Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 12
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Nas experiências em que Katie King apareceu
materializada, poderia a médium Florence Cook ter preparado previamente o local
da sessão, com vistas a enganar os experimentadores?
B. Que cuidados para prevenir a fraude eram tomados pelos
experimentadores?
C. O sábio Aksakof acreditou na veracidade das experiências
de materialização de Katie King?
Texto para
leitura
214. Diz Aksakof que o Sr. Luxmoore
convidou-o a examinar bem as ligaduras, nós e selos colocados na médium: tudo
estava intacto. Quando teve de cortar os laços, sentiu grande dificuldade para
introduzir a tesoura sob as fitas, tão fortemente tinham sido atados os punhos.
215. Ele examinou de novo o gabinete,
logo que a Srta. Cook o deixou. Para ele era evidente que não haviam sido
joguete de mistificação por parte da Srta. Cook.
216. Mas, então, donde tinham vindo e
por onde haviam desaparecido aquelas formas brancas, vivas, falantes – uma
verdadeira personalidade humana?
217. Escreveu Aksakof:
“Lembro-me muito bem da impressão que
experimentei nesse dia. Eu estava certamente preparado para ver essas coisas,
entretanto, foi-me custoso acreditar nos meus olhos. O testemunho dos sentidos,
a lógica mesmo, me forçavam a crer, enquanto a razão a isso se opunha; tanto é
verdade que a força do hábito subjuga os nossos raciocínios. Quando estamos
habituados a uma coisa, supomos compreendê-la.
Um observador superficial suporá,
naturalmente, que o papel de Katie foi representado por uma pessoa qualquer,
introduzindo-se por uma abertura habilmente dissimulada. Mas não nos esqueçamos
de que as sessões nem sempre eram realizadas na casa ocupada pela família
Cook.”
218. Ele teve depois oportunidade, no
dia 28 de outubro, de tornar a ver Katie em uma sessão organizada na residência
do Sr. Luxmoore – um homem rico –, antigo juiz de paz. Os convidados eram em
número de quinze. Enquanto era esperada a Srta. Florence Cook, foi examinado o
compartimento que devia servir de câmara escura e que se abria para a sala.
Achava-se nele uma segunda porta, que o Sr. Dumphey (redator do Morning-Post)
fechou à chave, guardando-a no bolso.
219. Logo depois chegou a Srta.
Florence, acompanhada de seus pais; foi colocada em uma cadeira perto da porta
que dava para a sala e o Sr. Luxmoore amarrou-a, mas não da mesma forma por que
o tinha feito na sessão precedente: o busto e os braços foram ligados
separadamente, a fita que cingia o busto foi ainda esta vez passada por baixo
de um gancho de cobre, fixado no soalho perto da cadeira em que se achava a
Srta. Cook, e em seguida conduzida para a sala; os nós da fita foram selados
como da primeira vez pelo Sr. Luxmoore. Todos os convidados assistiram a essa
operação, depois da qual passaram para a sala.
220. As cortinas foram corridas e o
grupo se colocou diante, em meio círculo. O aposento estava suficientemente
iluminado. Dentro em pouco, a cortina afastou-se cerca de um pé e a forma de
Katie apareceu na porta, vestida como de ordinário, e fazia os seus discursos
habituais. A fita que repousava no soalho não se movia.
221. Katie insistiu de novo para que
se lhe apresentassem perguntas sensatas. Aksakof exprimiu-lhe o desejo de ela
se aproximar mais do grupo e de avançar no aposento ainda que fosse um só
passo, como já o tinha feito em outras sessões; ela, porém, respondeu que não
podia fazê-lo nessa noite.
222. Katie desapareceu por um instante
e tornou a aparecer segurando um grande vaso japonês que estava no aposento
onde se achava a Srta. Cook, mas a grande distância da cadeira onde estava
amarrada. O vaso foi retirado das mãos de Katie e esta volteou três vezes sobre
o lugar. Por esses movimentos, queria evidentemente demonstrar-nos que seu
corpo e suas mãos estavam livres de obstáculos e, por consequência, que não era
a médium que se mostrava.
