A pergunta que dá título a este texto
foi-nos proposta por um amigo.
Em primeiro lugar, é bom recordar que a palavra Cristo [do lat. Christu e gr. Christós,
'o que foi ungido'] significa messias, redentor, ungido. Nesse sentido, o nome
Cristo, referindo-se a Jesus de Nazaré, foi largamente usado por Paulo de Tarso
em suas cartas, por Lucas em Atos dos Apóstolos, por João Evangelista no seu
Evangelho e – em quase todas as suas obras – por Allan Kardec, o Codificador do
Espiritismo.
Eis algumas passagens em que Kardec o utilizou:
“A moral dos
Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica:
Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o
bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de
proceder, mesmo para as suas menores ações.” (O Livro dos Espíritos, introdução.)
“Entre os Espíritos
inferiores, muitos há que são infelizes. Quaisquer que sejam as faltas que
estejam expiando, seus sofrimentos constituem títulos tanto maiores à nossa comiseração,
quanto é certo que ninguém pode lisonjear-se de lhe não caberem estas palavras
do Cristo: ‘Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado’." (O Livro dos Médiuns, cap. XXV.)
“Podem dividir-se em
cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do
Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para
fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido
objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente
inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É
terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos
colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu
matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram
das questões dogmáticas.”(O Evangelho segundo
o Espiritismo, introdução, item I.)
“Uma nuvem de maus
Espíritos pode invadir uma localidade, e
ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero
que maltratou a Judeia ao tempo do Cristo; ora,
o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios,
ou maus Espíritos, uma superioridade moral tal que lhe bastava ordenar-lhes
para se retirarem, para que eles o fizessem, e não empregava para isso nem
sinais, nem fórmulas.” (Obras Póstumas,
Manifestações dos Espíritos, item 60.)
*
O motivo que, com certeza, levou Kardec a usar a palavra ora
examinada está relacionado à ideia de Missionário divino atribuída a Jesus, a
qual aparece com clareza em inúmeras passagens das obras de Kardec.
Vejamos:
No seu comentário à resposta dada à pergunta 625 d' O
Livro dos Espíritos ("Qual o tipo mais perfeito que Deus
ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e de modelo? R.: Vede Jesus"),
o Codificador escreveu: "Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral
a que pode aspirar a humanidade na Terra. Deu no-lo oferece como o mais
perfeito modelo, e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua
lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já
apareceu sobre a Terra".
E o mesmo ensino se lê em Obras Póstumas ,
págs. 136 e seguintes: "Jesus era um messias divino pelo duplo motivo
de que de Deus é que tinha a sua missão e de que suas perfeições o punham em
relação direta com Deus." (...) “É o
filho bem-amado de Deus, porque, tendo alcançado a perfeição, que aproxima de
Deus a criatura, possui toda a confiança e toda a afeição de Deus.”
Não existe, pois, razão nenhuma para a
estranheza suscitada pela pergunta de nosso amigo.
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