CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Em busca de
paz; ainda mais, em busca de algo que deveria ser direito de todos: viver.
Crianças,
assustadas, e totalmente dependentes de seus pais ou adultos confiáveis seguem
feito cegas para um horizonte temido, mas, de alguma forma, esperançoso. O
choro as acompanha, ora de fome e mais comumente de tristeza e medo. Mas a
criança é encanto e luz e continua sua peregrinação, ela também só quer viver e
quanto ainda há para conhecer e realizar.
Idosos,
anestesiados, talvez para não sentirem tanta dor, dor de deixarem sua história
e tudo o que até agora conquistaram, também seguem, como as crianças,
necessitados da ajuda de alguém confiável e, mesmo com muito caminho vivido,
seus olhos brilham com a esperança de um menino; a vida é valiosa demais.
O jovem e o
vivido na mesma caminhada; o início e a eternidade. Entretanto, o adulto, do
mesmo modo, sofre por falta de entendimento e orgulho de poucos, então, as três
gerações precisam se refugiar em outras terras e são forçadas a cruzar a água
de sal, a ouvir outro idioma sem compreensão e também se amedrontam com a força
e a limitação estrangeiras e se certificam de que a maior certeza na vida é a
de um dia todos serem recebidos pela morte, mas o instinto pela permanência
aqui é vigoroso.
E fogem, e
continuam, e conquistam passos, e vencem obstáculos, e seguem amando porque só
quem ama quer viver e quem vive pode estar ao lado de quem se ama e criar meios
de construir um caminho com mais flores do que sofrimento. E os refugiados
querem viver e lutam e extraem forças da inesgotável fonte... da fonte que
jorra do alto e alimenta cada centelha com o propósito de se aprimorar, pois a
dificuldade nada mais é que a florescência do espírito. E nós todos precisamos
do ar para a respiração; da água que mata a sede; do pão que sacia a fome e da
liberdade para viver a vida.
Enquanto
forças forem medidas imensuravelmente com covardia, corações serão dilacerados
e os corpos, afogados pela tristeza embargada na água salgada também por suas
lágrimas. Famílias se desfarão e seus sobreviventes, com muita dor, talvez
poderão se lembrar um dia de como era o tempo no seio familiar para criarem
suas crianças e perpetuarem sua geração.
Quanto o amor
faz falta, quanto a ausência da bondade desestrutura nações e inviabiliza o
desenvolvimento!
Filas de
pernas exaustas a se perderem de vista no compasso da marcha regida pela tênue
linha incerta entre a permissão ou não de entrada em uma terra nova para uma
nova vida. E pensar que cada coração caminhante possui uma história inteira,
mas no momento torna-se apenas mais um a tentar o refúgio, o qual não é
permanente para todos... e muitos são devolvidos ao fogo da dor e outros
desesperadamente são naufragados na grandeza oceânica.
Quem dera
houvesse apenas um pouquinho mais de amor do que qualquer outro infeliz
sentimento! Sentir-nos-íamos verdadeiramente irmãos e não apenas essa triste
fraternidade por termos um pai em comum, o Pai, que é o criador do Universo,
grandeza absoluta e incomparável. Quanta vergonha por nossa pequenez...
poderíamos nos sentir irmãos de verdade... mas um dia isso será.
Crianças
choram o choro sentido da falta de proteção e da benevolência de adultos, mas
estes que não se sentem irmãos de ninguém por não conhecerem a fraternidade não
sabem vivê-la.
E o sol
brilha sobre todos indistintamente, o ar existe para todos se manterem vivos, a
eternidade será o limite da existência. As magníficas circunstâncias são para
todos, assim como a liberdade e o direito à vida.
Imensa
felicidade quando o coração puder sentir que o mesmo brilho de sua centelha
também pulsa em outro coração, pois todos foram criados por um único Pai e,
assim, possibilitará a compreensão de que o mesmo Deus que habita em mim,
habita em você. Passaremos a ser irmãos não como hoje, mas saberemos viver a
mais nobre fraternidade e, consequentemente, refugiados não mais existirão, pois
os olhos fraternos com carinho se reconhecerão.
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