Há
pais, certamente a maioria, que se sentem orgulhosos ao verem o sucesso
profissional do filho, ainda quando a conduta deste não seja exemplar, e
lamentam os filhos supostamente fracassados no mundo dos negócios, conquanto
honestos e cumpridores de seus deveres.
Esse
comportamento tem tudo a ver com a sociedade materialista em que vivemos.
Far-lhes-ia, pois, imenso bem conhecer a experiência que Humberto de Campos
registrou nas págs. 38 a 42 de seu livro Cartas
e Crônicas, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicado
pela FEB. Trata-se do caso Custódio Saquarema, um pseudônimo inventado por
Humberto de Campos para encobrir a identidade de alguém que viveu realmente no
Rio de Janeiro e que, formado em Direito, saiu-se tão bem na profissão que
chegou a banqueiro.
Eis,
de forma reduzida, a história de Custódio:
1) Custódio Saquarema nasceu em família espírita. Sua ficha de
serviços – a chamada programação reencarnatória, a que tantos estudiosos
espíritas têm-se referido atualmente – lhe permitiria avançar a passos largos
no rumo da evolução, mas não foi o que se deu, como ele próprio contou a
Humberto após retornar à pátria espiritual.
2) As causas principais do seu fracasso foram o comodismo e a
invigilância. Esta não lhe permitiu perceber que trazia consigo, jungidos ao
seu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado, os
quais, sem possuírem o veículo de carne, se valeram dele para se vincularem às
sensações do plano terrestre.
3) Seus comparsas invisíveis agiam por meio de simples
considerações íntimas. Jamais lhe seviciaram o corpo nem lhe conturbaram a
mente. Acalentaram apenas o seu comodismo e, com isso, lhe impediram qualquer
passo renovador.
4) Tão logo se viu saído da adolescência, os Instrutores amigos o
exortaram, através de seus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se a
estudo, abnegação, aprimoramento, mas, dentro dele, as vozes de seus acompanhantes
surgiam da mente, propiciando-lhe a falsa ideia de que falava consigo mesmo:
"Coisas da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria,
sol... Deixe a filosofia para depois..."
5) Concluído o curso superior, as advertências do lar se fizeram
mais altas, conclamando-o ao dever; mas seus seguidores revidavam com a
zombaria inarticulada: "Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com
assuntos de religião? Custódio, Custódio!... Observe o critério das
maiorias...”
6) Ao casar-se, os chamados à espiritualização recrudesceram. Os
solertes exploradores, porém, comentaram, vivazes: "Não ceda, Custódio! E
as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter
posição, zelar por mulher e filhos..."
7) A morte subtraiu-lhe os pais, mas agora, na idade madura, ele
ainda ouvia os Bons Espíritos, por intermédio de companheiros dedicados,
requisitando-o à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos, ao
que, inflexíveis, respondiam os seus obsessores: "Custódio, você tem mais
quefazeres... Como diminuir os negócios? E a vida social? Pense na vida
social... Você não está preparado para a seara de fé..."
8) Mesmo no ocaso da existência, os derradeiros convites da
Espiritualidade Maior ainda chegavam a Custódio convidando-o a consagrar-se às
coisas sagradas da alma.
9) Dessa vez, porém, os gritos de seus antigos vampirizadores se
altearam mais irônicos, assoprando-lhe sarcasmo: "Você, velho Custódio?!
Que vai fazer você com Espiritismo? É tarde demais... Profissão de fé,
mensagens de outro mundo... Que se dirá de você, meu velho? Seus melhores
amigos falarão em loucura, senilidade... Não tenha dúvida... Seus próprios
filhos interditarão você, como sendo um doente mental, inapto à regência de
qualquer interesse econômico... Você não está mais no tempo disso..."
Os anos correram e Custódio Saquarema, que jamais atendeu a
qualquer dos chamados, acabou desencarnando sem perceber que fora, em toda
aquela existência, vítima de uma espécie de obsessão pacífica, em que seus
perseguidores exploraram tão somente seu comodismo.
Retornando à pátria espiritual, ele viu sua ficha de serviços, da
qual nada cumprira, e pôde certificar-se de que, embora tivesse sido
bem-sucedido nos negócios e na profissão, desencarnara rico de dinheiro, mas
muito pobre em termos espirituais. Segundo sua própria conceituação, muito mais
pobre do que décadas atrás quando descera à Crosta terrena para reencarnar.
Não foi preciso ajuda de ninguém para perceber sua indigência
espiritual. Retornar mais pobre significava dizer que sua existência como
Custódio Saquarema nada havia significado em termos espirituais, o que se dá
muitas vezes com indivíduos que, materialmente milionários, não têm tempo de progredir
nem moralmente, nem intelectualmente, o que comprova mais uma vez que a riqueza
não é um prêmio nem um castigo, mas prova dificílima em que muitos fracassam.
Concluindo, podemos afirmar que Custódio Saquarema é um exemplo
concreto das pessoas que, estacionando num mesmo patamar evolutivo, têm de repetir
a lição, repetição essa que J. Herculano Pires chamou de círculo vicioso da reencarnação.
Não
é difícil compreendê-lo. O desenvolvimento espiritual não é contínuo, mas
descontínuo. Em cada existência o indivíduo desenvolve certas potencialidades,
mas a lei de inércia o retém numa posição determinada pelos limites da própria
cultura em que se desenvolveu.
Com
a morte ele retorna ao mundo espiritual e compreende que sua perfectibilidade
não tem limites. De volta a uma nova encarnação, procura reencetar com mais
eficiência o desenvolvimento de sua perfectibilidade; contudo, se não receber
na vida terrena os estímulos necessários, poderá sentir-se novamente preso à
condição da vida anterior na Terra, estacionando, tal como se deu com Custódio,
um homem vitorioso aos olhos humanos e, contudo, um fracassado aos seus próprios
olhos.
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