-me, sem o conseguir. Estou certo de que a senhora me preparou
uma grande peça.
– Não quero ocultar – respondi – que ontem resolvi aceitar
o seu desafio, impondo-lhe que fizesse o que lhe parecia impossível forçá-lo a
fazer. Gostou da sopa branca? E o peixe, estava bom? Que me diz do pão doce?
Ele ficou perturbado ao ouvir-me enumerar os pratos
servidos no jantar, e o seu espanto subiu ao máximo quando lhe mostrei a folha
de papel escrita com o que me ditou. Devo declarar que não tenho o costume de
proceder assim com os vivos, mas sou uma pessoa terrível quando me desafiam a
fazer alguma coisa. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
Casos 12 a 19
150. Trata-se de episódios narrados pelo célebre escritor e
jornalista inglês William Stead. Como se sabe, possuía ele, em grau
notabilíssimo, a faculdade mediúnica da escrita automática (psicografia), pela
qual lhe foi ditado o livrinho de ouro de revelações transcendentais intitulado
Letters from Julia. Além disso, conseguia sistematicamente entrar em
relações mediúnicas e conversar, livremente, com pessoas vivas que se achavam a
distância, obtendo muitas vezes confissões e informações que as mesmas pessoas
nunca lhe teriam confiado, em condições normais. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
151. Ele nunca havia pensado na possibilidade de conversas
supranormais de tal natureza e foi a personalidade mediúnica de Júlia que lhe
sugeriu essa ideia, a título de experiência. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
152. Numa famosa conferência realizada na sede da The
London Spiritualist Aliance, em 1893, conta ele, nas seguintes palavras, o
seu começo nessa espécie de experiências:
“Certo dia Júlia escreveu: ‘Por que te surpreendes que eu
possa servir-me da tua mão para escrever à minha amiga? Qualquer um pode
fazê-lo’ e eu lhe perguntei: ‘Que queres dizer com este qualquer um?’, ao que
ela respondeu: ‘Qualquer um, isto é, qualquer pessoa pode escrever com a tua
mão’. Perguntei ainda: ‘Queres dizer qualquer pessoa viva?’ e ela replicou
‘Qualquer amigo teu pode escrever com a tua mão’, ao que observei: ‘Queres
dizer que se eu puser a minha mão à disposição de qualquer amigo distante
poderá ele servir-se dela do mesmo modo que tu o fazes?’ e ela respondeu: ‘Sim,
experimenta e verás’. Ora, parecia-me difícil a tarefa, mas resolvi fazer a
tentativa e os seus resultados foram imediatos e assombrosos.” (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua
no próximo número.)
Respostas às questões
preliminares
A. Diz Bozzano que nos casos arrolados neste livro há os
que sugerem, de um lado, a presença real de uma entidade comunicante, de outro
a tese oposta de uma comunicação puramente telepática. Como entender isso?
Segundo Bozzano, tais perplexidades teóricas, produzidas
por alternativas episódicas de significação oposta, não se resolvem senão
admitindo a possibilidade de se realizarem ambas as modalidades de manifestação
fenomênica, segundo as circunstâncias. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
B. Quem foi William Stead?
Stead foi um célebre escritor e
jornalista inglês. Possuía ele, em grau notabilíssimo, a faculdade mediúnica da
escrita automática (psicografia), pela qual lhe foi ditado o livrinho de ouro
de revelações transcendentais intitulado Letters from Julia. Além disso,
conseguia sistematicamente entrar em relações mediúnicas e conversar,
livremente, com pessoas vivas que se achavam a distância, obtendo muitas vezes
confissões e informações que as mesmas pessoas nunca lhe teriam confiado em
condições normais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
C. Quem sugeriu a William Stead estabelecer intercâmbio
mediúnico com pessoas vivas?
Foi a personalidade mediúnica de Júlia que lhe sugeriu essa
ideia, a título de experiência. Certo dia Júlia lhe disse que qualquer pessoa
poderia escrever por sua mão. Stead perguntou-lhe: “Queres dizer qualquer
pessoa viva?” Ela respondeu: “Qualquer amigo teu pode escrever com a tua mão”.
Ele, a título de confirmação, perguntou novamente: “‘Queres dizer que se eu
puser a minha mão à disposição de qualquer amigo distante poderá ele servir-se
dela do mesmo modo que tu o fazes?” Ela confirmou: “Sim, experimenta e verás”.
William Stead resolveu fazer a tentativa e seus resultados foram imediatos e
assombrosos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
Observação:
Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/03/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0616583884.html
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