sábado, 22 de outubro de 2016

Contos e crônicas



O Estado e o homem

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

A visão materialista da vida na Terra não traz benefícios ao seu possuidor. Ela açoda todos os instintos negativos da pessoa, incrementa o egoísmo e a impiedade humanos.
Há pessoas que se formam em determinadas áreas do conhecimento visando exclusivamente lucros materiais. Desse modo, podem até mesmo possuir grandes saberes em seu ofício, mas nem sempre os utilizam em prol de uma sociedade melhor e, sim, de suas vantagens pessoais.
Na área médica ou odontológica, por exemplo, não é raro constatarmos, entre a maioria de profissionais responsáveis, aqueles que se prevalecem da falta de conhecimento e necessidade orgânica de seus pacientes para realizarem procedimentos cirúrgicos absolutamente desnecessários e, por vezes, desastrosos. Não vou citar mais do que dois casos, ocorridos com um amigo.
O primeiro foi quando uma azia o levou a um cirurgião gastroenterologista. Este, após ver os resultados dos exames solicitados, diagnosticou-o com a doença intitulada Esôfago de Barret. Então, foi logo marcando uma série de exames pré-operatórios, sem ao menos propor-lhe um tratamento alternativo. Procurado outro especialista da área, este propôs ao meu amigo que fizesse tratamento clínico de alguns meses. Caso isso não resolvesse, indicaria o procedimento cirúrgico. Resultado: após esse período de tratamento, meu amigo nunca mais teve problemas gastresofágicos.
E a cirurgia, resolveria também? Sic, nem sempre... Sem contar que ninguém quer ser furado quando uma simples cápsula ou o “emplasto Brás Cubas” pode curá-lo.
O segundo caso pode também ser visto sob diferentes procedimentos adotados por dois dentistas: o primeiro deles realizou uma restauração de um dente do maxilar inferior do meu amigo, ao qual provocou uma grande fenda na gengiva. É o que em odontologia se chama de recessão ou retração gengival, que pode ter também outras causas, como o bruxismo, etc., e assim fica difícil à vítima provar a imperícia do profissional. Isso foi há cinco anos. Nunca mais meu amigo conseguiu mastigar alimentos sólidos, além de não suportar líquidos muito gelados nesse lado da boca.
O procedimento de outra profissional, em relação a um dente restaurado, do maxilar superior desse meu amigo, que lhe provocara dores, foi mais responsável: fez o RX dentário, analisou-o, detidamente, prescreveu-lhe um potente anti-inflamatório, como opção alternativa ao tratamento do canal do dente, e... heureca! Deu certo.
Nesta semana, um homem de 62 anos, jovem para os dias atuais, morreu por falta de transporte, em tempo hábil, de um hospital a outro, especializado no tratamento de problemas renais. O motivo? Falta de gasolina na ambulância. A família propôs ao responsável da área pagar o combustível, mas sua proposta foi recusada porque a “instituição pública” não admitia tal procedimento. Ou seja, a burocracia estatal e a falta de espírito humanitário levaram a óbito um cidadão que precisava de atendimento urgente.
Será que se o paciente fosse um parente muito querido do tal “Estado” teria havido sua morte? Duvido!
Termino com um soneto de Cruz e Sousa, para nossa reflexão, intitulado:

CLAMANDO...

Bárbaros, vãos, dementes e terríveis
Bonzos tremendos de ferrenho aspecto,
Ah! deste ser todo o clarão secreto
Jamais pôde inflamar-vos, Impassíveis!

Tantas guerras bizarras e incoercíveis
No tempo e tanto, tanto imenso afeto,
São para vós menos que um verme e inseto
Na corrente vital pouco sensíveis.

No entanto nessas guerras mais bizarras
De sol, clarins e rútilas fanfarras,
Nessas radiantes e profundas guerras...

As minhas carnes se dilaceraram
E vão, das Ilusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras...







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