terça-feira, 7 de novembro de 2017

Contos e crônicas



Sem mais saudade de mim

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

É maravilhoso interagir com pessoas, animais, meio ambiente, receber e compartilhar novidades ‒ e são incontáveis com a tecnologia ‒, aproximar-se um pouquinho do infindável conhecimento sobre a vida. Horário de trabalho, compromisso, visitar família e amigos, telefonar a alguém querido, enviar uma mensagem e fazer tantas outras coisas necessárias ou nem tanto ocupam o tempo todo de vinte e quatro horas no dia.
Quanto mais se realiza, mais se observa que o tempo passa rápido demais, pois são muitas ocorrências diárias. E quando alguns minutinhos sobrevivem para sentir o vento suave, ver pequenos raios do quase fim do pôr do sol, perceber uma florzinha delicada no canteiro urbano ou a borboleta azul que se confunde com o céu, então, sinto uma forte emoção que há algum tempo comecei a compreender, o puro sentimento da saudade de mim, de ouvir-me, sentir-me, simplesmente estar comigo, quietinha.
Como isso é importante! Certo dia recente, parei numa rua bastante movimentada, num horário muito turbulento e observei a correria externa, fui distanciando-me daquela aceleração barulhenta e senti uma calma, um silêncio que me fez sorrir, olhei para o alto.
Estou aqui mesmo, sou eu mesma, meu ontem, meu hoje, meu futuro. É comigo que em imortal tempo estarei, sou ainda minha incompletude, e sou o meu tudo. Sou minhas alegrias, minhas lágrimas, minha vontade de viver, também o meu cansaço. Sou o que eu quiser ser e serei o que me faz bem e me faz progredir.
Sem dúvida, como sou célula viva dentro da célula mater devo trabalhar a favor de tudo o que me faz emancipar. Tenho minhas responsabilidades, meus deveres, direitos ‒ estes devem ser sempre mais discretos que aqueles ‒, tenho tanto a contemplar e a Deus pedir força sabendo que o livre-arbítrio me pertence. E sigo com os motivos naturais na caminhada.
Acredito que agora compreendo mais o dever comigo mesma, logo, sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha melhor amiga, sou minha eterna companheira que necessita do meu carinho, amor, respeito, paciência e de minha doçura. Começo a descobrir, cada vez mais, como é bom cuidar-me e diminuir essa saudade de mim, já que o vocábulo saudade é um sentimento intenso do que não está perto.
Atento-me ao dia com sua insistência em passar tão rápido por causa dos muitos compromissos. Forço-me a viver o dia um por vez e com a percepção do agora, como tempo absoluto e real. Tempo que, com sabedoria, deve ser apreciado e aproveitado com as melhores ações ‒ incluo todas, pois as que não se desenvolveram bem tornaram-se exemplos.
E quando for o momento de ir, desejo estar imensamente feliz por ter feito as viagens planejadas, os projetos afins, trabalhado com amor, ter sorrido bem mais do que ter aberto sisudez, ter abraçado com braços fortes e amorosos, ter tido mais paciência... bem mais, ter dado atenção e importância ao que realmente possui. Desejo estar tão próxima e não saber mais o que é ter saudade de mim.
Sou o meu tudo nesse campo da vida. Sou o meu início e o meu eterno. Sou, para mim, a companheira de vida. É comigo que sempre estarei.
E o vento suave balança a flor delicada no jardim de casa; vou até a varanda e sinto-me melhor, começo a não mais sentir saudade de mim.

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