223. A sessão foi quase de uma hora,
durante a qual Katie apareceu e desapareceu repetidas vezes. Enfim, a Srta.
Cook acordou; teve ainda uma conversa com Katie e a sessão terminou como
precedentemente. Um dos assistentes examinou os selos e os nós, cortou as fitas
e levou-as.
224. Entre as notas de Aksakof ele
encontrou esta notícia, que se relaciona com a época das experiências em
questão: “Confesso que as sessões da Srta. Cook me impressionaram vivamente; de
um lado eu hesitava em crer nos meus olhos; entretanto a evidência dos fatos,
as condições em que se produziram, obrigaram-me a aceitá-los...”
225. Katie cumpriu sua promessa de
deixar-se fotografar. Ninguém suporia, nessa época, que essas experiências
fotográficas fossem feitas pelo Sr. Crookes, descrente ainda dos fenômenos de
materialização.
226. Durante a conversa que teve com
Crookes após as sessões relatadas, Aksakof deu-lhe, a pedido dele, sua opinião
sobre essas manifestações. “Respondi-lhe que me via forçado a considerá-las
autênticas”, afirmou Aksakof. Mas Crookes, ainda incrédulo, observou: “Nenhuma
ligadura me fará crer nesse fenômeno; a meu ver, a ligadura não oferece
embaraços à força que age; não me darei por convencido enquanto não vir, ao
mesmo tempo, a médium e a figura materializada”.
227. Relatório da comissão dos sábios que se reuniram em Milão, em 1892,
para o estudo dos fenômenos psíquicos – Tomando em consideração o
testemunho do Professor César Lombroso sobre os fenômenos mediúnicos que se
produzem por intermédio da Sra. Eusápia Paladino, sábios de renome reuniram-se
em Milão para fazer com ela uma série de estudos tendentes a verificar esse
fenômenos, submetendo-a a experiências e a observações tão rigorosas quanto
possíveis. Os dados adiante reproduzidos constam do citado relatório. (1)
228. Houve ao todo dezessete sessões,
que se realizaram na residência do Sr. Fínzi, (Rua do Mont de Piété), das 9
horas à meia-noite. A médium, convidada para essas sessões pelo Sr. Aksakof,
foi apresentada pelo Cavalheiro Chiaia, que assistiu somente à terça parte
delas e quase unicamente as primeiras e menos importantes. À vista do ruído
produzido na imprensa e das diversas apreciações feitas a respeito da Sra.
Eusápia e do Cavalheiro Chiaia, resolveu-se publicar, sem demora, o mencionado relatório.
229. Os resultados obtidos nem sempre
corresponderam à expectativa dos pesquisadores, não porque não tivessem, em
grande quantidade, fatos, em aparência ou realmente importantes e maravilhosos;
mas na maioria deles não puderam aplicar as regras da arte experimental, que em
outros campos de observação são consideradas necessárias para chegar a
resultados certos e incontestáveis. A mais importante dessas regras consiste em
mudar um por um os modos de experimentação, de maneira a descobrir a verdadeira
causa, ou pelo menos as verdadeiras condições de todos os fatos.
230. As mudanças que nos pareciam
necessárias para pôr fora de dúvida o verdadeiro caráter dos resultados, ou não
foram aceitas como possíveis pela médium, ou, se foram realizadas, apenas
serviram para tornar quase sempre a experiência nula, ou pelo menos produziram
resultados obscuros.
231. A respeito disso, os sábios
escreveram:
“Não temos o direito de explicar esses
fatos com o auxílio dessas suposições injuriosas, que muitos consideram ainda
as mais simples e das quais os jornais se têm constituído campeões. Pensamos,
ao contrário, que se trata aqui de fenômenos de natureza desconhecida e
confessamos ignorar as condições necessárias para que eles se produzam.
