Ambição e castigo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Quando era pequeno, ouvi um alerta de
mamãe, gente de família simples, do qual nunca me esqueci, após papai cair na
boa conversa de um vigarista que lhe vendeu um bilhete vencido da loteria. O
farsante mostrou-lhe os números impressos no jornal do dia, Gazeta de Notícias, que lhe faziam supor serem os mesmos do bilhete. Era
tudo falsificado, e meu velho gastou o salário do mês de minha família,
pensando que havia encontrado um caipira bobo que lhe vendera, ao preço do
salário mínimo, o bilhete do milhão. Eis o alerta: “Bobo é quem cai no conto do
vigário”.
A partir daí, fiquei esperto e percebi
que, em se tratando de dinheiro, besta é quem pensa ganhar milhão fácil à custa
alheia. Em geral, os estelionatários, quando encontram alguém ambicioso e
metido a esperto, fazem miséria com essa pessoa.
Não é à toa que existem milhares de fakes na internet. Vivemos num mundo
bestial, em que para cada pessoa boa há cem más. Um dos meios de enganar os
trouxas é publicar, nalguns desses diversos sites, de preferência os da última
moda, um perfil falso, que depois será deletado. Ali, o 171 publica, sem pudor,
tudo que quiser: títulos acadêmicos inexistentes, milhares de seguidores,
negócios da China, lucros que forjam sua imagem como a de grande empresário
etc.
Depois disso, é só ir atrás dos
“espertos” e fazê-los crer que se tornarão, muito em breve, milionários. Então,
começa a extorsão. Hoje é um empréstimo de x, amanhã de y e, quando a pessoa se
dá conta de que caiu no conto do vigário, o prejuízo já é irreparável. Então,
vem a vergonha de dizer a seus familiares que os milhões que esperava receber
voaram mais alto do que Fernão Capelo
Gaivota.
As únicas formas indiscutíveis que
conheço de alguém ficar rico, sem tisnar suas mãos e consciência, é ganhar na
loteria, com bilhete comprado em loja credenciada; herdar milhões de parente
próximo ou a fortuna do Quincas Borba,
personagem de um dos meus romances.
Ganhar na loteria não é bom para quem é
pródigo, pois em pouco tempo distribuirá dinheiro a rodo. Herdar é coisa muito
comum em romances, contos, novelas e
filmes. Mas se a herança é como a do Quincas,
cuidado! Não faltarão parentes e amigos batendo na porta de sua casa para lhe
pedir ajudinha na compra dum
barraquinho, dum sitiozinho e... quando você se der conta, estará com ũa mão na
frente e outra atrás. Então, ninguém mais quererá saber de você.
Fora disso, precisamos valorizar cada
centavo conquistado com nosso suor e trabalhar muito. Não para ajuntar tesouro
na Terra, onde “a traça rói, a ferrugem corrói e o ladrão rouba”, como nos
alertou o Mestre, mas para legar as riquezas do espírito a nossos verdadeiros
tesouros, que estão na família. Ganhar dinheiro fácil, como Rubião herdou do maluco Quincas Borba, pode ser um meio rápido
de... ficar doido como ambos, que acabaram assim na terra dos pés juntos.
Eu sou Machado, e quem psicografou isto foi meu secretário, Jó.
Obs.: esta é obra de ficção; se algum
dia o Espírito Machado de Assis ditar-me alguma coisa, não terei dúvida em
creditar-lhe a autoria do texto, mas isso ainda não ocorreu.
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