Aos “desertores” espíritas
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Hoje, falar-te-ei sobre os desertores.
Em toda parte, há desertor, inclusive nas Forças Armadas. No Espiritismo, há
“desertores”.
— Por que as aspas, Machado?
— Porque o estudo e a prática da Doutrina
Espírita, sem ideias preconcebidas,
mas com a intenção sincera de reforma íntima, é incompatível com o preconceito
e a deserção.
— Então não existem falhas no
Espiritismo, Bruxo?
— Claro que, também nele, há enganos,
mistificações, fraudes etc., como em qualquer ideologia. Perguntado ao Chico
Xavier se ele já fora mistificado, o maior médium do mundo, no século XX,
afirmou, com toda a humildade: “— Muitas vezes”. Por isso, nunca é demais
relembrar as palavras de Jesus: “— Bom, mesmo, só Deus o é” (Lucas, 18:19).
— Mas então, o próprio Kardec...
— Não te esqueças, embora Jesus nos
tenha recomendado ser “perfeitos, como Deus o é” (Mateus, 5:48), na Terra,
ninguém jamais se igualou ao Cristo em perfeição. Por isso, o modelo dado por
nosso Pai Celestial ainda é Jesus Cristo.
— E aquela recomendação do espírito
Emmanuel a Chico Xavier para que, se um dia aquele estivesse em desacordo com
Jesus e com Kardec, Chico deveria ficar com estes?
— Continua vigente... Emmanuel jamais
divergiu do Codificador e do Cristo naquilo em que estão de acordo. O resto é
especulação
— A Doutrina Espírita está
desatualizada, Machado?
— De jeito nenhum. Tudo o que proveio
dos espíritos superiores, representantes do Cristo, que, por sua vez, foi
manifestado pelo Espírito da Verdade, está atualizadíssimo.
— Então, por que alguns pseudossábios alegam que Kardec está
desatualizado? Não se lhe manifestou o Espírito da Verdade e outros mensageiros
do Cristo?
— A Doutrina é dos espíritos, Joteli, e
Allan Kardec sempre deixou isso claro. Tudo que ali veio deles é verdadeiro. O
Codificador, algumas vezes, emitiu sua própria opinião, sempre muito
respeitável, mas, embora vindo de um grande missionário, era sua apreciação,
com a qual se pode concordar ou não. Só não se pode é ser leviano e discordar
de algo dito por Kardec que esteja em plena sintonia com Jesus Cristo.
— Machado, que achas da opinião desses
estudiosos do Espiritismo que “desertaram” de nossa fé e ainda tentam
ridicularizá-la?
— Ridículos...
— Por quê?
— Não se aprende a Ciência do Infinito, representada por essa Doutrina, levianamente,
e nem mesmo em uma existência. Lembra-te, ela veio para “ficar eternamente
conosco”, segundo a promessa de Jesus (João, 14:16).
— Mas, por que alguns “desertores”
afirmam que o estudo do Espiritismo é “lavagem cerebral?”
— Como te afirmei no início, quem
estuda o Espiritismo, sem ideias preconcebidas, e deseja melhorar-se,
esforça-se em praticar sua moral e jamais se arrepende disso.
— Poderias exemplificar, com a
tolerância recomendada por Kardec?
— É o caso de quem, com ares de doutor,
declara-se “ex-espírita”. Esse nunca foi espírita.
— Será que essa pessoa não é vítima de
obsessão?
— Com certeza. E das mais difíceis de
ser curada: a fascinação.
— Como se explica isso?
— Antes de mais nada, devo dizer-te que
lhes falta bom senso, além de uma reflexão mais aprofundada no que afirmam, com
poses didáticas, como é o caso de um jovem barbudo visto em vídeo na internet. Por suas palavras, percebe-se
que ele mal conhece o beabá da crença
que diz ter abandonado e, agora, cita com ares de mofa.
— Explica melhor, prezado Mago.
— Para não te cansar, vou refutar
algumas de suas ideias claramente preconcebidas. Começo por sua contradição, quando
afirma, de início, ser “grato ao Espiritismo”, para, em seguida, o atacar. Diz,
levianamente, que o Espiritismo se baseia nas “crenças cristãs, com retoques”.
Logo após, “desmente” teorias de que a reencarnação era crença comum no
Cristianismo, com base em estudos dos
concílios da Igreja. Dedução inconsequente, pois vinculada, meramente, à
posição de quem é “atacada”: a Igreja.
Informa que as descrições de Jesus por
Emmanuel, Ramatis e Humberto de Campos são contraditórias, mas não especifica
com base em que critérios chegou a essa conclusão.
Depois, diz ter observado “muitas
falhas no Espiritismo”, confundindo erros humanos, ou mesmo de espíritos pouco
adiantados, com a Verdade Divina resultante das palavras de Jesus e das 1019
questões, respondidas por seus emissários. O que pode ser conferido n’O livro dos espíritos, obra básica da
Doutrina Espírita.
A prova cabal de que “estuda” o
Espiritismo com ideias preconcebidas, sem qualquer compromisso com a reforma
íntima, é sua acusação de a Doutrina promover “lavagem cerebral” em seus
estudiosos. Entretanto, em suas análises, transbordam preconceitos e exaltação
do próprio ego em relação ao Espiritismo, mostrando desconhecer a recomendação
do espírito Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que aceitar uma só
mentira, uma só teoria falsa” (KARDEC, A. O
livro dos médiuns, seg. parte, cap. XX).
Chega ao ponto de buscar, nos
evangelhos, a palavra amor e deduzir, absurdamente, que o Novo Testamento prega
mesmo é o “desapego”, quando todos os ensinamentos do Cristo são voltados para
a iluminação do ser pela prática da caridade, da tolerância, do perdão, da
humildade e do devotamento ao próximo, tudo isso relacionado ao amor.
A propósito, disse só haver três vezes,
essa palavra, nos evangelhos, o que não se sustenta. Leia-se, citando apenas
Mateus, 5:44; 10:39; 12:18, 17:5; 19:19; 22:37 e 39.
Toda a Boa-Nova do Cristo está voltada
para o amor e suas manifestações. Por ora, basta lembrar o que diz ainda
Mateus, 4:23: “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas
e pregando o Evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias
entre o povo”. Precisa dizer que isso é amor?
Seu maior adversário é o egoísmo, fonte
de todos os sentimentos contrários ao amor e ao próprio desapego, visto nos evangelhos por nosso irmão, embora ele esteja
fascinado pela projeção da própria imagem, e com quem não desejamos polemizar
para não lhe enaltecer mais a vaidade e a presunção.
Podemos passar a vida inteira sem
pronunciar a palavra amor, mas amando e servindo a todos, com abnegação e
devotamento, como nos dizem os espíritos
superiores ser a forma mais patente de nossa perfeição: a caridade, base da
Boa-Nova reiterada pelo Espiritismo
Que nosso irmão reflita nisso, atento à
recomendação de Jesus: “Vigia e ora, para não caíres em tentação” (Mateus,
26:41).
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