Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 13
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1867 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Como se explicam os pressentimentos?
B. Nas curas espirituais, como as que o zuavo Jacob
realizava, a confiança do enfermo é fator importante?
C. Qual é o objetivo essencial do Espiritismo?
Texto para leitura
165. Analisando os fatos contidos na
reportagem mencionada na Revista, Kardec observa que neles se viam duas coisas
bem distintas: os pressentimentos e os fenômenos considerados como prognósticos
de acontecimentos futuros. (Pág. 342.)
166. Não se podem negar os pressentimentos,
dos quais – diz Kardec – há poucas pessoas que não tenham tido exemplos. Os
pressentimentos se explicam pelo desprendimento da alma: é preciso que “algo se
desprenda de nós, veja e entenda o que não podemos perceber pelos olhos e pelos
ouvidos”. “É sobretudo nos momentos em que o corpo repousa, durante o sono, que
o Espírito, aproveitando o descanso que lhe deixa o cuidado de seu invólucro,
em parte recobra a liberdade e vai colher no espaço, entre outros Espíritos,
encarnados como ele, ou desencarnados, e no que vê, ideias cuja intuição traz
ao despertar.” (Págs. 342 e 343.)
167. Essa emancipação da alma dá-se, por
vezes, no estado de vigília, nos momentos de absorção, de meditação ou
devaneio. Ocorre, sobretudo, de maneira mais efetiva e mais ostensiva nas
pessoas dotadas de dupla vista ou visão espiritual. Os pressentimentos têm,
pois, a sua razão de ser e encontram a sua explicação natural na vida
espiritual, que não cessamos um instante de viver, porque é a vida normal.
(Pág. 343.)
168. Já não se dá o mesmo com os fenômenos
físicos, tidos como prognósticos de acontecimentos felizes ou infelizes,
porque, em geral, esses fenômenos não têm nenhuma ligação com as coisas que
parecem pressagiar. É, pois, um absurdo crer em prognósticos fundamentados em
fenômenos dessa ordem. (Págs. 343 e 344.)
169. Em novo artigo sobre o zuavo Jacob e
suas curas, Kardec faz uma série de considerações que adiante resumimos: I –
Acusar o Sr. Jacob de charlatão era uma bobagem, porque seu desinteresse
material era um fato notório: Jacob nada pedia e nada aceitava, nem mesmo agradecimentos,
das pessoas que atendia. II – O Sr. Jacob não curava todas as doenças; além
disso, de dois indivíduos feridos pelo mesmo mal, muitas vezes curava um e nada
conseguia fazer pelo outro. III – As curas obtidas pelo zuavo não representavam
uma volta à era dos milagres, porque nelas nada havia de sobrenatural nem de
miraculoso. Jacob era, tão-somente, dotado de um poder fluídico que,
independentemente de sua vontade, podia curar certas doenças, sem que ele mesmo
soubesse por quê. IV – A cura era obtida sem emprego de remédios; resultava,
pois, de uma influência oculta, porque o Sr. Jacob não dava passes nem tocava
os doentes. (Págs. 344 a 346.)
170. A crítica, informa o Codificador do
Espiritismo, não poupou o zuavo Jacob. Como lhe faltassem boas razões, ela
prodigalizou-lhe troças e injúrias grosseiras, mas nada disso o atingiu.
Desprezando umas e outras, o Sr. Jacob demonstrou a todos a sua moderação.
(Pág. 347.)
171. Alguns chegaram a solicitar sua prisão,
como impostor que abusava da credulidade pública. Ora, impostor é o que promete
e não cumpre. Jacob nunca prometeu nada. Que lhe podiam imputar? Que artigos da
lei ele infligia? Como o zuavo não exercia a medicina, nem mesmo de forma
ostensiva o magnetismo, existia alguma lei que proibisse curar as pessoas
olhando-as? (Pág. 347.)
172. Um fato interessante ocorrido com o Sr.
Jacob é também examinado por Kardec. O zuavo recusou ir curar pessoas internas
num hospital, sob as vistas de pessoas capacitadas a apreciar a realidade de
suas curas. Duas razões – adverte Kardec – devem ter motivado sua recusa.
Primeiro: a oferta que lhe fizeram não foi ditada pela simpatia; era mais um
desafio que lhe propunham. Segundo: existem circunstâncias que podem favorecer
ou paralisar a ação fluídica. Jacob deveria saber disso. Quando rodeado de
enfermos que o buscavam voluntariamente, a confiança deles os predispunha à
cura. Não existindo essa confiança, o meio não favoreceria o tratamento. (Pág.
348.)
173. O erro dos senhores que lhe propuseram
esse desafio foi crer que fenômenos dessa espécie possam ser manobrados à
vontade. Mas as curas desse gênero são espontâneas, imprevistas e não podem ser
premeditadas nem postas em concurso. Jacob estava, pois, certo em não atender o
pedido. (Pág. 349.)
174. Na seção de livros novos, a Revista
focaliza o livro A Razão do Espiritismo, escrito por Miguel Bonnamy,
sobre o qual o Codificador fez as seguintes considerações: I – Esta é a
primeira publicação em que a filosofia espírita é encarada em todas as suas
partes e em toda a sua altura. II – Seu autor não se limita a emitir sua
opinião: ele a motiva e dá a razão de ser de cada coisa. III – O ponto de vista
em que ele se colocou é principalmente o das consequências filosóficas, morais
e religiosas, que constituem o objetivo essencial do Espiritismo e dele faz uma
obra humanitária. (Págs. 349 a 354.)
