terça-feira, 18 de outubro de 2016

Contos e crônicas



Através da janela da vida

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Certa vez, em meio a uma viagem inesperada, num trem que cruzava pequenos países da Europa, um senhor calmo e observador, de barba rala e crescida, sentado sozinho num dos bancos, olhava através do vidro. Seu olhar atravessava o tempo, a paisagem e se encontrava no ângulo das somas de sua experiência.
Sem nenhum pouco querer, mas sua postura de sábio senhor despertava curiosidade nos viajantes da mesma hora. Os que transitavam de um vagão a outro ao avistarem-no, de fato, sentiam enorme vontade de sentarem-se ao lado e poderem conversar. Não tardou e um jovem rapaz pediu licença e sentou-se próximo ao senhor. De início, o silêncio foi mais alto, porém em alguns minutos, o jovem começou a relatar a ocorrência em sua vida que lhe trazia amargor. O senhor ouvia com atenção e após ouvir simplesmente respondeu:
‒ O amor cura.
Os olhos do senhor se voltaram ao jovem que questionou:
– Só isso que tem a falar, senhor?
O homem ainda olhando ao rapaz, sorriu.
Como o rapaz não ouviu o que desejava, pediu licença e retirou-se.
O senhor sorriu e murmurou as palavras: Sim, meu rapaz, o amor cura a ferida do orgulho.
E a viagem seguia o curso entre paisagens lindas nas terras europeias.
Como o senhor já fora percebido por muitas pessoas mesmo em sua discrição – toda energia exala sua essência –, uma senhora que observara o ocorrido com o jovem, apesar de não saber o conteúdo da conversa, também se aproximou do homem pedindo licença para sentar-se. O senhor sorriu levemente e consentiu com a cabeça.
A mulher iniciou com um comentário sobre os campos floridos vistos por grande extensão, no entanto, logo em seguida relatou um acontecimento que a deixara muito infeliz desde então. O senhor, da mesma forma, ouvia com atenção olhando através da janela. A senhora desejando um parecer favorável, apenas ouviu:
‒ O amor cura. 
A mulher com um ar impaciente, levantou-se e saiu sem uma palavra.
O senhor sorriu e murmurou as palavras: Sim, minha senhora, o amor cura a chaga da intolerância.
Antes de chegar ao seu destino, o senhor fora acompanhado, em breves minutos, por várias pessoas diferentes que se retiraram de perto com semblantes ora inconformados e descontentes, ora amargurados e enraivecidos. Entretanto, para cada visita rápida que recebia, ele apresentava um sorriso bondoso e experiente e murmurava: O amor cura.
Quase próximo à estação final, um jovem rapazinho pediu permissão para se achegar e buscou a mesma direção que os olhos calmos do senhor já encontraram. Os dois, tranquilos e em silêncio, olhavam para a paisagem, mas sentiam antes de tudo a essência que a sabedoria da vida insistentemente deseja mostrar. A diferença de idade era um cisco que não se sente, pois o que sempre importará é a vontade disciplinada em alcançar o que é verdadeiro para o ser imortal.
‒ O rastelo que livra o campo do capim seco, sufocante e mofado alivia o solo como o amor neutraliza e elimina os secos, infrutíferos e destruidores sentimentos.
– E florescerão sempre as sementes plantadas pelo coração – o rapaz completou.
As luzes da estação já eram vistas.

Visite o blog Conto, crônica, poesia… minha literatura: http://contoecronica.wordpress.com/





Como consultar as matérias deste blog?
Se você não conhece ainda a estrutura deste blog, clique neste link: http://goo.gl/OJCK2W, e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.






Nenhum comentário:

Postar um comentário