Prosseguimos
ontem à noite, no Centro Espírita Nosso Lar (Londrina, PR), o estudo sequencial
do livro Ação e Reação, obra de André
Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957
pela Federação Espírita Brasileira.
Eis o texto
que serviu de base ao estudo realizado:
Questões para debate
A. Até quando
os internos na casa cuidada por Orzil ali ficariam?
B. Que
diferença existe, quanto aos seus efeitos, entre o bem e o mal?
C. As regiões
espirituais menos elevadas proporcionam ao Espírito oportunidades de
crescimento?
Texto para leitura
29. Um enfermo em chagas – Dava para
notar a intraduzível angústia daquele Espírito, entre o remorso e o arrependimento,
mas, a leve chamado de Silas, despertou como fera roubada à quietude do sono,
bramindo: "Não há testemunhas... Não há testemunhas!... Não fui eu quem
atropelou o infeliz, não obstante o odiasse com razão... Que pretendem de mim?
Denunciar-me? Covardes! Espreitavam, então, a rua morta?" Ninguém lhe
respondeu, e o grupo se afastou, compadecido. Aqueles irmãos infelizes viviam
entre as imagens mantidas por eles mesmos, através da força mental com que as
alimentavam.
A equipe
acercou-se então do terceiro cubículo, onde um homem feridento esvurmava(1)
as feias chagas, usando as próprias unhas. A atmosfera francamente pestilencial
exigia enorme disciplina contra a eclosão de náuseas em todos. Percebendo
a presença do grupo, o doente avançou, clamando amargamente:
"Compadecei-vos de mim! Sois médicos? Atendei-me por amor de Deus! Vede os
detritos em que me apoio!..." De fato, André viu que o mísero se
movimentava num montão de sujeira, coberto por filetes de sangue podre, mas o
quadro repugnante era constituído pelas emanações mentais do próprio enfermo.
"Doutores! – continuou ele – há quem diga que roubei dos outros, a fim de
satisfazer meus vícios no alcoice(2) que eu frequentava... Mas é
mentira, é mentira!... Juro-vos que morava no bordel por espírito de caridade...
As mulheres desditosas requeriam defesa... Auxiliei-as quanto pude... Ainda
assim, adquiri, junto delas, a enfermidade que me aniquilou o corpo físico e
que ainda me empesta a respiração, convertendo-se aqui em meu próprio
hálito!... Socorrei-me por quem sois!... Socorrei-me por quem sois!..." A
repetição dos rogos, porém, derramava-se em tom imperativo, como se as palavras
humildes do petitório fossem apenas o disfarce de uma ordem tiranizante.
Tratava-se de antigo e inveterado gozador que despendeu em prazeres inúteis
largos recursos que lhe não pertenciam. "Por muito tempo ainda – explicou
Silas –, a mente dele oscilará entre a irritação e o desencanto, nutrindo o
ambiente horrível de que se fez o fulcro desequilibrado." (Capítulo 5, pp.
67 a 69)
30. O bem nos liberta, o mal aprisiona
- De retorno ao tugúrio de Orzil, Silas informou que aqueles enfermos
permaneceriam presos ali, até se renovarem. E explicou: "O problema é de
natureza mental. Modifiquem as próprias ideias e modificar-se-ão". Na sequência,
após ligeira pausa, acrescentou: "Isso, porém, não é tão fácil.
Consagram-se vocês, presentemente, a estudos especiais dos princípios de causa
e efeito. Fiquem pois sabendo que nossas criações mentais preponderam
fatalmente em nossa vida. Libertam-nos quando se enraízam no bem que sintetiza
as Leis Divinas, e encarceram-nos quando se firmam no mal, que nos expressa a
delinquência responsável, enleando-nos por essa razão ao visco sutil da culpa.
