Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 12
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Os fatos apoiam a tese de que nas manifestações
mediúnicas entre vivos ocorre, de fato, uma conversa entre duas personalidades
espirituais subconscientes?
B. Que diz Bozzano sobre a outra explicação, que não admite
a conversa, mas sim a coleta de certas informações por meio de uma
clarividência telepática especial do sensitivo?
C. Nas comunicações entre vivos, o comunicante encarnado,
vendo depois a mensagem psicografada pelo médium, costuma lembrar-se de tê-la
escrito?
Texto para leitura
170. Como vimos, é fato
positivamente verificado que, nas manifestações mediúnicas de vivos, trata-se
de uma conversa entre duas personalidades espirituais subconscientes. Segue-se
daí que as mesmas manifestações se transformam em provas decisivas de
identificação pessoal dos vivos comunicantes, provas que, por sua vez,
confirmam também, respectivamente, as manifestações análogas pelas quais se
obtêm provas de identificação pessoal dos mortos. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
171. Supondo-se, entretanto, como
o fantasiam os opositores da hipótese espírita, que, nas comunicações
mediúnicas entre vivos, os médiuns extraem das subconsciências destes as
notícias que fornecem sobre a sua vida particular, deveriam ser interpretadas,
de modo análogo, as provas em favor da identidade dos mortos, considerando-as
um noticiário de fatos privados, surrupiados pelos médiuns às subconsciências
dos vivos que conheceram o morto que se diz presente, tal coisa tornaria mais
difícil a demonstração rigorosamente científica das provas de identificação
espírita. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
172. Note-se que digo “mais
difícil” somente e não teoricamente impossível, como pretendem alguns
opositores. E digo assim porque tal demonstração se apoia solidamente em
algumas modalidades de manifestação mais do que suficientes para distinguir as
comunicações dos vivos daquelas dos mortos, como o demonstraremos nas
conclusões. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
173. De qualquer maneira, repito
que a hipótese de uma clarividência telepática especial, que possa selecionar à
distância em alguma subconsciência alheia as notícias necessárias aos médiuns
com a insulsa finalidade de se mistificar a si mesmo e aos outros, é puramente
fantástica e cientificamente insustentável, por isso que destituída de qualquer
fundamento na prática. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
174. Se quisessem explicar, com
essa hipótese, os casos de identificação pessoal dos mortos, dever-se-ia
pressupor que os médiuns conseguem selecionar nas subconsciências alheias
coisinhas insignificantes, ocorridas, algumas vezes, mais de um século antes,
sucedidas, não com a própria pessoa examinada pelo médium e sim com outras
pessoas dele conhecidas. E isto mesmo quando o vivo em exame já esqueceu
completamente e há muitos anos as ninharias em questão, o que o médium
descobriria, selecionaria e surrupiaria igualmente da subconsciência de tal
pessoa. Francamente, nada disto é sensato e parece incrível que tenhamos de
levá-lo a sério, porque se encontram eminentes cientistas que acolhem,
favoravelmente, tais fantasias. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
175. Passando a outras
experiências com a mesma sensitiva, menciono aqui a narrativa de uma visita a
Windsor, feita pela Srta. Summers, transmitida mediunicamente a Stead, do qual
se achava a 250 milhas de distância. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
176. Em 15 de outubro de 1893,
pôs-se diante da mesa, dirigindo o pensamento para a sua “correspondente
espiritual”. Sua mão começou então a escrever o seguinte:
“Faz um dia esplêndido. Parti da
estação de Paddington pelo trem de 1:15. Cheguei a Windsor, visitei o castelo,
gozamos da vista desde o terraço e passamos logo a visitar a capela de São
Jorge. Tinha desejado fazê-lo detidamente, porém, por falta de tempo, passei
para o parque, em busca do seu célebre carvalho, sem chegar a encontrá-lo.
Gamos saíam de todos os lados. Errei pelo bosque, encontrando um velho
carvalho, mas não era o que procurava. Gastei três xelins de trem, meia coroa
em comida, seis pence de telegrama e ônibus, num total de cinco xelins e dez
pence.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo
C)
177. William Stead, muito
oportunamente, observa:
“Tais informações se verificaram
exatas: a hora da saída do trem, a sucessão dos fatos, os gastos, tudo exceto a
soma, em que se enganou. Curioso esse erro de soma, frequente nas comunicações
entre vivos e mortos, erro que provavelmente não depende de interferências
subconscientes, senão de um mau cálculo da personalidade normal da Srta.
Summers, acolhido pela personalidade subconsciente.” (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
178. Citarei ainda um exemplo
tomado das experiências com a Srta. Summers, que servirá para convalidar quanto
se disse sobre a sinceridade, sem reservas, com que as personalidades
subconscientes confiam a um terceiro os seus casos mais delicados. Em 20 de
setembro de 1893, Stead, como de costume, dirigiu seu pensamento à Srta.
