Allan Kardec
Parte 7
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Em quantas
categorias, em face das ideias espíritas, Kardec dividia o público de sua
época?
B. As lágrimas dos
pais, devido à desencarnação de um filho, são vistas de que modo pelos desencarnados?
C. A afinidade
fluídica interfere na maior ou menor facilidade das comunicações?
Texto para leitura
71. A primeira
utilidade da lei da destruição, utilidade puramente física, é na verdade esta:
os corpos orgânicos não se mantêm senão à custa de matérias orgânicas, as
únicas que contêm os elementos nutritivos necessários à sua transformação e
manutenção. Eis por que os seres se nutrem uns dos outros, sem com isso
aniquilar ou alterar o Espírito, que fica apenas despojado do seu invólucro.
(Pág. 96.)
72. Além disso,
afirma Kardec, há considerações morais de ordem mais elevada. A luta é
necessária ao desenvolvimento do Espírito, porque é na luta que ele exercita
suas faculdades. Aquele que ataca para ter o alimento e o que se defende para
conservar a vida desenvolvem nesse esforço suas forças intelectuais. Um dos
dois sucumbe. Mas o que foi que, na realidade, o mais forte ou o mais apto
tirou do mais fraco? Apenas sua vestimenta corporal e nada mais; o Espírito,
que jamais morre, mais tarde retoma outro. (Pág. 96.)
73. Como a mais
imperiosa das necessidades materiais é a da alimentação, os seres inferiores da
criação lutam para viver. O senso moral neles inexiste; sua luta tem, pois, por
móvel unicamente a satisfação de uma necessidade. É nesse período que a alma se
elabora e se ensaia para a vida. Mais tarde, ao atingir o grau de maturidade
necessário à sua transformação, ela receberá de Deus novas faculdades: o
livre-arbítrio e o senso moral, que darão um novo curso às suas ideias, mas
isso só se dá gradativamente. Nas primeiras idades domina o instinto animal;
depois o instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam; o homem luta
então, não mais para se alimentar, mas para satisfazer sua ambição, seu orgulho
e a necessidade de dominar. (Págs. 96 e 97.)
74. Com o passar dos
tempos, à medida que o senso moral ganha peso, a luta continua necessária ao
desenvolvimento do Espírito, mas – de sangrenta e brutal que era – torna-se
puramente intelectual e o homem passa a lutar contra as dificuldades da vida,
não mais contra os seus semelhantes. (Pág. 97.)
75. Um leitor da Revista
comunicou à direção dela um fato ocorrido em Montauban que impressionou a
população: um pregador protestante, Sr. Rewile, capelão do rei da Holanda, num
discurso pronunciado perante duas mil pessoas, afirmou-se claramente partidário
das ideias novas difundidas pelo Espiritismo. Segundo a mesma fonte, o Sr.
Rewile abordou com sucesso a questão das manifestações espíritas, em duas
conferências dirigidas para alunos de uma Faculdade. (Págs. 97 a 99.)
76. Reportando-se a
um artigo publicado a 5/3/1865 no Journal de Saint-Jean D’Angély,
escrito pelo dr. A. Chaigneau, renomado médico da região, Kardec diz que o
jornal que o publicou não é ligado ao Espiritismo e, com certeza, um ano antes
não teria acolhido referida matéria, que desenvolve os princípios da doutrina.
Ele conclui, portanto, que o fato – tal como se verificou em Montauban – estava
a indicar uma melhor aceitação das ideias espíritas pela sociedade da época e
uma ampliação do número dos seus partidários. (Págs. 99 a 102.)
77. Do ponto de vista
da ideia espírita, acrescentou Kardec, o público se divide em três categorias:
os partidários, os indiferentes e os antagonistas. As duas primeiras constituem
a imensa maioria. Como os indiferentes ficam satisfeitos por encontrar numa
discussão imparcial os meios de esclarecer aquilo que ignoram, os jornais nada
têm a perder divulgando artigos simpáticos à doutrina, porque os partidários e
os indiferentes são bastante numerosos para compensar as defecções que pudessem
experimentar, se é que as experimentassem. (Pág. 102.)