Afirma velho aforismo popular na Terra que `o criminoso volta ao local do
crime'. Daqui podemos asseverar que, mesmo desfrutando a possibilidade de
ausentar-se da paisagem do crime, o pensamento do criminoso está preso ao
ambiente e à própria substância da falta cometida". Silas lembrou então
que o pensamento, atuando à feição de onda, possui velocidade muito superior à
da luz e que toda mente é dínamo gerador de força criativa. "Ora, sabendo
que o bem é expansão da luz e que o mal é condensação da sombra – asseverou o
Assistente –, quando nos transviamos na crueldade para com os outros, nossos
pensamentos, ondas de energia sutil, de passagem pelos lugares e criaturas,
situações e coisas que nos afetam a memória, agem e reagem sobre si mesmos, em
circuito fechado, e trazem-nos, assim, de volta, as sensações desagradáveis,
hauridas ao contacto de nossas obras inferiores." Assim é que as ondas do
pensamento paternal do velho usurário, dirigidas a seus filhos, voltavam a ele
carregadas pelos princípios mentais de ódio e egoísmo dos jovens litigantes, do
mesmo modo que o companheiro em chagas reabsorvia as ondas de seu próprio campo
mental, acumuladas de fatores deprimentes, que a elas se incorporavam nos
lugares por onde passavam, restituídas a ele com multiplicados elementos de
corrupção. Ante a lição recebida, Hilário observou: "Agora percebo com
mais clareza o benefício concreto da oração e da piedade, da simpatia e do
socorro que, na Terra, deveríamos dispensar, sinceramente, aos chamados
mortos..." "Sim, sim... – respondeu Silas – todos estamos ligados uns
aos outros, na carne e fora da carne, e achamo-nos livres ou prisioneiros, no
campo da experiência, segundo as nossas obras, através dos vínculos de nossa
vida mental." "O bem é a luz que liberta, o mal é a treva que
aprisiona... Estudando as leis do destino, é preciso atentar para semelhantes
realidades indefectíveis e eternas." (Capítulo 5, pp. 69 a 71)
31. No serviço da prece - O serviço
da prece em conjunto era realizado na Mansão, duas vezes por semana, em local
próprio. Nessas ocasiões materializavam-se, habitualmente, um ou outro dos
orientadores que, de esferas mais altas, superintendiam a instituição. Druso e
seus assessores mais responsáveis recolhiam então, na oportunidade, ordens e
instruções variadas, pertinentes aos numerosos processos em movimento, ao mesmo
tempo em que questões eram respondidas e providências de trabalho eram, com
segurança, indicadas. Convidado a participar da prece, André rogou a Jesus
inspiração para que sua presença não fosse ali motivo de perturbação. Druso
recebeu André e Hilário em uma sala simples, onde em uma vasta mesa, ladeada de
poltronas modestas, se acomodavam dez pessoas simpáticas – sete mulheres e três
homens. Na cabeceira bem ampla sentou-se o diretor da casa; do outro lado, à
frente, surgia larga tela translúcida, medindo aproximadamente seis metros
quadrados. Qual seria a função dos dez companheiros postados ao lado de Druso?
"São amigos nossos que aprimoraram condições mediúnicas favoráveis à
realização dos serviços a se desdobrarem aqui", informou Silas. "Colaboram
com fluidos vitais e elementos radiantes, altamente sublimados, de que os
nossos Instrutores se servem com eficiência para se manifestarem."
(Capítulo 6, pp. 73 a
75)
32. Mediunidade na vida espiritual -
Seriam eles santos em atividade na Mansão? A esta pergunta despropositada de
Hilário, Silas respondeu, bem-humorado: "De modo algum. São trabalhadores
prestimosos. Tanto quanto nós, padecem ainda a pressão de reminiscências
perturbadoras do plano físico, carreando consigo as raízes dos débitos que adquiriram
no passado, para o justo resgate em porvir talvez próximo, na reencarnação.
Ainda assim, pela disciplina a que se afeiçoam no devotamento aos semelhantes,
conquistam simpatias providenciais que funcionam à maneira de valores
expressivos a lhes atenuarem dificuldades e provas nas lutas
porvindouras". O Assistente mostrava, assim, que nas zonas infernais
também dispomos de preciosas oportunidades de trabalho, não apenas vencendo as
aflições purgatoriais que estabelecemos em nós mesmos, mas preparando novos
caminhos para o céu interior que devemos edificar. Fora do círculo em que se
encontrava Druso, havia três Assistentes, cinco Enfermeiros, Silas, Hilário,
André e duas senhoras de aspecto humilde. Estas duas últimas eram irmãs que,
por mérito em serviço, receberam o direito de partilhar a reunião, de modo a
suplicarem auxílio na solução de problemas que lhes tocavam a alma de perto.
