Tem faltado Deus em nossa vida?
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Nestes
tempos em que são tantos os desmandos e os atos de corrupção na esfera
política, é bom lembrar o que Aleksandr Soljenítsyn, o consagrado autor do
livro “Arquipélago Gulag”, escreveu em importante artigo publicado anos atrás
pelo jornal O Estado de S. Paulo, no
qual o conhecido escritor russo disse ser preciso trazer Deus de volta às
preocupações humanas, tanto no campo político como no campo cultural e social.
Escreveu
Aleksandr Soljenítsyn: “Não, toda a esperança não pode depender da ciência, da
tecnologia, do crescimento econômico. A vitória da civilização tecnológica
também instilou em nós a insegurança do espírito. Suas dádivas enriquecem, mas
também nos escravizam”.
É
bom esclarecer que “Arquipélago Gulag” é provavelmente a mais forte e certamente
a mais influente obra sobre como funcionavam os gulags (campos de concentração
e de trabalho forçado na antiga União Soviética) nos tempos de Josef Stálin. O
livro, de 1.800 páginas, é uma narrativa sobre fatos que foram presenciados
pelo autor, prisioneiro durante onze anos em Kolima, num dos campos do
arquipélago, e por duzentas e trinta e sete pessoas, que confiaram suas cartas
e relatos ao autor. Escrita entre 1958 e 1967, a obra foi publicada no Ocidente
no ano de 1973 e circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão
minúscula, escondida, até a sua publicação oficial no ano de 1989.
Nascido
numa época em que já estava instalado na Rússia o regime socialista, desde o
momento em que decidiu pela publicação de seu livro o escritor não mais pôde
viver em seu país. Como se diz em política, ele caíra em desgraça ao desvendar
as mentiras e os desmandos que se escondiam por trás da chamada Cortina de
Ferro. Sua denúncia, feita tantos anos antes da dissolução da União Soviética,
lhe confere, pois, autoridade moral indiscutível para apontar não apenas as
mazelas do socialismo soviético, como as ilusões inerentes às economias
capitalistas.
Sua
análise acerca do comportamento materialista que caracteriza a sociedade
terrena parece extraída de qualquer das obras espíritas sérias, tal a afinidade
das ideias. Com efeito, Dr. Bezerra de Menezes, em memorável mensagem que abre
o livro “O Espírito da Verdade”, obra publicada em 1961, de autoria de
Espíritos diversos, por intermédio de Waldo Vieira e Chico Xavier, em se
reportando aos problemas do mundo, proclamou que “fora do Cristo não há
solução”, entendendo-se por “Cristo” o Evangelho lido, compreendido e aplicado,
que Bezerra de Menezes considera suficiente para a solução de quaisquer dos
chamados problemas humanos.
Não
há como censurar a proposta do escritor russo ou a conclusão do amorável
benfeitor espiritual.
Nós
somos Espíritos, não meros compostos orgânicos. O mundo material é, em si,
singela paragem transitória a servir-nos de escola e oficina para a preparação
das almas com vistas a um destino grandioso. Apegar-se a ele, escravizar-se aos
seus valores, dar às questões temporais importância maior do que elas têm,
significa confundir os objetivos fundamentais da existência humana,
complicando-nos o futuro e a vida.
Ante
a pergunta que dá título a este texto, a resposta é fácil: Sim, tem faltado
Deus em nossa vida, em nossas ações, em nossos projetos, seja na esfera
individual, seja na esfera política. De Deus advém-nos tudo o que temos e o que
somos, mas agimos como se Ele não existisse e nenhuma importância tivesse em
nossa vida.
Ensina
o Espiritismo que uma das finalidades da encarnação é possibilitar que as
pessoas façam a parte que lhes cabe na obra da Criação, o que nos leva a
concluir que o homem não pode pensar apenas em si e na satisfação pura e
simples de seus interesses.
As
reflexões do laureado e saudoso escritor russo chamam a atenção exatamente para
isso. Que elas sejam lidas e meditadas,
para que o materialismo que domina o homem moderno ceda um pouco, eis o que espíritas
e não espíritas certamente desejam.
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Maravilhoso adequado aos tempos atuais.
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