Comunicações mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 9
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido
para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Segundo Bozzano, as comunicações mediúnicas entre vivos
são condicionadas, ou seja, dependem de certas condições. A que condições ele
se refere?
B. Nas comunicações entre vivos realizadas por iniciativa
do médium, qual é a hipótese explicativa mais aceitável?
C. Conforme relatos feitos pelo médium Vincent Turvey, é o
sensitivo que se desloca e vai até o local onde o outro indivíduo se encontra.
É assim que devemos entender os fatos?
Texto para leitura
Mensagens obtidas por vontade expressa do médium
113. Os
casos pertencentes a esta categoria se revestem de grande valor teórico, ao
passo que a maneira de interpretá-los reflete a sua influência sobre o modo de
analisar a classe mais importante dos casos de identificação espírita: a
identificação baseada nos informes fornecidos pelos mortos, em torno de sua
existência terrena. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
114. Tal influência deriva do fato de que as comunicações
mediúnicas entre vivos, quando obtidas por expressa vontade do médium, fornecem
um aparente princípio de confirmação da hipótese pela qual a gênese dos
informes verídicos de tal natureza se explica pressupondo que as faculdades
supranormais do médium conseguem obtê-las na subconsciência dos vivos que
tenham conhecido o morto que se afirma presente (telemnesia). (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
115. Convém, no entanto, observar, a propósito, que se se
quiser chegar a explicar os fatos por meio de semelhante hipótese, devem ser
feitas as seguintes concessões: em primeiro lugar, urge conceder às faculdades
supranormais dos médiuns a potencialidade de poderem manifestar-se sem limites
de tempo, de espaço e de condições, ou, em outros termos, deve-se conferir à
subconsciência humana a onisciência divina. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
116. Em segundo lugar, deve-se conceder mais: que com as
mesmas faculdades, uma vez descoberta em algum ângulo do mundo a subconsciência
depositária dos informes desejados, se consiga selecionar recordações latentes
em que jazem sepultados os ditos informes, e isto de modo tão perfeito que
retirassem somente os que se referissem ao pretenso morto comunicante, sem
jamais cair em falta, sem nunca tropeçar em algum pequeno incidente ocorrido a
outro que não seja o morto. Também esse atributo de nunca se enganar é
reservado à onisciência divina. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
117. Em terceiro lugar, conceder tudo isto equivaleria a
admitir que um acontecimento maravilhoso como o que ora examinamos, devido ao
exercício de faculdades espirituais elevadas e nobres, tenha como fim insulso e
único a manipulação de falsas personalidades de mortos para mistificação do
próximo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
118. São estas concessões que teriam de ser feitas à
hipótese em apreço, quando se quisesse explicar os casos de identificação
pessoal dos mortos sem recorrer à interpretação espírita. Não duvido de que os
leitores concordem comigo, achando um tanto excessivas tais concessões. De
qualquer modo, apresso-me a repetir que os casos pertencentes ao presente
subgrupo fornecem apenas um princípio indicador de confirmação favorável a tal
hipótese, e nada mais. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
119. Na verdade, a circunstância essencial em tal ordem de
pesquisa, e que é sistematicamente esquecida pelos propugnadores da onisciência
subconsciente, consiste em que as comunicações mediúnicas entre vivos, da mesma
forma que as comunicações telepáticas e clarividentes, são condicionadas, isto
é, limitadas pela necessidade imprescindível da “relação psíquica”, que não
pode ser estabelecida senão com pessoas vinculadas ao médium ou aos presentes
por profundos sentimentos afetivos e, em circunstâncias especiais, também por
simples laços de parentesco, de amizade ou de conhecimento, nunca, porém, com
pessoas totalmente desconhecidas do médium e dos presentes. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
120. Ora, como tal circunstância tem o valor de uma lei que
rege as manifestações psíquicas (e isto em correspondência com a lei da
afinidade que governa os fenômenos do universo), segue-se que ela resolve a
tese em exame, de modo que a hipótese da onisciência subconsciente converte-se
em pura elucubração fantástica, filosoficamente absurda e cientificamente
insustentável. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
121. Isto posto, referindo-me às hipóteses para explicação
do subgrupo em apreço, observo que só podem existir duas: a primeira é a que acabamos
de discutir, do ponto de vista das provas de identificação espírita e pela qual
se deveria presumir que o médium representa a parte ativa do agente inquiridor,
e a pessoa ausente a parte passiva do indivíduo inquirido em cada um dos mais
recônditos recessos de suas reservas mediúnicas. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
122. A segunda hipótese consistiria em pressupor que o
médium obtenha os informes verídicos que refere, em virtude de uma espécie de
conversação espiritual iniciada entre a sua personalidade integral
subconsciente e a personalidade integral subconsciente do indivíduo ausente.
