O caminho até a pedra
branca
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Ren sempre passava, ao fim da tarde, pelo mesmo caminho entre as
árvores, arbustos, flores, o lugar próximo de onde morava. Era no pé de uma
montanha bastante conhecida no Japão, mas o povoado era acanhado. O menino saía
de sua casa por volta das quatro e meia e até chegar ao local destinado gastava
cerca de quinze minutos andando por parte da pequena floresta. Antes desse compromisso
diário, Ren fazia uma higiene básica, lavava os braços, rosto com a água fresca
tirada das fontes naturais, penteava o cabelo e se olhava para verificar se a
roupa surrada estava limpinha. E o menino seguia.
Nesta tarde alguns chuviscos caíram, mas a claridade de alguns raios de
sol ao fundo do horizonte prevaleceu. A passagem da primavera para o verão
favorecia esse momento. Ele conhecia muito bem por onde passava e por isso ia
pela trilha mais segura.
Durante o caminho, seguia com seus pensamentos, parecia uma meditação.
O menino ia ao encontro de algo realmente importante, compromisso com o
coração. E percebia as flores que acabavam de se abrir, algum galho caído que
no dia anterior não estava, novas plantinhas crescendo, a posição que os raios
de sol desciam, para qual direção o vento gostoso soprava. Ren apreciava tudo o
que merece apreciação, aprendera com sua mãe.
E o caminho, mais uma vez, havia sido percorrido. Uma clareira se fazia
vista. Ele chegou, parou, passou a mão no rosto e tirou o suor em forma de
gotinhas, secou a mão na lateral da camiseta limpinha e surrada. Deu um sorriso
calmo e feliz. Com tranquilidade, aproximou-se de uma pedra bem clara, passou
suavemente a mão e sentou-se ao lado.
‒ Hoje é o seu aniversário ‒ disse o menino.
Ele sorriu e uniu as mãos ao peito. Falava palavras bem baixinho com os
olhos fechados e terminou com a prece como todos os dias. Ren sentia-se em paz
e feliz com aquela tão maravilhosa companhia. Abaixou a cabeça em sentido
respeitoso e despediu-se. O sol começava a querer descansar devagar.
Quando o menino se virou para voltar, percebeu que seu pai o observava.
E o pai sorriu.
‒ Vamos, filho!
Ren sorriu.
Os dois começaram o caminho de volta para casa.
Naquele dia, completaram-se dois anos do ocorrido com a mãe do pequeno
Ren. E não houve como evitar. O mesmo dia do nascimento também fora o da sua
partida. Mas o menino preferia lembrar o dia do aniversário de sua mãe e não o
da despedida, porém, as visitas diárias celebravam o encontro, por um tempo,
entre mãe e filho. E ele a visitava desde o dia após o enterro do corpo de sua
mãe ao lado da pedra clara em formato de coração.
‒ Papai, mamãe estava mais feliz hoje.
‒ Sim, Ren. Mamãe está a cada dia se recuperando no céu... e quando
ficar bem, flores brancas nascerão ao lado da pedra clara e ela correrá para o
jardim das lindas flores.
O filho sorriu mais uma vez. De longe o pai não percebera, mas o menino
vira pequeninas flores brancas brotando ao lado da placa no chão com as
seguintes palavras:
“Aqui está o corpo de minha mãe, mas ela inteira está no meu coração.”
Pai e filho chegaram a casa, e mesmo com alguns pingos de chuva à
tarde, as estrelas já iniciavam, bem ao longe, o lindo brilho no eterno céu.
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