quinta-feira, 10 de junho de 2021

 


O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

 

Parte 11

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.

Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.

Eis as questões de hoje:

 

81. Orar sobre o túmulo pode ajudar o desprendimento do Espírito?

Sim. O fato foi comprovado com o caso Augusto Michel, que insistiu para que determinado médium orasse sobre seu túmulo. Feito isso, ele sentiu-se liberto. A insistência do Espírito tinha sua razão de ser se levarmos em conta a tenacidade dos laços que ao corpo o prendiam e a dificuldade do seu desprendimento, em consequência da materialidade de sua existência. Compreende-se que, mais próxima, a prece pudesse exercer uma espécie de ação magnética mais poderosa no sentido de auxiliar o desprendimento. Kardec, aliás, referindo-se a esse caso, deixou no ar esta pergunta: - O costume quase geral de orar junto aos cadáveres não provirá da intuição inconsciente de um tal efeito? (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. IV, Augusto Michel.)

82. Que tipo de arrependimento é mais profícuo e útil?

O arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus, e importa no desejo ardente de uma reparação. Essa a razão pela qual o arrependimento nem sempre acarreta a imediata libertação do Espírito. Mas o predispõe para ela, sendo-lhe preciso, além disso, provar a sinceridade e a firmeza de sua resolução, por meio de novas provações reparadoras do mal praticado. (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, Lisbeth.)

83. Qual é o efeito do orgulho sobre os indivíduos?

Orgulho, pai de todos os defeitos morais, gera a soberba, a tirania, o egoísmo, e é, por isso mesmo, a fonte de todos os sofrimentos que acabrunham a criatura, em decorrência da lei de causa e efeito, que rege os destinos humanos. (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, Príncipe Ouran.)

84. O Espírito ainda perturbado entende como é que se dá o fenômeno da manifestação mediúnica?

Não. O Espírito perturbado não tem liberdade de escolha e é conduzido instintiva e atrativamente para o médium que demonstre aptidão especial para as comunicações desse gênero. (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, F. Bertin, 2ª mensagem.)

85. Que acontece àqueles que só pensam em si?

O depoimento de Clara é expressivo quanto a essa pergunta. Disse ela: “Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esquecida de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido”. Comentando o caso, São Luís acrescentou: “Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher para ser assim tão miserável. Cometeu ela algum crime horrível? roubou? assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com o que chamais felicidade terrena; beleza, gozos, adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam: – Que mulher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber? Foi egoísta; possuía tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto como esqueceu a primeira das virtudes – a caridade. Não tendo amado senão a si mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa. Eis o que constitui o seu tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela não sofre torturas físicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é aliás desnecessário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso, porquanto, se tal acontecesse, os demônios seriam seres a ocuparem-se dela. O egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a persegue – verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro demônio”. (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, Clara, itens 2 e 4.)

86. Que são as trevas?

Quando se diz que certos Espíritos estão imersos em trevas, deve-se depreender daí uma verdadeira noite da alma comparável à obscuridade intelectual do idiota. É uma inconsciência com relação a tudo que os rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material. É, principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. Pois que acreditaram em o nada, as aparências desse nada os supliciam, porque coisa alguma percebem em torno de si, somente trevas. As trevas para o Espírito são, em resumo, a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido... (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, Clara, Estudo sobre as comunicações de Clara, pergunta feita a São Luís e mensagem assinada por Clara.)

87. Que estado sobrevém aos suicidas?

A um suicida, Kardec perguntou se foi doloroso o momento em que a vida dele se extinguiu. Ele respondeu: “Menos doloroso que depois”. Tal estado, segundo São Luís, sobrevém sempre ao suicídio, porque o Espírito do suicida – como regra geral – continua ligado ao corpo até o termo da vida que foi abreviada. A decepção que daí advém é, portanto, muito grande. No caso do suicida da Samaritana, ele experimentava, ainda, o suplício de sentir os vermes a corroerem o corpo, um estado comum aos suicidas, embora nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, O suicida da Samaritana.)

88. Por que muitos Espíritos têm dúvida sobre a própria desencarnação?

A dúvida com relação à morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevaram a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a ideia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde “não”, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto. E isso ele afirmará até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e pode dar ao Espírito uma ansiedade muito grande. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, O suicida da Samaritana, nota de Kardec após a pergunta 18.)

 


Observação: Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/06/blog-post_03.html

 

 

 

 

 

 

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