Esta hipótese foi proposta pelo Prof. Hyslop e confirmada pela modalidade de
realização normal dos episódios em exame. Sobre a outra, apresenta ela a enorme
vantagem de não se lançar ao extremo e desesperado recurso de conferir
onisciência divina à subconsciência humana. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
123. Não é o caso, por enquanto, de acrescentar outras
coisas, porque a enumeração dos fatos fornecerá o ensejo de desenvolvermos
ulteriormente o tema e de acrescentarmos outros argumentos mais adequados à
refutação da primeira hipótese e confirmação da segunda. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
Caso 9
124. Transcrevo este caso do interessante volume de Vincent
Turvey intitulado The beginnings of seership (pág. 221). Embora seja ele
breve, não lhe falta valor sugestivo, tanto mais levando-se em consideração que
o sensitivo-protagonista é o próprio autor do livro. Trata-se de um perfeito
cavalheiro cujo nome é garantia da mais escrupulosa autenticidade de tudo o que
narra sobre as suas experiências. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
125. Vincent Turvey, homem bastante culto e prudentíssimo,
morreu prematuramente de tuberculose, depois de longos anos de sofrimento.
Dotado de raras faculdades clarividentes e mediúnicas, quis, com admirável
perseverança, exercitá-las em benefício da causa, apesar de sua grave
enfermidade e, para tal fim, efetuava sessões com quem lhas solicitava,
limitando-se a pedir aos experimentadores que lhe fornecessem uma narrativa das
manifestações ocorridas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
126. De tal documentação valeu-se ele para compilação de
seu livro que, portanto, é uma obra rigorosamente científica, além de muito
interessante, devido às raras manifestações de lucidez e de identificação
espírita pelo mesmo conseguidas. Fez também experiências de comunicações
mediúnicas entre vivos, tentando manifestar-se a distância em um grupo de
experimentadores amigos, conseguindo tal resultado diversas vezes. Não é o caso
de narrar aqui tais experiências, com exceção do breve incidente que a seguir vou
citar. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo
C)
127. Transcreverei antes um trecho em que ele relata as
suas impressões durante a translação espiritual pelo espaço e a permanência nos
ambientes visados. Escreve ele:
“Quando o meu espírito abandona temporariamente o corpo,
parece-me voar através do espaço com uma rapidez vertiginosa, que torna
indistinta e confusa a paisagem sobre a qual eu passo. Embora me pareça voar a
uma altura de apenas umas duas milhas da superfície do globo terrestre, é-me
muito difícil distinguir terra da água, as florestas das cidades e, a menos que
tais trechos da paisagem sejam muito vastos, não percebo absolutamente os
riachos e as aldeias. Quando atinjo a meta, digamos que esta seja a casa do Sr.
