sábado, 26 de abril de 2014

Somos vontade


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

– E então, Bruxo do Cosme Velho, você continua achando que a única coisa que é nossa mesmo é a vontade?
– Adoro essa alcunha. Melhor ainda que mago ou feiticeiro... Não somente acho, como tenho certeza. Somos vontadezinhas emanadas da Grande Vontade, que é Deus. Assim como o egoísmo é a fonte de todos os vícios e males (KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, q. 913), a vontade é quem determina nossa direção no bem ou no mal.
– E os pensamentos, não disse Jesus para vigiá-los, Machado?
– Isso mesmo. O pensamento é a manifestação da vontade. Se quisermos mudá-lo, precisamos fortificar nossa vontade, assim como é preciso mudar os maus hábitos, se desejamos nos livrar do egoísmo. Se quisermos que ele seja bom, é preciso vigiá-lo e direcioná-lo ao bem. Nesse sentido, o melhor tratamento é a oração. Olhar, orar e vigiar... Ao nos recomendar isso, o Cristo, Vontade una com o Criador, dirigia-se à nossa vontade.
– Mas uma mentirinha todo mundo diz...
– É nisso que está o erro. “Quem é fiel no muito o é também no pouco”, já dizia o Cristo. Se não conseguirmos ser autênticos no mínimo, como vamos sê-lo no muito? (Lucas, 10:16). Tal comportamento apenas demonstra o quanto descentralizada é nossa identidade.
Autenticidade ainda é para poucos...
– Essa “autenticidade” não demonstra um rompimento com a descentralização da identidade cultural, Bruxo?
– Pelo contrário, Joteli, patenteia a vitória da vontade sobre as paixões e, consequentemente, nos associa às identidades mais aperfeiçoadas.
A perfeição resulta do domínio da vontade sobre os vícios. O Absoluto possui a Vontade Suprema. Igualar-se a Ele é a nossa eterna finalidade. Por isso, o Cristo recomendou-nos: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus, 5: 48).
– Muito profundo... Vou refletir bastante sobre isso.
– “Em Deus existimos, em Deus nos movemos”, disse, se me não engano, Paulo de Tarso. E esse movimento, quando equilibrado, é a manifestação da Vontade Divina.
– Faz sentido, Machado, faz sentido...
– Fiat lux! E a luz foi feita. Desde então, fazer a Vontade de Deus é criar a própria luz. Somos vontadezinhas que só terão luzes reais quando estivermos em perfeita sintonia com a Vontade-Luz.
– E o que acontece quando essa vontadezinha não atuar em sintonia com a Vontade Maior, meu caro Bruxo?
– Trevas, amigo, somente trevas.
– Algo mais a dizer ao leitor, Machado?
– Brindo-o com o reverso metafraseado do meu soneto Círculo vicioso:

                     Círculo virtuoso

Até quando estarei piscando nestas trevas?
Indagava choroso e triste o vaga-lume
A contemplar, ralado de inveja e ciúme,
A intermitente luz faiscante das estrelas.

Uma estrela, porém, das menores dentre elas,
Cuja forma era opaca e era pouco o seu lume,
Contemplou, nesse instante, a maior das estrelas
E a sorrir respondeu: também fui vaga-lume.

Transitei do minério para o vegetal
Empós fui animal e depois hominal.
Cheguei à angelitude, enfim, pela vontade

Que move o mundo e cresce rumo ao grande astral.
E é por isso que anseio o brilho mineral
Dessa estrela gigante, a Estrela da Verdade.


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