sábado, 13 de fevereiro de 2016

A literatura e a escrita crítica


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amigo leitor, hoje vou falar-lhe sobre a importância da literatura em sua formação cultural. Oscar Niemeyer criticava os acadêmicos que somente se interessam por assuntos relacionados à sua formação e atuação profissional. Se é certo que se pode perfeitamente viver sem muita leitura, vive bem melhor quem desenvolve o gosto de ler. Está sempre bem informado, é admirado e não passa vergonha quando a conversa muda do futebol para a poesia, dos acontecimentos cotidianos para a crônica, dos casamentos para os romances, dos políticos fracassados e ditadores para a história, da linguagem popular ou coloquial para a culta, sem os exageros do eruditismo...
Há excelentes profissionais que, como desculpa para sua insipiência, dizem que não faz muita diferença deixar de acentuar uma palavra ou trocar um e por um i ou um s por um c numa petição ou numa receita.
– Fas cim, ocê podi mata de reiva o meretríssimo juiz ô desqualifica o dotô...
Quem disse isso não fui eu e, sim, o estrupício do meu secretário. É que ele lecionou português, redação, linguística e sociolinguística durante 22 anos... E admite que, na literatura, a representação de sua fala, quando morou no morro da Penha, no Rio de Janeiro, é plenamente justificável no ato comunicativo. Traduzindo:
– Faz, sim, você pode matar de raiva o meritíssimo juiz ou desqualificar o doutor...
– Calma aí, “Machado”, também não é assim. Fui e sou pobre, mas nem por isso falava “errado”. Mamãe dizia, mesmo, que eu gostava de falar “difícil”.
– Esse é um outro equívoco linguístico, o de se considerar apenas a norma culta como a correta e as demais “erradas”. Todas as línguas: popular, coloquial e culta são variações da linguagem que dependem de quem, onde e quando se fala ou escreve. Daí ser considerado pelos estudiosos da linguística um baita preconceito você dizer que fulano ou sicrana falam “errado” por não utilizarem a norma culta em sua conversa sobre a pintura de sua sala ou a lavagem de sua rica louça burguesa.
O que não se pode é redigir o texto de um relatório médico ou administrativo, por exemplo, de uma obra didática, ou de uma petição jurídica que estejam repletos de desvios gramaticais, como o do uso da palavra houveram, opondo-se a existiram, este no lugar de esse, menas em vez de menos, mais no lugar de mas, mau em vez de mal, uso da segunda pessoa na concordância com o tratamento V.Sa. ou V.Ex.ª, erros de concordância, de regência, de pontuação, ortografia. Ou seja, tudo o que esteja em desacordo com a gramática oficial.
– Você quer dizer que fora desses casos “oficiais” a linguagem pode, como se diz na gíria, “soltar a franga”?
– Não, energúmeno, na literatura, há momentos em que todas as modalidades linguísticas têm seu espaço. Entretanto, ninguém pode se expressar como bem entender, em especial nas correspondências administrativas e oficiais, nas obras didáticas, mas também nos e-mails, blogs, twitters, etc. Porque as palavras, o vento leva, entretanto, “escreveu, não leu, pau comeu”. Você só não precisa é se preocupar em “falar difícil”...
– Já entendi. A linguagem deve ser culta, mas não necessariamente erudita... E como falar e escrever na língua culta?
– Comece pela leitura das revistas em quadrinhos...
– Inclusive Chico Bento?
– Inclusive Chico Bento...  Mas vá além, leia os clássicos e os escritores atuais. Por fim, escreva, reescreva, corte o supérfluo e mantenha a essência. Leia e escreva sempre criticamente.






Nenhum comentário:

Postar um comentário