Perante o livre-arbítrio
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Em conversa com Emmanuel, Machado de
Assis indagou-lhe:
— Bondoso apóstolo desencarnado do
Cristo, algo que alguns teóricos atuais do espírito têm contestado é o
livre-arbítrio humano. Que achas disso?
Em resposta, ouviu do ex-mentor
espiritual de Chico Xavier o seguinte:
— Sinto-me muito pequenino, meu caro Bruxo do Cosme Velho, para ser
cognominado de “apóstolo do Cristo”. Ainda possuo grandes débitos do passado a
quitar com o Senhor Supremo da Vida. Entretanto, responder-te-ei conforme o
entendimento corrente nesta cidade espiritual onde nos encontramos e na qual
venho obtendo, em séculos de estudo, os conceitos que transmiti ao bondoso
médium mineiro.
Alega-se que se é tão livre na Terra
quanto um papagaio na gaiola. E as pessoas que assim pensam negam o
livre-arbítrio com base no grande número de grilhões que lhes tolhem a
liberdade, quais sejam: deveres familiares,
regras de convivência social, atribuições trabalhistas, legislação... Olvidam, porém, que sem
disciplina não há escola que permaneça de pé.
Ocorre, ainda, que nem sempre nossa
liberdade de fazer o que queiramos condiciona-se à de fazer o que devemos. Daí
decorrem os males da alma e do corpo.
Por isso mesmo, o apóstolo Paulo
escreveu: “Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso
colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no
espírito, do espírito colherá a vida eterna. Não desanimemos na prática do bem,
pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos” (BÍBLIA de Jerusalém. Aos Gálatas: 6:7-9).
Foi então que entrei na conversa e
disse a Emmanuel e ao Bruxo:
— Quando jovem, fui intuído a compor letra
musical soprada ao meu ouvido, que intitulei de Cuidado com as pedras!
Em resposta, o ex-guia espiritual do
Chico pediu-me:
— Encaminha-a aos teus leitores, para
que entendam melhor o que é livre-arbítrio.
— Não me faço rogado. Eis a letra:
Eu preciso caminhar,
Mas, vigilante, tenho que
Olhar o chão que for pisar
Para ao solo não cair.
“Cuidado com as pedras
Que encontrares no caminho,
Cuidado, também,
Que poderás pisar espinho.”
Meu protetor me disse isso
Que acabei de lhes dizer
E, prevenindo-os, eu quero
Também então me precaver.
“Cuidado com as pedras
Que encontrares no caminho,
Pois podes cair
E ter que te erguer sozinho.”
Nós precisamos vigiar
A nossa estrada a seguir,
Porque o mal está no ar
E quer até nos destruir.
Precisas andar
No caminho que conduz
Em cada vitória
Mais um passo até Jesus.
Eu preciso caminhar,
Mas, vigilante, tenho que
Olhar o chão que for pisar — bis
Para ao solo não cair.
Só então vim a saber que a composição
musical me fora inspirada pelo Bruxo
quando eu estava com cerca de vinte anos de idade. Com lágrimas nos olhos,
despedimo-nos.
A música da letra vai depois, a pedido, desde que meus créditos sejam
respeitados. Entretanto, a quem possa interessar, esclareço que a composição
mais parece um mantra...
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