Summers, pedindo notícias. Imediatamente sua mão escreveu o seguinte:
“Hoje, para mim, é um dia de
tristes ilusões. Em paga do meu trabalho recebi uma quantia bem inferior à que
esperava, de modo que passo por dificuldades econômicas. Não lhe quis dizer
nada, pois sabia que me daria o que me faz falta, mas não o quero. Entre outras
coisas, devo três libras ao senhorio, mas logo lhe pagarei.
Eu lhe disse:
– Mandar-lhe-ei o que lhe faz
falta.
– Não, não o aceitarei.
Devolverei a quantia, pois não quero ser uma colaboradora mercenária.
No dia seguinte, enviei à casa da
Srta. Summers uma pessoa de toda a minha confiança, a qual me confirmou tudo o
que havia sido escrito mediunicamente. Aconteceu, porém, que quando a Srta.
Summer soube que eu me havia inteirado de suas dificuldades econômicas, teve um
grande desgosto.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
179. Pelo caso exposto, vê-se que
nas experiências em exame não pode tratar-se de clarividência telepática, mas
de verdadeiro diálogo entre duas personalidades subconscientes. Observe-se que,
quando Stead disse: “Mandar-lhe-ei o que lhe faz falta”, a Srta. Summers
respondeu: “Não, não o aceitarei”, resposta que implica uma ação dialogada no
presente, e de nenhuma forma uma seleção de recordações latentes na
subconsciência alheia. E, como o diálogo se mostrou verídico, não é o caso de
invocar a hipótese das chamadas “novelas subliminais” ou subconscientes. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
180. O caso que segue se deu
entre Stead e seu próprio filho, quando se achava no Reno, em viagem de
recreio. Escreve o pai:
“Meu filho levava consigo uma
Kodak e, como com frequência acontece, ficou sem chapas, de maneira que nos
escreveu pedindo-as. Fi-las enviar e, quando já haviam transcorrido os dias
necessários para o seu recebimento, interroguei-o mediunicamente, respondendo
ele que as esperava com impaciência, pois não haviam chegado. Pedi informações
e disseram-me que as chapas tinham sido enviadas. Porém, dois dias após, meu
filho escreveu por minha mão: ‘Por que não me remete as chapas?’ Informei-me
mais uma vez e soube mais uma vez que as chapas tinham sido expedidas havia já
uma semana. Deduzi que minha mão estava sendo influenciada por interferências
subconscientes e não quis provocar novos ditados de meu filho. Quando, porém,
voltei para casa, soube com espanto que as chapas não tinham chegado ao seu
destino e que as duas perguntas impacientes ditadas, em seu nome, pela minha
mão em Wimbledon, correspondiam exatamente ao estado de ânimo de meu filho,
quando se encontrava em Boppart.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
181. No caso exposto, e do ponto
de vista da autenticidade das comunicações mediúnicas entre vivos, é
interessante a circunstância de que Stead tinha a certeza de que as chapas
fotográficas já haviam sido expedidas, certeza esta irreconciliável com a hipótese
de uma mistificação subconsciente, pois em tal caso o pai devia ter-se
sugestionado no sentido da própria certeza e provocar uma resposta conforme a
mesma e, ao contrário, como a realidade era outra, a resposta do filho vinha de
acordo com a realidade, a qual confirma que realmente existia o diálogo
mediúnico. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
182. O episódio seguinte se deu
com uma pessoa que ignorava o fato de William Stead fazer experiências de
comunicação mediúnica entre vivos, não havendo com a mesma laços especiais de
família ou de simpatia. Escreve ele:
“Poder-se-ia objetar que meu
filho ou a Srta. Summers sabiam que eu tencionava fazê-los escrever com a minha
mão, porém não se pode dizer o mesmo no caso seguinte, em que se trata de uma
senhora estranha e com a qual eu só havia falado uma vez.
Há alguns meses eu me achava em
Redcar, no norte da Inglaterra, e fui à estação esperar a referida senhora,
colaboradora da Review of Reviews, que me havia escrito informando que
chegaria ali pelas três da tarde.
Eu era hóspede de meu irmão, cuja
casa se encontrava a uns dez minutos da estação. Quando faltavam cerca de vinte
minutos para as três, pensei que, com a expressão “ali pelas três da tarde”,
aquela senhora queria significar algum tempo antes da hora indicada e, como não
tinha no momento um guia de horário das estradas de ferro, dirigi meu
pensamento para a senhora, pedindo que me informasse, por intermédio de minha
mão, a hora precisa da chegada do trem. É preciso notar que era a primeira vez
que eu tentava a experiência com ela, e a resposta veio logo, dizendo que o
trem chegaria às três menos dez. Não havia tempo a perder, porém, antes de sair
de casa, quis saber em que estação se achava ela naquele momento. Minha mão
escreveu:
– Neste momento o trem entra na
curva antes da estação de Redcar. Dentro de um minuto chegaremos.
Perguntei ainda:
– Por que tanto atraso?