Querer fixar essas condições por nós
mesmos seria, pois, tão extravagante como pretender fazer a experiência do
barômetro de Torricelli, com um tubo fechado em baixo, ou experiências
eletrostáticas, em uma atmosfera saturada de umidade, ou ainda fotografar,
expondo a placa sensível à plena luz, antes de colocá-la na câmara escura.
Entretanto, admitindo tudo isso (de
que nenhuma pessoa sensata pode duvidar), não é menos verdadeiro que a
impossibilidade bem assinalada de variar as experiências, à nossa vontade,
diminuiu singularmente o valor e o interesse dos resultados obtidos,
tirando-lhes, em muitos casos, esse rigor de demonstração que se tem o direito
de exigir para fatos dessa natureza, ou, antes, ao qual se deve aspirar.”
232. Por essas razões, entre as
inumeráveis experiências efetuadas, o relatório não mencionou, ou o fez somente
de forma rápida, as que parecerem aos sábios pouco prováveis e a respeito das
quais as conclusões puderam facilmente variar entre os diversos
experimentadores. Os sábios mencionaram, porém, e com mais detalhes, as
ocasiões nas quais, apesar do obstáculo indicado, as experiências parecem ter
atingido um grau suficiente de probabilidade.
(1) Firmaram o relatório os seguintes
sábios: Alexandre Aksakof, Diretor do jornal “Os Estudos Psíquicos”, em
Leipzig, Conselheiro de Estado de S. M. o Imperador da Rússia; Giovanni
Schiaparelli, Diretor do Observatório Astronômico de Milão; Carl Du Prel,
Doutor em Filosofia, de Munique; Angelo Brofferio, Professor de Filosofia; Giuseppe
Gerosa, Professor de Física da Escola Real Superior de Agricultura de Portici;
G. B. Ermácora, Doutor em Física; Giorgio Fínzi, Doutor em Física; Charles
Richet, Professor da Faculdade de Medicina de Paris, Diretor da “Revista
Científica”; e César Lombroso, Professor da Faculdade de Medicina de Turim.
Respostas às
questões preliminares
A. Nas experiências em que Katie King apareceu
materializada, poderia a médium Florence Cook ter preparado previamente o local
da sessão, com vistas a enganar os experimentadores?
Poderia, sim. Ocorre que tanto William
Crookes como o sábio Aksakof afirmam que as sessões nem sempre foram realizadas
na casa da família Cook. No dia 28 de outubro, por exemplo, a sessão ocorreu na
residência do Sr. Luxmoore – um homem rico –, antigo juiz de paz, na presença
de quinze convidados. (Fatos Espíritas
- O Espírito Katie King materializa-se nas sessões do sábio Aksakof.)
B. Que cuidados para prevenir a fraude eram tomados pelos
experimentadores?
O que ocorreu na reunião do dia 28 de
outubro dá uma pista do que era feito naquela oportunidade. Assim que a médium
Florence Cook chegou, foi colocada em uma cadeira perto da porta que dava para
a sala e o Sr. Luxmoore amarrou-a: o busto e os braços foram ligados
separadamente, a fita que cingia o busto foi ainda esta vez passada por baixo
de um gancho de cobre, fixado no soalho perto da cadeira em que se achava a
Srta. Cook, e em seguida conduzida para a sala. Os nós da fita foram selados
pelo Sr. Luxmoore. Todos os convidados assistiram a essa operação. O aposento
estava suficientemente iluminado. Dentro em pouco, a cortina afastou-se cerca
de um pé e Katie King apareceu na porta, vestida como de ordinário, fazendo
seus discursos habituais. A fita que repousava no soalho não se movia. (Obra
citada - O Espírito Katie King materializa-se nas sessões do sábio Aksakof.)
C. O sábio Aksakof acreditou na veracidade das experiências
de materialização de Katie King?
Sim. Ante uma pergunta que lhe fora
feita por William Crookes, Aksakof disse: “Respondi-lhe que me via forçado a
considerá-las autênticas”. (Obra citada - O Espírito Katie King materializa-se
nas sessões do sábio Aksakof.)
Observação:
Para acessar a Parte 11 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/08/blog-post_06.html
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