Há no meio espírita quem pense e até propague que o termo reencarnação
teria sido, como ocorreu com alguns outros vocábulos, criado por Allan Kardec,
o codificador do Espiritismo.
Não é verdade. Não se trata de um neologismo decorrente do advento
do Espiritismo. Kardec introduziu realmente na linguagem espírita diversos
neologismos, mas esse não é o caso do termo reencarnação.
Vejamos o que ele escreveu a respeito do assunto, ao lançar sua
primeira obra espírita:
“Para se designarem coisas novas são precisos termos novos.
Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à
variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual,
espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para
aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de
anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer
que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista.
Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas
comunicações com o mundo visível.
Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos,
para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e
espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por
isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando
ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a
doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo
material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do
Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.
Como especialidade, O
Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como generalidade,
prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão
por que traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.”
(O Livro dos Espíritos, Introdução,
parte I.)
Além dos neologismos citados no texto acima, a obra de Kardec
apresenta mais os seguintes, bastante conhecidos dos nossos leitores:
Mediunato [do latim medium + actu]: termo criado pelos Espíritos, para
significar a missão providencial dos médiuns, a ação mediúnica que eles
desenvolvem durante a reencarnação.
Perispírito [do latim peri= em redor + spiritus= espírito]: invólucro
semimaterial da alma que ela conserva mesmo depois de sua separação do corpo.
Nos encarnados, serve de laço ou intermediário entre a alma e a matéria.
Psicofonia (do gr. psyché, alma e phonê, som ou voz): transmissão do
pensamento dos Espíritos pela voz de um médium falante.
Psicografia (do gr. psyché, borboleta, alma, e graphô, eu escrevo):
transmissão do pensamento dos Espíritos por meio da escrita, pela mão de um
médium.
Quanto à palavra reencarnação, atribuir sua origem a Allan Kardec é
um equívoco que é preciso esclarecer.
Foi entre os séculos XVI e XVIII que surgiu, no Latim tardio, o
termo erudito e acadêmico reincarnatio,
reincarnationis, que, em seguida,
passou para as línguas românicas e para o inglês. Em francês é
"réincarnation". Essa informação pode ser conferida acessando-se o
website http://www.latin-dictionary.net/definition/33192/reincarnatio-reincarnationis
Ora, a codificação do Espiritismo teve início em meados do século
XIX, mais precisamente a partir de 1855, quando o professor Rivail teve o
primeiro contato com os fenômenos espíritas e passou a estudá-los de forma
metódica, do que resultou aquilo que chamamos de codificação da doutrina
espírita.
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