CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Seguem alguns relatos ocorridos em
dias de Natal, mas que poderiam ser vivenciados todos os dias.
“Feliz Natal, meu filho!” Essa foi a
frase que ouvi e com a qual pude sentir a minha primeira grande felicidade. Era
véspera de Natal e até aqueles meus dez anos e meio, a única família que
conhecia eram as freiras do orfanato e todos os outros esquecidos órfãos. E o
dono daquela voz me pegou no colo num abraço imensamente carinhoso e protetor e
me disse que daquele momento em diante eu teria um lar, uma mãe e um pai, uma
cama, um cachorro, muito cuidado e amor e todas as condições para me tornar um
homem de bem, uma pessoa feliz. E daquele momento até agora neste relato, sou
um homem feliz e já constituindo família... esposa... filho... cachorro...
cuidado e muito amor.
• • •
Para mim, uma jovem senhora de
sessenta anos, as palavras que mudaram minha vida, numa manhã de Natal, foram
estas: “Sabemos que é um diagnóstico preocupante, mas, antes de qualquer coisa,
Deus é o nosso Pai, Ele tudo pode e o impossível, para nós, realiza. Vamos ter
fé... mas não a fé para a realização apenas do que queremos, mas a fé
necessária para a nossa evolução”. Essas palavras me fortaleceram e me
confortaram inteiramente e, agora, após vinte anos, estou curada da enfermidade
acometida e o médico que as proferiu, carinhosamente se tornou o filho que
nunca pude ter.
• • •
Todas as vezes em que vejo o pôr do
sol, laranja, sinto até o cheiro das flores silvestres da montanha dourada –
como apelidamos esse lugar – naquela tarde de dezembro, na qual me via tão
deprimido por ainda não receber nenhuma proposta de trabalho depois de
concluído o curso de pós-graduação na área de pesquisas médicas. Toda a
economia de minha família havia sido investida em meus estudos e há um ano
eu aguardava uma oportunidade. A fome
se instalara na família e, nessa tarde de Natal, me ajoelhei no topo da
montanha, de frente para o intocável horizonte e, com os olhos embargados pela
lágrima desesperada, roguei a Deus uma luz... um trabalho para poder me manter
e meus pais também. Então, uma mão tocou meu ombro e me passou um papel; era
para eu procurar uma pessoa cujas informações estavam anotadas, nome e
endereço. Não sei de quem era aquela mão e no turbilhão de muito desespero nem
me preocupei em saber; na verdade, não vi ninguém. No outro dia, após me
recompor um pouco, fui ao local endereçado e pude, então, vivenciar um
abençoado e lindo acontecimento: Estava, à minha frente, um dos maiores
cientistas em pesquisas médicas laboratoriais. E hoje, aos oitenta anos,
recordo o presente que transformou minha vida e compartilho a grande estrada
construída, nessas décadas, de tantas descobertas em medicação. Tudo isso por
alguém ter confiado em mim e me amparado. A frase que me acompanhou na vida e
me fortaleceu foi a seguinte: “Acredito em você e no bom trabalho que poderá
realizar”.
• • •
Era inverno e, à noite, na véspera de
Natal, entrei para me proteger do frio numa capela onde acontecia a celebração
natalina. Fiquei bem escondidinha no fundo do recinto, não tinha trajes
adequados para a ocasião... de fato, tinha apenas aquela troca de roupa e graças
a Deus, havia ganhado de uma senhora, bondosa, um casaco que me aquecia. A rua
era o meu lar e a indiferença me acompanhava. Mesmo sem querer chamar atenção,
discretamente quase escondida, fui percebida por uma senhora muito elegante.
Após a celebração e sem observar como essa senhora se aproximou de mim, ela me
perguntou: “Desculpe-me, mas você precisa de alguma coisa?” Essas palavras tão
doces e respeitosamente pronunciadas me emocionaram com uma energia nunca
vivida antes, pude sentir tantos bons sentimentos juntos... senti-me uma pessoa
plena. Então, demorei um pouco para lhe responder, até recobrar a razão da
realidade. E fui tão sincera. Eu lhe respondi que somente tinha fé e nada
mais... nem casa, nem comida, nem o mínimo material do que uma pessoa necessita
para sobreviver. Ela me ouviu com olhos tão carinhosos e claros de bondade.
Após eu terminar, ela me ofereceu: “Se aceitar, pode vir comigo. Terá casa e
comida e necessito de sua vontade de trabalhar”. Sorri timidamente e ainda
acrescentei: “Tenho minha fé e muita vontade de trabalhar”. Neste Natal se
completam vinte anos que conheci o respeito, a ternura, a solidariedade e o
amor de uma só vez nas palavras e atitudes tão carinhosas dessa senhora
elegante que se tornou meu anjo disfarçado de minha muito estimada patroa.
• • •
Quando tinha dez anos e era uma
menina franzina, ainda não sabia nem ler nem escrever. Frequentava a escola,
mas a situação familiar, em todo aspecto, era extremamente delicada... muita
pobreza, relacionamento ruim entre meus pais, nenhuma palavra de carinho...
apenas uma pessoa se importava comigo, minha professora. E como ela me
acompanhara diariamente, aquele ano, pôde observar toda minha dificuldade. Ela
sempre me atendia com ternura e gentileza e quando o ano letivo acabou e fui
para a série seguinte, mesmo sem ter as duas habilidades – a escola não podia
reprovar nenhum aluno, era compromisso do núcleo de ensino daquela época -, a
querida professora se dispôs a me dar aulas de reforço em sua própria casa,
pois percebera toda a minha tristeza em ainda não ser capaz. Quanta
generosidade e afeto! E eu percebendo todo o seu esforço, eu mais me comprometi
e me dediquei. Até que dois dias antes do Natal, como uma luz que se ilumina,
comecei a ler e a escrever. Quanta felicidade, senti! Os olhos da minha
professora eram diamantes brilhosos com a lágrima da alegria por essa tão
abençoada realização. E no dia de Natal daquele ano, com muita timidez, fui à
casa da professora e lhe entreguei um cartão – que levei algumas horas a escrever
tantos agradecimentos – cujo último parágrafo nunca esqueci, assim estava:
“Eternamente você será a minha professora, mas também um pouco mãe... amiga e
uma flor querida, carinhosa, gentil e paciente que estará todos os dias em meu
pensamento”. E tantos anos depois, mesmo com inúmeros outros acontecimentos,
inclusive com todo o tempo dedicado ao meu Doutorado em Educação, dessa minha
professora nunca poderei me esquecer. Desde aquele Natal passei a amar as
letras, as palavras, a educação e tudo de maravilhoso que é possível criar com
esses maravilhosos recursos.
E, então, mais um Natal se aproxima.
Quais são as atitudes e palavras que nos marcaram? A bondade, a generosidade e
o ato caridoso podem ser realizados todos os dias não só nessa ocasião. Uma
palavra carinhosa pode mudar uma vida; uma ação generosa pode curar um coração.
Pois bem, que os dias possam ter a sensibilidade que o Natal desperta e que
Jesus nos ensina e, assim, o amor se fará mais presente do que a sua ausência
no cotidiano da vida.
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