– Não sei por quê. Deteve-se
muito na estação de Middlesbourough.
Guardei o papel e fui para a
plataforma; o trem aparecia. Quando a senhora desceu, perguntei-lhe:
– Por que tanto atraso?
– Ignoro o motivo. O trem se
deteve muito na estação de Middlesborough – respondeu-me.
Então eu lhe dei o papel para
ler. Ela confirmou tudo o que eu havia escrito, acrescentando que não tinha
nenhuma lembrança de ter sido interrogada telepaticamente por mim, nem de haver
respondido.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
183. No episódio narrado fica bem
clara a autenticidade do fenômeno de comunicação entre vivos, como também de se
haver desenrolado uma conversa verdadeira e própria, entre duas personalidades
espirituais subconscientes. O episódio torna oportuna uma discussão ulterior
para esclarecimento do asserto de que, quando uma pessoa entra em relação
psíquica e conversa mediúnica com outra pessoa distante, deve necessariamente
cair em sonolência notória ou disfarçada. De fato, no caso em apreço, nota-se
que a amiga de William Stead teve de responder às suas perguntas em dois tempos
diversos e que em ambas as vezes o fez imediatamente. Surgem, portanto, os
seguintes quesitos: “É lícito admitir-se essa rapidez na passagem do estado
normal à condição de inconsciência e vice-versa?” Parece que sim. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
184. Durante a conferência de
Stead em The London Spiritualist Alliance, foram formulados tais
quesitos, e o Rev. G. W. Allen narrou, a propósito, o seguinte incidente
pessoal que tende a demonstrar essa possibilidade:
“Tinham de extrair-me dois dentes
molares e fui aconselhado a submeter-me à ação do clorofórmio. Eu me achava em
estado de convalescença de grave enfermidade e sob a suspeita de que, em tal
estado de saúde, o clorofórmio me faria mal, tornava-me um tanto hesitante.
Quando começaram a aplicar-me o anestésico, fui tomado de um grande pânico e
tirei a máscara, exclamando: ‘Não aguento, não quero tomá-lo’. O médico que me
estava cloroformizando disse-me: ‘Fez muitíssimo mal em retirar a máscara,
porque estava a ponto de adormecer. Experimente de novo e lhe garanto que tudo
correrá bem’. Igualmente, a enfermeira, por sua vez, também me animava e por
isso me decidi a submeter-me à prova, mesmo com o risco de sucumbir.
Ajustaram-me de novo a máscara e respirei profundamente algumas vezes, depois
levantei-me de um salto e sentei-me no leito, exclamando: ‘É inútil tentar a
prova. Não posso adormecer’. O doutor disse-me: ‘Faça o favor de lavar a boca
com esta solução’. Perguntei-lhe: ‘Por quê?’ Acrescentou ele: ‘Porque já lhe
extraímos os dentes!’ Pois bem, eu teria jurado por qualquer tribunal de
justiça que não havia perdido a consciência um só momento. E, ao contrário,
tinha ficado inconsciente o tempo preciso para me extraírem dois dentes. Assim
sendo, não é perfeitamente admissível que se possa realmente passar a outra
condição de existência por um tempo mais ou menos curto, sem disso conservar
recordação alguma?” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C) (Continua no
próximo número.)
Respostas às questões
preliminares
A. Os fatos apoiam a tese de que nas manifestações
mediúnicas entre vivos ocorre, de fato, uma conversa entre duas personalidades
espirituais subconscientes?
Claro. Bozzano apresenta neste livro inúmeros casos, todos
comprovados, nos quais é evidente que em um número enorme de fenômenos a
conversa gira em torno de assuntos ou ocorrências atuais, e não sobre fatos
registrados no passado. William Stead contribuiu de forma notável com suas
experiências para a comprovação dessa tese. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
B. Que diz Bozzano sobre a outra explicação, que não admite
a conversa, mas sim a coleta de certas informações por meio de uma clarividência
telepática especial do sensitivo?
Bozzano afirma que tal explicação é puramente fantástica e
cientificamente insustentável, porque destituída de qualquer fundamento na
prática, ou seja, ela não se apoia em fatos, como os exemplos mostrados neste
livro comprovam de forma cabal. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
C. Nas comunicações entre vivos, o comunicante encarnado,
vendo depois a mensagem psicografada pelo médium, costuma lembrar-se de tê-la
escrito?
Muitos fatos descritos nesta obra mostram que não. Ele
confirma o que está escrito, as informações que ali estão grafadas, mas não se
recorda de haver escrito a mensagem. Pelo menos, na maioria dos casos. É como
ocorre nos sonhos, cujo conteúdo nem sempre lembramos, porque se dão durante o
sono corpóreo, e não no estado de vigília. O caso que se passou com William
Stead em Redcar, no norte da Inglaterra, quando ele foi recepcionar uma
senhora, colaboradora da Review of Reviews, mostra exatamente isso. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
Observação:
Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/04/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos.html
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