Mensagem
de companheiro
Jésus Gonçalves (Espírito)
A ti, meu irmão, que assumiste comigo os pesados encargos da existência num sanatório de hansenianos, sem possibilidades de cura física; a ti, para quem a ciência da Terra não conseguiu trazer, tanto quanto a mim, o medicamento salvador; a ti, que não tiveste, qual me ocorreu, a consolação dos egressos; a ti, que sofres entre a fé viva e a dúvida inquietante, entre a tentação à revolta e a aceitação da prova, acreditando-te frequentemente esquecido pelas forças do céu,
ofereço a lembrança fraternal destes versos:
Não te admitas réu de afrontosa
sentença,
Largado de hora em hora à sombra em
que te esmagas,
Varando tanta vez humilhações e
pragas
À feição de calhaus da humana
indiferença.
Crueldade, paixão, injúria, crime,
ofensa
Criaram-nos, um dia, a estamenha(1)
de chagas!…
No pretérito abriste o espinheiro em
que vagas
E, embora a provação, trabalha, serve
e pensa.
Ânsia, tribulação, abandono, amargura
São recursos da lei com que a lei nos
depura
O coração trancado em nódoas
escondidas…
Bendize, amado irmão, as feridas que
levas,
A dor extingue o mal e o pranto lava
as trevas
Que trazemos em nós dos erros de
outras vidas.
(1) Estamenha: tecido comum de lã; hábito, burel de frade.
Do livro Na Era do Espírito, obra de autoria de Francisco Cândido Xavier, J.
Herculano Pires e Espíritos Diversos.
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