A festa
Hilário Silva
Era homem de meia-idade. Chamava-se Frederico Manuel de
Ávila.
Comerciante progressista. Espírita há dois lustros,
buscava pautar a existência pelo Evangelho renovador. Contudo, era sempre
afobado.
Raro se detinha para examinar um problema maior.
Impaciente. Precipitado. Febricitante. Várias vezes fora
admoestado para reduzir a marcha da própria vida.
Amigos aconselharam. Espíritos advertiram.
Tudo inútil.
Certo dia, demorando-se mais no escritório, voltou ao
lar, quase à noitinha, acelerado como de hábito.
De posse da chave, abriu a porta e entrou.
Percorria o corredor para chegar a uma das salas, quando
nota um vulto caminhando para ele, a toda pressa, na penumbra...
Surpreendido e amedrontado, ante a figura estranha,
julgou-se à frente de algum amigo do alheio e volveu sobre os próprios passos,
em corrida aberta.
Na fuga, porém, tropeça num canteiro do jardim e cai,
gritando, estentórico. Os gritos atraem vizinhos, pressurosos, que o encontram
desmaiado.
É conduzido ao hospital próximo.
Frederico fraturara uma perna...
Mais tarde, volta a casa com a perna engessada. Na
intimidade da família, foi compelido a lembrar-se de que aniversariava naquele
dia... E tudo ficou esclarecido. Como se demorasse em serviço, os parentes
quiseram surpreendê-lo no trabalho, verificando-se o desencontro.
A esposa e os filhos, para recepcioná-lo alegremente, em
festa íntima, alteraram as disposições dos móveis do interior da casa.
E só então pôde compreender que o vulto, que o assustara,
era ele mesmo refletido no grande espelho da parede da sala de jantar que fora
mudado de posição...
Do livro O Espírito
da Verdade, obra mediúnica psicografada pelos médiuns Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier.
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