Como
entender as expiações coletivas
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Segundo o Espiritismo, as faltas dos
indivíduos, de uma família ou de uma nação, qualquer que seja seu caráter, se
expiam em virtude da mesma lei. O criminoso revê sua vítima, seja no plano
espiritual, seja vivendo em contato com ela numa ou em várias existências sucessivas,
até a reparação de todo o mal cometido. Dá-se o mesmo quando se trata de crimes
cometidos solidariamente, por um certo número de pessoas. As expiações são,
então, solidárias, o que não elimina a expiação simultânea das faltas
individuais.
Lembra-nos Kardec que em todo ser
humano temos o caráter do indivíduo, do ser em si mesmo, o caráter de membro de
uma família e, enfim, o caráter do cidadão. Sob cada uma dessas três faces
pode ele ser criminoso ou virtuoso, quer dizer, pode por exemplo, ao mesmo
tempo, ser virtuoso como pai de família e criminoso como cidadão, e
reciprocamente. Disso derivam as situações especiais em que ele irá encontrar-se
em suas existências sucessivas.
Salvo as naturais exceções, pode-se
admitir como regra geral que todos aqueles que têm uma tarefa comum, reunidos
numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado e se
acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer
dizer, expiado o passado ou cumprido a missão aceita.
Graças ao Espiritismo, compreendemos a
justiça das aflições ou vicissitudes que não resultam de atos da vida presente,
porque sabemos que se trata da quitação de dívidas perante a Lei contraídas no
passado. Por que não ocorreria o mesmo com as dívidas coletivas?
Diz-se, comumente, que as infelicidades
gerais atingem o inocente como o culpado; mas pode ser que o inocente de hoje
tenha sido o culpado de ontem. Tenha ele sido atingido individualmente ou
coletivamente, certamente é que assim mereceu. Ademais, há faltas do indivíduo
e do cidadão. A expiação de umas não livra a pessoa da expiação das outras,
porque é necessário que toda dívida seja quitada até o último centavo.
As virtudes da vida privada não são as
da vida pública. Um indivíduo que seja excelente cidadão pode ser um mau pai de
família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios,
pode ser um péssimo cidadão e ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o
fraco, manchado as mãos em crimes de lesa sociedade. São essas faltas coletivas
que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os
quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião ou terem a ocasião
de reparar o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública,
socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram.
Um expressivo exemplo de expiações
coletivas nos é mostrado por André Luiz no cap. 18 do livro Ação e Reação, psicografado pelo médium
Francisco Cândido Xavier, no qual é descrita a ocorrência de um desastre de
avião e relatadas as providências tomadas pelos benfeitores espirituais com o
objetivo de socorrer as vítimas.
Em face desse caso e de outros
semelhantes, Hilário, amigo de André, perguntou ao instrutor Druso se a dor dos
pais das pessoas que perecem nas lutas expiatórias coletivas é considerada
pelos poderes que controlam a vida. A resposta, além de elucidativa, é
profundamente consoladora, porque comprova que a nave chamada Terra não se
encontra à deriva e tem, portanto, alguém no seu comando.
Respondeu-lhe o instrutor Druso:
"Como não? as entidades que
necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se
acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente,
ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de
que aprendam na saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o
devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao
instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas
mútuas". (Ação e Reação, capítulo
18, pp.
Ninguém se elevará a pleno Céu sem
plena quitação com a Terra. "Quanto mais céu interior na alma, através da
sublimação da vida, mais ampla incursão da alma nos céus exteriores, até que se
realize a suprema comunhão dela com Deus, Nosso Pai", asseverou o instrutor
espiritual.
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