domingo, 3 de setembro de 2017

Reflexões à luz do Espiritismo




Os sacrifícios conforme a visão espírita

Numa roda de amigos, alguém suscitou o tema sacrifícios e sua relação com o período da chamada Quaresma, que católicos e ortodoxos conhecem muito bem.
Para os não afeitos à liturgia da Igreja, lembramos que a Quaresma faz parte do ano litúrgico e compreende os 40 dias que vão da quarta-feira de cinzas até o domingo de Páscoa, período esse que deve ser destinado, por católicos e ortodoxos, à penitência. É aí, então, que dentro da penitência surge a ideia de realização de sacrifícios.
O vocábulo sacrifício tem, conforme a etimologia, o sentido de se “fazer alguma coisa sagrada”. Em seu sentido primitivo e unicamente religioso, representa uma oferenda que se faz à Divindade por meio de rituais. A oferenda pode ser representada por uma pessoa, por um animal ou ainda por produtos de origem vegetal ou outros objetos.
O propósito declarado do sacrifício varia muito entre as diferentes culturas. Por extensão, pode ele ser considerado como uma renúncia ou privação voluntária de alguma coisa, como a privação dos gozos inúteis, que a doutrina espírita considera ato meritório, porque desprende da matéria o homem e eleva sua alma. 
Resistir à tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis, tirar do que temos para dar aos que carecem do bastante, fazer o bem aos nossos semelhantes – eis algumas práticas que apresentam grande mérito dentro do rol das chamadas privações voluntárias.
A realização de sacrifícios religiosos está geralmente relacionada com as mortificações e as penitências. O verbo mortificar é sinônimo de afligir, atormentar, castigar, macerar o próprio corpo com penitências. A mortificação ocorreria devido ao arrependimento ou à dor resultante do pecado cometido. 
Em função do arrependimento, certas autoridades religiosas impõem uma pena ao arrependido para remissão de seus pecados, pena essa representada por jejuns, orações, macerações do corpo e outras tantas mortificações inerentes às manifestações de culto externo.
Em seu livro Elucidações Evangélicas, Sayão examina o assunto “penitência” e diz que essa prática é, segundo algumas religiões, necessária ao pecador que não deseja agravar sua culpa e tornar-se, por conseguinte, passível de maiores castigos. 
A penitência, tal como a entendia Jesus, não consiste, porém, na reclusão em claustros, nos cilícios e em outras tribulações materiais. Ela consiste no arrependimento sincero e profundo e no propósito firme em que a criatura se coloca de não tornar a cometer as faltas que a arrastaram à mísera condição humana e esforçar-se por repará-las.
O Espírito penitente – afirma Sayão – “absorve-se todo na oração e na vigilância que Jesus recomendava e que formam uma espécie de antemural às ondas de paixões que nos lançam no abismo do infortúnio”. 
No intuito de obter favores ou mesmo agradar a Deus ou aos Bons Espíritos, algumas pessoas executam determinadas ações ou se impõem certas privações a que chamam de promessa. Ora, as promessas já tiveram sua época e já vai distante o tempo das supersticiosas imposições da teocracia. Ao seu reinado sucedeu o império da inteligência e da razão, únicos fundamentos inabaláveis da fé esclarecida e ativa. Sacrifícios, mortificações e promessas são, portanto, manifestações materiais do culto externo, praticadas por pessoas ainda distantes das verdades espirituais.
Falando sobre a mortificação e seu mérito, aconselham os Espíritos superiores: “Procurai saber a que ela aproveita”. “Se somente serve para quem a pratica e a impede de fazer o bem, é egoísmo, seja qual for o pretexto com que entendam de colori-la. Privar-se a si mesmo e trabalhar para os outros, tal a verdadeira mortificação, segundo a caridade cristã.” (O Livro dos Espíritos, 721.)
Debilitar o corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, torturar e martirizar voluntariamente o corpo material são atos que, evidentemente, contrariam a lei de Deus, porquanto enfraquecer o veículo corpóreo sem necessidade é verdadeiro suicídio.
Sobre o tema sugerimos aos interessados que consultem, também, as questões 669 a 673 d´O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.



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