Lavandas
transcendentais, madeleines e bolo com glacê
CÍNTHIA
CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
E a menina novamente estava entre os
canteiros de lavanda. Não se podia descuidar, Clara sempre corria para lá. Ela
recentemente completara seis anos, e talvez por não haver nenhuma criança de
sua idade morando próximo, buscava companhia entre as flores. Os pais acordavam
muito cedo; o trabalho no campo começava antes de o sol nascer. A avó preparava
a primeira refeição da neta que, em minutos, comia e voltava apenas antes do
almoço. A avó sorria e lembrava que também já havia sido criança.
Era época da primavera, e o campo
estava radiante de lindas cores; a predominante era a lilás. E Clara corria
entre os canteiros, conversava, dava risadas verdadeiras, acariciava as
pequenas flores e ficava muito à vontade no local. Seus sapatinhos ficavam
cobertos de poeira de terra.
O tempo não era sentido, pois ela
sempre comentava com a avó ‒ na hora do almoço ‒
que quase não havia brincado ainda de tão rápido que passara. A avó, outra vez,
sorria. Clara almoçava, ficava um pouquinho com a avó esperando o sol forte
baixar, e querendo mesmo brincar entre as lavandas. Enquanto a menina
aguardava, as nuvens não fugiam de sua observação, e os animais, as flores, o
mágico, a fada surgiam inesperadamente no céu, ainda mais se o vento estava um
pouco mais forte. E a avó confirmava as figuras, pois ela também já havia sido
criança.
Com o sol mais ameno, Clara, feito
mágica, estava entre suas flores lilases e corria, escondia-se, achava-se,
sorria e não parava. Na cozinha da casa sempre havia pequenos vasos com as
flores que a menina colhia. Ela dizia a avó que as flores alegravam o dia. E
para o fim da tarde não demorava. Os pais de Clara retornavam por onde a filha
brincava para os três voltarem juntos. De longe a menina os via e sempre corria
ao seu encontro. Os olhos de Clara tinham uma luz de alegria. E, saltitante, a
menina vinha à frente. A avó os aguardava na varanda.
Após o banho e o jantar, era o momento
de a mãe contar algumas histórias para a filha como ocorria todas as noites.
Algumas histórias eram reais, mas outras, inteiramente ficcionais. Clara amava
todas. E normalmente antes do fim da historinha, a menina já estava dormindo, mas
naquela noite Clara não dormiu, seus olhos estavam abertos e brilhantes. Ela
sorriu para a mãe que também sorriu compreendendo possivelmente a expectativa
da filha.
No dia seguinte, era o aniversário de
sete anos de Clara. A família ainda não sabia, mas todos os amigos da pequena
lhe falaram que viriam para cumprimentá-la. Talvez a família não os conhecesse,
no entanto sempre estavam com a menina brincando entre as lavandas não só desse
tempo.
Naturalmente, no quarto, além de sua
mãe, alguns amigos sorriram para a menina que também sorriu de volta.
Clara ainda comentou com a mãe que a
avó lhe dissera que faria madeleines(1) e bolo com glacê. A mãe
sorriu e as crianças também.
(1) Madeleine é um doce tipicamente francês com a mistura de ovos, açúcar, farinha, fermento, manteiga derretida e raspa de limão, que depois é assada no forno brando, em formatos que lembram conchas.
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