terça-feira, 13 de junho de 2017

Contos e crônicas



Sob a luz do céu segue o caminho da vida

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Quando criança, Cecília era uma menina radiante, espuletinha, dificilmente chorava, só mesmo quando alguma coisa a machucava como o dia em que tentou pular a cerca de madeira entre uma casa e outra e acabou cortando a perna, o que resultou em alguns pontos. Ou ainda, quando sua melhor amiga mudou-se para outra cidade e, por isso, como Cecília chorou.
Ela não tinha irmãos e seus pais eram bem mais velhos do que os pais dos seus amigos e colegas de escola. Mas a menina ‒ que hoje já era jovenzinha ‒ amava seus pais do jeito que eram. E amava ouvir as histórias de antigamente que eles contavam.
Numa noite clara de primavera, cujo céu parecia um jardim de estrelas, os pais e a filha estavam na varanda, sentados, apreciando o belo céu no ritmo das histórias de antigamente. Numa dessas, o nome Lucila fora mencionado e os pais, nesta hora, olharam-se surpresos. Tentaram continuar, mas Cecília percebeu a surpresa e lhes perguntou:
‒ Quem é Lucila?
Os dois, de surpresos, passaram a assustados. Não deram resposta.
‒ Quem é Lucila? ‒ a filha insistiu.
‒ Meu bem... ‒ a mãe tentou começar uma explicação. ‒ Lucila era uma jovem que morava perto de onde morávamos na cidade do interior.
O pai não falou nada.
‒ E o que aconteceu com ela? ‒ a filha perguntou.
‒ Ah, naquela época só me lembro de que ela era uma adolescente e sua família passava muita necessidade.
Algo parecia faltar para a explicação. Então, o pai começou a contar outra história que recordara, algum acontecimento engraçado da época em que era menino. Mesmo assim, uma tensão pairou sobre a varanda. Cecília ficou mais um pouco e foi para seu quarto, adorava ler à noite.
Os pais se entreolharam com sentimento de preocupação. Ficaram os dois mais um pouco olhando o céu, mas com o pensamento perdido no tempo. Com passos calmos, Cecília voltou à varanda e sentou-se onde antes estava. Os dois a observaram e lhe sorriram com os olhos ansiosos.
‒ Oi, filha ‒ a mãe falou querendo uma resposta.
‒ Oi, mãe ‒ queria saber alguma coisa.
O pai observou o andamento sem falar nada. Algo incomodava os três; a filha interessou-se pelo nome.
A luz da lua parecia clarear ainda mais os olhos daquela família. Cecília aguardava mais algum comentário sobre Lucila. Os pais vasculhavam com rapidez a mente para logo iniciarem outro assunto, mas outros assuntos não eram interessantes o suficiente para aquele momento.
‒ Quem era a mãe de Lucila? ‒ a filha perguntou.
Os pais tentaram ganhar tempo para uma resposta.
‒ A mãe... de Lucila era a dona Anna.
O homem se surpreendeu com a resposta que não deixou de ser verdadeira.
‒ Anna? E o pai?
‒ O pai? ‒ a mãe ficou surpresa.
‒ Sim.
‒ O pai... se não me engano, era Constantine.
‒ Constantine e Anna ‒ Cecília repetiu.
E em meio às surpresas da noite, as horas passaram rápido, quase meia-noite.
‒ Preciso dormir ‒ o pai falou olhando o relógio de bolso.
Ele se levantou e foi para dentro.
Apenas as duas ficaram.
Cecília olhou para a mãe e sorriu. A mãe foi recíproca.
‒ Mãe, amo você.
A filha aproximou a cadeira e esticou o braço para pegar a mão já enrugada da mãe. As duas ficaram de mãos enlaçadas olhando a lua.
Cecília acariciou a mão materna. E as duas continuaram olhando para a imensidão do céu.
‒ Um dia posso conhecer quem me gerou e amá-la também, mas meus grandes amores hoje são você e papai.
As mãos ficaram enlaçadas e os olhos, marejados olhando o horizonte, brilhavam com a luz da lua e o brilho das estrelas.

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