Brown em Bedford, sou capaz de perceber não somente a sala em que ele se acha,
como posso também andar pelos cômodos, observar a mobília dos quartos,
distinguir o que está nas cantoneiras, apalpar as cortinas e ver que são de
veludo, mover uma cama ou mesa, descobrir um escapamento de gás, diagnosticar
moléstias, saber dos negócios do Sr. Brown, etc. Algumas raras vezes, tenho
sido visto também. Além disso, consigo ouvir as conversas familiares e, em
várias ocasiões, tenho influenciado um médium por meio do qual costumo
comunicar-me, e conversar com os presentes.” (pág. 54). (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
128. Em uma das tais experiências de comunicações
mediúnicas com vivos, ocorreu um incidente curioso que ele relata nos seguintes
termos:
“Na quarta-feira passada, 10 de julho de 1907, retirei-me
para a salinha, com a intenção de manifestar-me em um grupo de experimentadores
amigos em Pokesdown (a quatro milhas de distância). Ainda não me havia
estendido no divã, e já o espírito se havia libertado, lançando-se em voo, rumo
à casa deles. Lá chegando, consegui influenciar logo o médium, mas infelizmente
aconteceu que o meu organismo corporal fosse bruscamente perturbado por uma
violenta discussão verificada na sala contígua, de modo que o espírito teve de
voltar por um instante, para reanimar o corpo.
Vejamos agora o que sucedeu. Fui ter à sala para saber por
que motivo me haviam perturbado e vi a minha esposa, a criada de quarto e a
enfermeira, que contemplavam um belo gato da Pérsia, o qual havia acompanhado
pela rua a criada e entrara com ela na casa. E a questão, que sobressaltara o
meu corpo, girava em torno de se ficar ou não com o gato. Notemos, portanto,
que se tratava de uma reunião de pessoas discutindo a respeito de um gato. Ora,
no instante preciso em que isto sucedia na minha sala de jantar, o médium por
mim influenciado a quatro milhas de distância, exclamava: “Um gato! Um gato!”
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
129. Transcrevo, a seguir, o documento nº 6, que se refere
ao mencionado incidente:
“10 de julho de 1907.
Em nossa sessão mediúnica semanal de costume, realizada em
Pokesdown, o Sr. Blake, caindo sob a influência de um espírito, exclamou de
modo enfático: “Um gato! Um gato!”
E isto foi tudo, porque logo depois, a entidade que naquele
momento havia tomado o médium, inesperadamente o abandonou. a) J. Walker – Sra.
Blake – G. Luckham – M. Walker.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
130. No caso exposto, convém notar a perfeita
correspondência entre o incidente ocorrido na casa do sensitivo-agente e o que
se deu na sessão em Pokesdown, em que o médium foi tomado por uma entidade e
que apenas teve tempo de exclamar: “Um gato! Um gato!” para depois abandonar
bruscamente o médium, como se isto sucedesse por causa do gato assinalado. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
131. Ora, como fica clara a perfeita relação de causa e
efeito entre o incidente ocorrido em casa do sensitivo-agente e o que sucedeu
na sessão em Pokesdown, segue-se que a autenticidade da manifestação de um vivo
fica também clara e incontestável e, portanto, deve-se igualmente inferir que o
gato mencionado pela personalidade mediúnica em Pokesdown foi realmente a causa
do imprevisto abandono da influência medianímica, como se deve finalmente
inferir que a personalidade não podia ser outra senão a mesma personalidade
espiritual de Vincent Turvey, porque, precisamente naquele instante, foi ele
abalado e despertado do sono mediúnico por causa de um gato. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
132. De outro ponto de vista observo que, ao caso exposto,
não são ainda aplicáveis as considerações acima a respeito das perplexidades
teóricas que fariam surgir alguns casos pertencentes ao presente subgrupo,
quando forem comparados com casos afins de identificação pessoal dos mortos. E
não lhe são aplicáveis tais considerações porque o próprio caso tende a
confirmar a hipótese espírita, demonstrando a possibilidade de o espírito
humano abandonar temporariamente o seu corpo e ir influir no órgão cerebral de
outra pessoa viva, com as consequências teóricas que daí derivam. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
133. Em outros termos: baseando-se nos episódios da
