sábado, 19 de dezembro de 2015

Machado e a República


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Eu pedi aos deuses para que não permitissem ao Brasil se tornar uma República “porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou” (crônica de 5 de março de 1867).
Há quem diga que o rei não existe, mas a maioria dos súditos confirma a existência do soberano. Outros dizem que ele não governa, mas ninguém melhor do que ele para nomear os governantes, que são substituídos por ele mesmo, de tempos em tempos, para o bem do país e de sua honra, fortuna e dignidade. De mais a mais, sendo vitalício seu cargo e sendo transmitido por herança a seus descendentes, apenas estes ficarão ricos com os estipêndios generosos que lhes forem assegurados por direito de nobreza e não por assalto aos cofres públicos de milhares de sanguessugas da nação, qual acontece nas repúblicas, em especial nas presidencialistas.
Então, quando se diz que o rei não existe, respondo que também se costuma dizer, nos meios profanos, que Deus não existe, embora a maioria dos brasileiros discorde disso. E a maioria tem sempre razão. Acreditam em Deus, Inteligência Suprema, Arquiteto do Universo, nosso Pai até mesmo os escritores, como eu, que leio as Escrituras Sagradas todos os fins de semana; ou Augusto dos Anjos(1), que praticava sessões mediúnicas em sua residência; ou Mikhail Bakhtin, que era católico ortodoxo(2); ou Nietzsche, que aderira ao budismo, antes de enlouquecer(3), e muitos outros escritores e filósofos considerados niilistas, agnósticos, ateus, só porque se deixaram rotular assim enquanto “a indesejada das gentes” não os procurou, ou simplesmente por conveniências econômicas. Era e é chique dizer-se ateu num mundo em que, em nome da religião, foram mortos mais seres humanos do que em todas as guerras político-econômicas de toda a história mundial.
Então, despeço-me da estimada leitora e leitor amigo com um comentário da oração dominical, também chamada Pai Nosso, a Quem rogo a proteção para o nosso país arruinado pela República:
Pai Nosso, tu estás em nossas consciências, nas dos homens e mulheres bons, dos marginais, criminosos e dos políticos, portanto não podemos negar tua existência, estando, como estás, dentro de nós. Exceção apenas para os psicopatas, que necessitam de cuidados especiais de todos os teus filhos lúcidos, a quem deste livre-arbítrio, mas submetes à lei de ação e reação.
Santo, Santo é o teu nome, Pai de pobres e de ricos, poderoso e boníssimo, que faz nascer o sol sobre os bons e sobre os maus.
Que o teu Reino de Amor venha a nós, para que possamos entender que somente vivendo para o bem seremos felizes, sem a ninguém lesar, pois quem lesa será lesado, quem rouba será roubado, quem mata será morto e quem mente tem ideias curtas.
Que seja feita a Tua Vontade, pois ela é sábia e sabe das nossas necessidades, antes mesmo que a sintamos, quer estejamos na Terra, por breves anos, quer voltemos ao Mundo Espiritual...
Dá-nos o pão diário, mas que não tenhamos o “olho maior do que a barriga” e avancemos no pão do vizinho ao lado, pois isso é um grande e inaceitável pecado. Que aprendamos a repartir com todos o que sobeja em nossa mesa.
Perdoa-nos as dívidas na exata medida em que aprendermos a perdoar as dívidas do nosso próximo para conosco.
E não nos deixes cair nas tentações da cupidez, das paixões tormentosas, da ignorância voluntária, da preguiça, da ambição desregrada, da sede inconsequente pelo poder, de todo o mal que nos faça mal e ao nosso próximo, enfim... Amém.

(1) MACHADO, Ubiratan. Os intelectuais e o Espiritismo. 2. ed. Niterói: Lachâtre, 1996, p.214- 215.
(2) TODOROV, Tzvetan. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal: introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à ed. Inglesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. XXIX.
(3) LEFRANC, Jean. Compreender Nietzsche. 3. ed. Petrópolis: Vozes, p. 192- 194. Apenas um reparo: Nietzsche foi simpático ao Budismo, que não aceita Deus como os cristãos...

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