sábado, 14 de novembro de 2015

A morte de René Girard


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Bom dia, amigo leitor. Quero aproveitar este domingo seco e ensolarado de Brasília para lhe dar uma auspiciosa notícia. Morreu há poucos dias, no dia 4 de novembro, o filósofo francês René Girard, criador da mimese(1) na representação da "origem da violência humana que desestrutura e reestrutura as sociedades", e da teoria do "bode expiatório" como justificativa da violência, presente no estudo literário do sagrado.
Ainda não pude entrevistá-lo, pois ele ainda está naquela fase de "confusão espiritual" que antecede o ingresso do lado de cá, e isso o deixa temporariamente um tanto quanto perturbado... É o que sucede com 99% da humanidade terrena, quando desencarna. De qualquer modo, essa confusão mental ainda é bem mais amena do que a do retorno do espírito à vida física, a qual só se completa aos sete anos, conforme dizem os psicólogos.
A essa altura você deve estar se perguntando: Será que o Machado ficou louco? Um filósofo morre e ele diz que isso é motivo de regozijo espiritual... louco... somente um louco para escrever ou falar uma coisa assim...
E eu me justifico com as palavras do Cristo: "Deixai aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos". O que morre é somente o corpo físico, a alma segue para o Além em seu corpo espiritual, como diz Paulo de Tarso: "Semeia-se corpo material, ressuscita-se corpo espiritual". Para vocês, a morte do corpo é algo triste e lamentável; para nós, porém, é uma forma de libertação, pois a vida real é a que ocorre no mundo das ideias, como já entrevira Platão. Então, por que lamentar os chamados mortos? Comemoremos sua libertação desse presídio chamado matéria e o ingresso na vida do espírito.
Do que foi dito, não se deve deduzir que você deve desprezar a vida física e desejar a "morte", meu caro leitor. A vida física, ou encarnação, tem uma finalidade nobre, que é nos tornar perfeitos, passo a passo. Por isso disse Jesus: "Sede perfeitos". Quanto melhor a encarnação for aproveitada, mais estaremos contribuindo na construção de um mundo mais feliz para todos. Até mesmo devido a que voltaremos à carne num tempo que pode ser de imediato ou de séculos (KARDEC, A. O livro dos espíritos, questão 223). Afinal, "Se séculos de séculos são menos que um segundo relativamente à eternidade, que vem a ser a duração da vida humana?!" (KARDEC, A. A gênese, cap. VI, item 2). Enquanto a volta ao corpo físico não ocorre, os que estamos deste lado interagimos com os que estão desse lado sem violentar o livre-arbítrio de ninguém.
Para nós, mais importante do que estar aqui ou aí é o espírito, que é imortal, esforçar-se sempre em evoluir, pois é nisso que está a verdadeira felicidade. Para concluir, leia o que diz o sábio de Lion:

O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.
O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem. (Kardec, A.. O livro dos espíritos, comentários à questão 941).

   Então, amigo leitor, melhor do que viver como os animais, pelo instinto, "morrendo de medo de morrer", é viver plenamente consciente de que a vida é sempre bela, onde quer que estejamos, se buscarmos sempre seu objetivo maior, segundo Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” Mas não se esqueça, nossos maiores inimigos chamam-se egoísmo e orgulho; nossos melhores aliados são o amor e a humildade. É nisso que está a felicidade!
Estamos preparando uma grande festa para recebermos René Girard... quem "morrer" verá.

(1) Mimese, do grego mímesis, 'imitação': figura que consiste no uso do discurso direto e principalmente na imitação do gesto, voz e palavras de outrem. Em literatura: imitação ou representação do real na arte literária, ou seja, a recriação da realidade.





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