natureza exposta, fica provado, de forma cientificamente decisiva, que, quando
um médium fala em nome de um vivo ausente, tal personificação não é
absolutamente mistificação da subconsciência do médium (como pretenderiam os
adversários da hipótese espírita), porém um fenômeno autêntico de comunicação
telepático-mediúnica do referido vivo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
134. Se assim é em virtude da análise comparada e das
provas por analogia, daí extraídas, dever-se-á concluir no mesmo sentido,
também quanto aos casos pertencentes ao grupo afim em que o médium fala em nome
de entidades de mortos, as quais demonstram a sua identidade pessoal,
fornecendo informes pessoais ignorados de todos os presentes. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
135. Tais conclusões me parecem logicamente inexpugnáveis e
é por isso que a classe das comunicações mediúnicas se torna, em linhas gerais,
de grande eficácia demonstrativa em favor da autenticidade inatacável dos casos
de comunicações mediúnicas com os mortos. Contudo, aparentemente, faria exceção
um pequeno grupo de casos, como já se disse, que gerariam perplexidades
teóricas contrárias à hipótese espírita, perplexidades estas que consistem na
circunstância de conseguir o sensitivo surrupiar segredos nas personalidades
subconscientes dos vivos ausentes. São estes os casos que me limito a referir.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua
no próximo número.)
Respostas às questões
preliminares
A. Segundo Bozzano, as comunicações mediúnicas entre vivos
são condicionadas, ou seja, dependem de certas condições. A que condições ele
se refere?
Diz Bozzano que essas comunicações, da mesma forma que as
comunicações telepáticas e clarividentes, são condicionadas, isto é, limitadas
pela necessidade imprescindível da “relação psíquica”, que não pode ser
estabelecida senão com pessoas vinculadas ao médium ou aos presentes por
profundos sentimentos afetivos e, em circunstâncias especiais, também por
simples laços de parentesco, de amizade ou de conhecimento, nunca, porém, com
pessoas totalmente desconhecidas do médium e dos presentes. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
B. Nas comunicações entre vivos realizadas por iniciativa
do médium, qual é a hipótese explicativa mais aceitável?
Duas são as hipóteses: a primeira parte da premissa de que
o médium representa a parte ativa do agente inquiridor, e a pessoa ausente a
parte passiva do indivíduo inquirido em cada um dos mais recônditos recessos de
suas reservas mediúnicas. A segunda hipótese consiste em pressupor que o médium
obtém os informes verídicos que refere, em virtude de uma espécie de
conversação espiritual iniciada entre sua personalidade integral subconsciente
e a personalidade integral subconsciente do indivíduo ausente. Esta hipótese
foi proposta pelo Prof. Hyslop e confirmada pela modalidade de realização
normal dos episódios em exame. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
C. Conforme relatos feitos pelo médium Vincent Turvey, é o
sensitivo que se desloca e vai até o local onde o outro indivíduo se encontra.
É assim que devemos entender os fatos?
Sim; é isso mesmo que Vincent Turvey relatou em seu livro The
beginnings of seership. Bozzano transcreve nesta obra um trecho em que o
médium relata suas impressões durante a translação espiritual pelo espaço e a
permanência nos ambientes visados. Escreve ele: “Quando o meu espírito abandona
temporariamente o corpo, parece-me voar através do espaço com uma rapidez
vertiginosa, que torna indistinta e confusa a paisagem sobre a qual eu passo”.
“Quando atinjo a meta, digamos que esta seja a casa do Sr. Brown em Bedford,
sou capaz de perceber não somente a sala em que ele se acha, como posso também
andar pelos cômodos, observar a mobília dos quartos, distinguir o que está nas
cantoneiras, apalpar as cortinas e ver que são de veludo, mover uma cama ou
mesa, descobrir um escapamento de gás, diagnosticar moléstias, saber dos
negócios do Sr. Brown, etc.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância. Subgrupo C)
Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/03/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html
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