78. Um assinante da Revista
dirigiu uma carta a um irmão querido que havia falecido, pedindo-lhe que
enviasse sua resposta por meio de um médium. O falecido atendeu ao pedido,
respondendo às perguntas que o irmão, a pedido de seus pais, consignara na
correspondência. (Págs. 103 a 105.)
79. Eis resumidamente
o que o Espírito transmitiu à família: A) Por vezes é muito difícil aos
Espíritos transmitir o pensamento através de certos médiuns pouco aptos a
receber claramente, em seu cérebro, a impressão fotográfica dos pensamentos do
comunicante. B) Os pais deveriam cessar o choro, porque as lágrimas servem para
enervar e desencorajar as almas. Ele partira primeiro, mas em breve todos se
encontrariam na vida espiritual. C) Sua morte, que tanto os afligia,
constituíra, no entanto, o fim do cativeiro em que sua alma vivia na Terra.
(Págs. 105 e 106.)
80. Vários
ensinamentos ressaltam da comunicação precedente. O primeiro é a dificuldade
experimentada pelo Espírito para se exprimir mediunicamente. É que a facilidade
das comunicações depende do grau de afinidade fluídica existente entre o
Espírito e o médium. Sem a harmonia entre um e outro, a única que pode levar à
assimilação fluídica, tão necessária na tiptologia quanto na escrita, as
comunicações são incompletas, impossíveis ou falsas. (Págs. 106 e 107.)
81. Constitui um
erro, pois, impor um médium ao Espírito que se quer evocar. Cabe a ele escolher
o instrumento. Se na reunião só houver um médium, existe um meio de atenuar a
dificuldade: evocar o guia espiritual do médium e perguntar se a evocação de
determinado Espírito é possível. Se houver incompatibilidade entre Espírito e
médium, o comunicante pode transmitir seu pensamento por meio do guia do médium
ou aceitar a sua assistência. Nesse caso, seu pensamento chegará de segunda
mão. Vê-se, só por esse fato, quanto importa que o médium seja bem assistido,
porque, se ele for dominado por um obsessor, um indivíduo ignorante ou orgulho,
a comunicação será alterada. (Págs. 107 e 108.)
82. Em uma reunião
realizada em Montauban, a Sra. G... – médium vidente e sonâmbula muito lúcida –
viu quando um Espírito se curvou sobre sua perna e operou nela fricções e
massagens sobre a região que, devido a uma entorse, doía muito. A operação foi
muito dolorosa, mas ao cabo de dez minutos a entorse desapareceu, a inflamação
se extinguira e o pé readquirira sua aparência normal. (Págs. 109 a 111.)
Respostas às questões propostas
A. Em quantas
categorias, em face das ideias espíritas, Kardec dividia o público de sua
época?
Ele o dividia em três
categorias: os partidários, os indiferentes e os antagonistas. As duas
primeiras categorias constituíam a imensa maioria. Como os indiferentes ficam
satisfeitos por encontrar numa discussão imparcial os meios de esclarecer
aquilo que ignoram, os jornais nada têm a perder divulgando artigos simpáticos
à doutrina, porque os partidários e os indiferentes são bastante numerosos para
compensar as defecções que pudessem experimentar, se é que as experimentassem.
(Revista Espírita de 1865, pág. 102.)
B. As lágrimas dos
pais, devido à desencarnação de um filho, são vistas de que modo pelos
desencarnados?
Cada caso é um caso,
mas a Revista publicou a mensagem de um Espírito que disse que seus pais
deveriam cessar o choro, porque as lágrimas servem para enervar e desencorajar
as almas. E acrescentou que ele partira primeiro, mas em breve todos se
encontrariam na vida espiritual. Sua morte, que tanto os afligia, constituíra
para ele o fim do cativeiro em que sua alma vivia na Terra. (Obra citada, pp.
103 a 106.)
C. A afinidade
fluídica interfere na maior ou menor facilidade das comunicações?
Sim. Diz Kardec que a
facilidade das comunicações depende do grau de afinidade fluídica existente
entre o Espírito e o médium. Sem a harmonia entre um e outro, a única que pode
levar à assimilação fluídica, tão necessária na tiptologia quanto na escrita,
as comunicações são incompletas, impossíveis ou falsas. (Obra citada, pp. 106 e
107.)
Observação:
Para acessar a Parte 6
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/04/revista-espirita-de-1865-allan-kardec.html
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