sábado, 30 de setembro de 2023

 



O casamento e o primo Jair

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

 

Há três décadas, conheci de Brasília, por correspondência, o primo Jair, residente em Contagem, MG. No dia 30 de outubro, ele que é o mais velho de cinco irmãos, completa seus 94 anos de idade. Na época, 1993, Jair presenteou-me com seu primeiro livro: Retalhos da vida (1992), em que narra diversos casos relacionados à mediunidade de sua esposa, Cidenir. Anos após, fui presenteado com mais quatro livros de sua lavra: Revivendo o cotidiano (1996); Labaredas mentais (2000, 2ª ed.); Crer ou não crer? (2003) e Trajetória de luz (2018).

Todas essas obras são baseadas em experiências vividas por meu primo em 74 anos de militância espírita. Inicialmente só, depois ao lado da esposa Cidenir, falecida há algumas décadas, Jair exerceu diversas funções e palestras nos centros espíritas que frequentou. Alguns deles foram fundados por ele, como o Centro Espírita Paz e Amor, em Belo Horizonte, no ano de 1980; a Fraternidade Espírita Luz Acima e o Centro Espírita Luz Divina, em Contagem, MG.

Jair e Cidenir não tiveram filhos naturais, mas adotaram dois filhos, Fabiano e Vinícius, e uma filha, Anália, além da prole desta, quando ela se separou do marido: o jovem Bruno e suas irmãs Luciene e Ludmila, totalizando seis almas queridas pelo casal.

Há alguns meses, foi com grande entusiasmo que recebemos convite da neta Luciene para seu casamento com Davi. Então, convidei minha grande companheira, a querida esposa Lourdes, para não só prestigiar o evento, como também conhecer pessoalmente toda a família e o primo mineiro espírita, de quem só tínhamos, além das obras, cartas, contatos telefônicos e por internet.

O enlace do casal foi no espaço para casamentos intitulado Sítio do Capão, em Vespasiano, cidade distante de Contagem 42,5 km. Lá encontramos Jair, que nos apresentou sua família.

Ao fim da festa, Bruno, na companhia de Jair, que considera seu pai, levou-nos de volta ao hotel Dom Otto, onde eu e a esposa nos hospedamos. No dia seguinte, também junto com Jair, transportou-nos de carro à residência de ambos em Contagem.   

Ao Bruno, nosso muito obrigado!

O que mais nos impressionou, nesse contato, foi observar a lucidez e memória excelente do meu primo, além do aprumo no seu caminhar, bondade e humildade. Já em sua residência, levou-nos a uma sala destinada exclusivamente a sua biblioteca espírita, onde passa muitas horas do dia lendo, escrevendo e meditando.

Que Jesus ilumine essa alma bondosa e lhe recompense a nobreza de caráter, aliada a uma vida de divulgação do Espiritismo falado, mas sobretudo praticado. Conhecer gente como essa é um privilégio e um incentivo que nos fazem recordar as palavras de Paulo aos Gálatas, 6:9 e 10: “E não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé”.

Paulo não cita nominalmente uma determinada religião e, sim, a família da fé. Como, segundo Allan Kardec, os espíritas cristãos somos os espíritas reais, senti-me no dever, tanto quanto a esposa, de conhecer o parente distante, em avançada idade, cujo trabalho de Espírita cristão remonta a mais tempo do que tenho de idade, além de sua família.

Ao Jair, manifestamos, mais uma vez, nossos votos de sucessos, em seus derradeiros dias de abençoada vida, na esperança de que nos possamos reencontrar, se não nessa, na próxima existência. Então, esperamos estar juntos com o mesmo entusiasmo na semeadura da palavra de Jesus, nosso guia e modelo, à luz do Espiritismo cristão.

Concluo estas modestas palavras com o soneto abaixo, que dedico ao Jair, do incomparável poeta Cruz e Sousa, inaugurador da Escola Simbolista no Brasil:

 

“Longe de tudo

 

É livres, livres desta vã matéria,

Longe, nos claros astros peregrinos

Que havemos de encontrar os dons divinos

E a grande paz, a grande paz sidérea.

 

Cá, nesta humana e trágica miséria,

Nestes surdos abismos assassinos

Teremos de colher de atros destinos

A flor apodrecida e deletéria.

 

O baixo mundo que troveja e brama

Só nos mostra a caveira e só a lama,

Ah! só a lama e movimentos lassos...

 

Mas as almas irmãs, almas perfeitas,

Hão de trocar, nas Regiões eleitas,

Largos, profundos, imortais abraços!”

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 


 

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