175. Depois de transcrever alguns trechos da
obra, Kardec acrescentou: “O Sr. Bonnamy já é conhecido de nossos leitores, que
puderam apreciar a firmeza, a sua independência de caráter e a elevação de seus
sentimentos, pela notável carta que publicamos na Revista de março de 1866, no
artigo intitulado: O Espiritismo e a Magistratura. Ele vem hoje, por um
trabalho de alto alcance, prestar resolutamente o apoio e a autoridade de seu
nome a uma causa que, na sua consciência, considera como a da Humanidade (Pág.
357.)
176. Dito isso, Kardec lembra que, entre os
adeptos numerosos que o Espiritismo contava na magistratura, o Sr. Bonnamy,
juiz de instrução em Villeneuve-sur-Lot, e o Sr. Jaubert, vice-presidente do
tribunal de Carcassone, foram os primeiros que abertamente arvoraram a bandeira
espírita. “Os espíritas atuais e os do futuro saberão apreciá-lo e não o
esquecerão”, concluiu o Codificador. (Pág. 357.)
177. Duas notas encerram o número de novembro
de 1867: I – A notícia do lançamento do último livro de Kardec, “A Gênese, os
Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, previsto para dezembro. II – O
aviso de que a Revista não tomaria em consideração as cartas recebidas sem
assinatura, sem endereço certo ou com remetente desconhecido. Tais cartas, diz
o aviso, “são postas na cesta”. (N.R.: O livro “A Gênese” acabou circulando
apenas em janeiro do ano seguinte, e não em dezembro de 1867.) (Pág. 358.)
178. Com o título O homem antes da
História, a Revista de dezembro transcreve artigo assinado pelo Sr. Camille
Flammarion, em que ele trata da ancianidade da raça humana. Eis algumas informações
interessantes extraídas do artigo: I – O alimento dos homens primitivos era
muito variado. O Sr. Flourens entende que eles se nutriam exclusivamente de
frutos, mas a verdade é que, desde o começo, o homem foi onívoro. II – Todas as
carnes eram comidas cruas e fumegantes. III – Os selvagens primitivos não eram
todos nus. Os primeiros habitantes das latitudes boreais, da Dinamarca, e da
Gália e da Helvécia, se protegiam do frio com peles e forros. IV – A
coqueteria, o amor pelo enfeite, os ornamentos não são de agora. V – Os mortos
eram colocados nos sepulcros em atitude agachada, com os joelhos quase em
contacto com o queixo, os braços cruzados sobre o peito e aproximados da
cabeça, como é a posição da criança no seio materno. VI – Os homens nunca se
entenderam sobre a data da criação, sobre o que já haviam sido formuladas, até
então, 140 opiniões diferentes. VII – Do ponto de vista geológico, o último
período da história da Terra, o período quaternário, que dura até hoje, foi
dividido em três fases: a fase diluviana, durante a qual houve imensas
inundações parciais na Terra; a fase glaciária, caracterizada pela formação de
geleiras e por um maior resfriamento do globo; e a fase moderna. VIII – O homem
existe no mundo desde a primeira dessas fases, em que reinava uma natureza
muito diferente e outros tipos de plantas e animais existiam na superfície do
solo e nos mares. (Págs. 359 a 362.)
179. A Revista reproduz interessante relato
publicado a 6/11/1867 pelo jornal La Liberté, a respeito de uma viagem do
Sr. Victor Hugo à Holanda. O relato refere um caso moderno de ressurreição em
que um homem, o Sr. D..., um dos melhores advogados da Holanda, depois de ter
sido dado como morto, voltou a respirar. A explicação que o Sr. Victor Hugo deu
para o fato foi muito elogiada por Kardec. (Pág. 363 a 366.)
Respostas às questões propostas
A. Como se explicam os pressentimentos?
Os pressentimentos se explicam pelo
desprendimento da alma. Segundo Kardec, é preciso que “algo se desprenda de
nós, veja e entenda o que não podemos perceber pelos olhos e pelos ouvidos”.
“É, sobretudo, nos momentos em que o corpo repousa, durante o sono, que o
Espírito, aproveitando o descanso que lhe deixa o cuidado de seu invólucro, em
parte recobra a liberdade e vai colher no espaço, entre outros Espíritos,
encarnados como ele, ou desencarnados, e no que vê, ideias cuja intuição traz
ao despertar.” Essa emancipação da alma dá-se, por vezes, no estado de vigília,
nos momentos de absorção, de meditação ou devaneio, e ocorre, sobretudo, de
maneira mais efetiva e mais ostensiva nas pessoas dotadas de dupla vista ou
visão espiritual. (Revista Espírita de 1867, pp. 342 e 343.)
B. Nas curas espirituais, como as que o zuavo
Jacob realizava, a confiança do enfermo é fator importante?
Sim. Existem circunstâncias que podem
favorecer ou paralisar a ação fluídica e o zuavo Jacob certamente sabia disso.
Quando rodeado de enfermos que o buscavam voluntariamente, a confiança deles os
predispunha à cura. Não existindo essa confiança, o meio não favoreceria o
tratamento. É um erro crer que fenômenos dessa espécie possam ser manobrados à
vontade. As curas desse gênero são espontâneas, imprevistas e não podem ser
premeditadas nem postas em concurso. (Obra citada, pp. 348 e 349.)
C. Qual é o objetivo
essencial do Espiritismo?
Suas
consequências filosóficas, morais e religiosas, eis o que constitui o objetivo
essencial do Espiritismo e dele faz uma obra humanitária. Estas palavras foram
escritas por Kardec em seus comentários acerca do livro A Razão do
Espiritismo, escrito
por Miguel Bonnamy, a primeira publicação em que a filosofia espírita foi
encarada em todas as suas partes e em toda a sua altura. (Obra citada, pp. 349
a 354.)
Observação:
Para acessar a Parte 12 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/02/revista-espirita-de-1867-allan-kardec.html
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