A morte de Camilo
Castelo Branco e suas consequências
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Camilo
Ferreira Botelho Castelo Branco foi um dos mais célebres e produtivos
escritores portugueses que, aos 65 anos, suicidou-se com um tiro de revólver na
têmpora direita. Seu gesto desesperado foi em consequência de ter ficado cego,
após ter sido contaminado pela sífilis em grau avançado.
Camilo
nasceu em 16 de março de 1825, em Mártires, Lisboa, e seu falecimento deu-se em
1º de junho de 1890, em Vila Nova de Famalicão, Portugal. Tivera vida boêmia e
de jogatina, embora tenha escrito mais de 260 obras, com linguagem primorosa, o
que lhe rendeu justas homenagens do governo português.
Despertou
cerca de seis meses depois, aprisionado num vale profundo e sombrio. Ali, ouvia
insistentes uivos enfurecidos de espíritos em profundo sofrimento. O solo
cheirava mal, “era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante!” Sentia-se
asfixiar num clima gelado, escuro e com nuvens de tempestade pairando no espaço
enegrecido de uma gruta gigantesca, repleta de espíritos criminosos e
agressivos, com os quais, inúmeras vezes, tinha de lutar e rolar na lama
fluídica onde se encontrava, com os sentidos mais apurados e, consequentemente,
mais sofridos.
O
insulto e o ridículo, a truculência e o sarcasmo feriam-no imensamente naquele
lugar, onde a palavra Deus não existia...
Percebe,
então, que todos os espíritos prisioneiros, como ele, naquela região trevosa e
de tormentos inauditos, não usufruiriam paz e esperança jamais. O inferno
narrado por Dante Alighieri era como o paraíso, em vista do que observava e
sentia em torno de si. O vale dos hansenianos, em Jerusalém, repulsivo e
humilhante, seria um lugar reconfortador, em relação àquele em que eles
estavam.
Lá
havia, ao menos, solidariedade. Cá somente existia choro e “ranger de dentes”,
em vista da dor moral sentida pelos réprobos do lugar. No vale dos hansenianos,
desfrutava-se do sol benfazejo, do orvalho das madrugadas, do aconchego dos que
se amavam e até... diversões. Podia-se ver e ouvir, ali, o canto dos pássaros,
o voo das andorinhas, o brilho das estrelas, e até mesmo era possível namorar e
sonhar com uma alvorada libertadora.
Mas
no vale dos suicidas, na caverna onde Camilo fora aprisionado, só havia
sombras, espectros tenebrosos, aves agourentas, risos sinistros, gritos de
revolta, de loucura e de dor inauditos. Ali, não havia céu, não havia sol, não
havia trégua para a dor causada pelos atos desatinados dos trânsfugas da Lei
Divina, do Pai que nos destinou a vida
eterna e, com ela, a responsabilidade de colher aquilo que semeamos, de bom ou
de mal.
A
vida além-túmulo é real. Dali saem as inspirações para a existência no corpo
físico. Dela decorrem os planejamentos para que avancemos em conhecimentos e,
sobretudo, em sabedoria. Porém, todos somos dotados de livre-arbítrio e, do uso
que fizermos dessa liberdade, podemos encontrar, após a vida material, o bem ou
o mal, a tristeza ou a alegria, o sofrimento ou a felicidade.
E
o espírito criminoso, somente após um período indefinível de tormentos
espirituais, que lhe parece uma eternidade, encontra, desde que sinceramente
arrependido, mas também profundamente atormentado, o socorro dos espíritos
superiores, enviados de Deus, Pai amoroso que não desampara nenhum dos seus
filhos.
Por
isso, leitor amigo, mais uma vez, neste mês dedicado mundialmente à prevenção
do suicídio, deixo consigo o alerta de quem precisou passar um longo tempo no
mundo espiritual sofrendo as consequências de uma vida profana e uma “morte”
voluntária: jamais se deixe levar por esse gesto extremo, em tempo algum.
Viva
com alegria e lembre-se da frase citada por Chico Xavier: “Ninguém pode voltar
atrás e fazer um novo começo, mas todos podemos começar agora e construir um
novo fim”. Que esse fim seja sempre o do bem e o do respeito à vida, dom
inviolável de Deus, nosso Pai Eterno.
E
se você ainda tem dúvida quanto às consequências terríveis do gesto do
suicídio, faço-lhe um último apelo: leia a obra psicografada pela médium Yvonne
do Amaral Pereira, editada pela Federação Espírita Brasileira, intitulada Memórias de um suicida. Com certeza,
após essa leitura, sua vontade de viver e de amar estará mais robustecida.
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