"Conheço-as pessoalmente", disse Silas. "São mulheres
desencarnadas que primam pela abnegação, atuando em socorro de Espíritos
familiares que sofrem nestas regiões as duras consequências dos delitos a que
se entregaram, imprevidentes." Eram Madalena e Sílvia, que desposaram na
última existência dois irmãos consanguíneos que se odiaram terrivelmente, da
mocidade até à morte, e, em razão de suas desavenças, cometeram erros
deliberados e clamorosos nos setores da política regional, em que estiveram
situados. Impedindo, por suas discórdias, o progresso da coletividade que lhes
cabia servir, alimentaram a cizânia e a crueldade entre os seus companheiros, e
muitos crimes derivaram dessa luta insana, razão por que expiavam, nas linhas
inferiores do sofrimento, os delitos de lesa-fraternidade que praticaram contra
si mesmos. (Capítulo 6, pp. 75 e 76)
(1) Esvurmava: do
verbo esvurmar, limpar (a ferida) do vurmo ou pus, espremendo-a. Fazer
supurar.
(2) Alcoice ou
alcouce (do árabe al-qos, 'cabana de eremita'): o mesmo que prostíbulo.
Respostas às questões propostas
A. Até quando os internos na casa cuidada
por Orzil ali ficariam?
Aqueles
enfermos permaneceriam presos ali até se renovarem. Silas explicou: "O
problema é de natureza mental. Modifiquem as próprias ideias e
modificar-se-ão". "Isso, porém, não é tão fácil. Consagram-se vocês,
presentemente, a estudos especiais dos princípios de causa e efeito. Fiquem
pois sabendo que nossas criações mentais preponderam fatalmente em nossa vida.
Libertam-nos quando se enraízam no bem que sintetiza as Leis Divinas, e
encarceram-nos quando se firmam no mal, que nos expressa a delinquência responsável,
enleando-nos por essa razão ao visco sutil da culpa.” (Ação e Reação, cap. 5, pp. 69 a 71.)
B. Que
diferença existe, quanto aos seus efeitos, entre o bem e o mal?
Como foi dito
anteriormente, nossas criações mentais libertam-nos quando se enraízam no bem
que sintetiza as Leis Divinas, e encarceram-nos quando se firmam no mal, que
nos expressa a delinquência responsável, enleando-nos por essa razão ao visco
sutil da culpa. Depois de dizer tais palavras, Silas lembrou que o pensamento,
atuando à feição de onda, possui velocidade muito superior à da luz e que toda
mente é dínamo gerador de força criativa. "Ora, sabendo que o bem é
expansão da luz e que o mal é condensação da sombra – asseverou o Assistente –
, quando nos transviamos na crueldade para com os outros, nossos pensamentos,
ondas de energia sutil, de passagem pelos lugares e criaturas, situações e
coisas que nos afetam a memória, agem e reagem sobre si mesmos, em circuito
fechado, e trazem-nos, assim, de volta, as sensações desagradáveis, hauridas ao
contacto de nossas obras inferiores." Na sequência, Silas disse que todos
estamos ligados uns aos outros, na carne e fora da carne, e achamo-nos livres
ou prisioneiros, no campo da experiência, segundo as nossas obras, através dos
vínculos de nossa vida mental. "O bem é a luz que liberta, o mal é a treva
que aprisiona... Estudando as leis do destino, é preciso atentar para
semelhantes realidades indefectíveis e eternas." (Obra citada, cap. 5, pp. 69
a 71.)
C. As regiões espirituais menos elevadas
proporcionam ao Espírito oportunidades de crescimento?
Sim. Segundo
Silas, mesmo nas chamadas zonas infernais dispomos de preciosas oportunidades
de trabalho, não apenas vencendo as aflições purgatoriais que estabelecemos em
nós mesmos, mas preparando novos caminhos para o céu interior que devemos
edificar. O trabalho no bem é importante sempre, não importa o lugar. (Obra citada, cap. 6, pp. 75 e 76.)
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